Otimismo pela definição de mais 15 indenizações e apreensão pela reabertura do Ninho do Urubu. O Flamengo reiniciou as atividades das categorias de base nesta semana, e a proximidade das famílias dos sobreviventes da tragédia de 8 de fevereiro serviu também para encaminhar acordos judiciais. Mais do que isso, o grupo se tornou uma espécie de aliado do clube pela reabertura do CT.
Com o impedimento da utilização das instalações para crianças e adolescentes, os garotos estão sem alojamento e o clube disponibilizou um hotel no Recreio dos Bandeirantes por uma semana. Caso o Ninho não seja liberado neste período, quem não tem residência no Rio de Janeiro será liberado para voltar para suas cidades de origem.
A situação tem causado apreensão nos atletas e familiares, uma vez que a continuidade no Rubro-Negro estará em risco. Internamente, porém, há otimismo quanto a solução dos problemas no CT no prazo determinado.
Pai reclama do MP e diz que corre risco de perder emprego
Francisco, pai do goleiro Francisco Dyogo, disse que o Ministério Público ordenou a presença de ao menos um responsável legal de cada atleta no Rio de Janeiro, o que tem gerado problemas para as famílias. Principalmente por causa da impossibilidade de prever quando os jogadores poderão ficar alojados no Ninho.
– No meu caso, que venho de Fortaleza, está muito difícil. Não posso interromper o sonho do meu filho, e não tenho quem fique com ele no Rio. O MP só permite pai, mãe, avô ou avó. Eu e minha mulher trabalhamos. Se isso continuar, vou perder meu emprego para ficar com ele aqui. O que está mais complicado é que não temos previsão. Pode durar uma semana, um mês, seis meses… Estou muito apreensivo – desabafou Francisco em contato com o site Globo Esporte.
Na apresentação feita para as famílias na segunda-feira, os parentes ficaram com boa impressão da estrutura que será disponibilizada para a base – até o ano passado utilizada pelos profissionais.
– Nós tivemos uma palestra em que o Flamengo nos mostrou toda a nova estrutura. Pelas imagens, é muito bonito. Um hotel de quatro, cinco estrelas. Não vejo problemas de irem ficar alojados lá – disse Francisco.
Caso a proibição de alojamento no Ninho continue por mais tempo, entre os pais já existe a sensação de que alguns atletas vão acabar optando por buscar outro clube, principalmente os que são de fora do Rio.
– Algumas famílias comentaram sobre isso. No caso do meu filho, já houve proposta do Ceará, na nossa cidade. Mas esses meninos são apaixonados pelo Flamengo, querem realizar o sonho pelo Flamengo. Além disso, pretendem honrar os amigos deles. Para que meu filho consiga, vou ter que abrir mão do meu emprego – afirmou o pai de Francisco Dyogo.
Situação das indenizações:
- 1 acordo definido sobre vítima fatal
- 13 acordos encaminhados sobre sobreviventes sem ferimentos
- 2 acordos encaminhados sobre sobreviventes feridos
- 9 negociações em andamento com famílias de vítimas fatais
- 1 sobrevivente ainda internado (foco está na recuperação plena de Jhonata antes de negociação)
Há expectativa a respeito do parecer do Juizado da Infância, da Juventude e do Idoso. O clube acredita que com o Alvará de Funcionamento e o Habite-se em mãos, o CT estará liberado para utilização sem restrições. Mas além da interdição total precisa revogar a proibição da presença de menores de 18 anos.
O bom relacionamento permitiu ainda que o Flamengo avançasse consideravelmente nos acordos com os envolvidos na tragédia. Ao todo, foram 13 jovens que escaparam sem ferimentos do incêndio. As negociações com o grupo são individuais, mas similares e a solução das indenizações depende de questões burocráticas para colocar no papel.
O mesmo vale para as situações de Cauan e Francisco Dyogo. Vítimas que precisaram de atendimento médico e internação após o incêndio, os dois já se reapresentaram e também estão próximos de um acordo indenizatório. Com isso, o Flamengo resolve 15 dos 26 casos a serem discutidos.
Além dos 15 já citados, o clube já entrou em acordo com uma das dez famílias que tiveram vítimas fatais naquela madrugada de sexta-feira. O nome da vítima, por sua vez, é mantido em sigilo por questões de segurança.
Nesta terça, representantes de Victor Izaias e Bernardo Pisetta se encontraram com o diretor jurídico do Flamengo, Bernardo Accioly, no Rio de Janeiro. No encontro, solicitaram novos valores – menores do que os R$ 2 milhões estipulados pelo Ministério Público -, mas o clube não topou. De qualquer forma, as partes deixaram a reunião otimistas. Para o advogado Thiago d’Ivanenko, houve avanço. Os familiares de retornaram a Santa Catarina, mas as tratativas seguem.
Com isso, sobrariam sete vítimas fatais, além de Jhonata Ventura. A situação do zagueiro, entretanto, é tratada sem pressa, uma vez que a prioridade é a recuperação das queimaduras nas mãos e no antebraço. O jovem é o único que segue internado. Nas redes sociais, o garoto manifestou também nesta terça o desejo de seguir no clube e garantiu que voltará a jogar futebol.
Com o relacionamento com as famílias evoluindo bem, o Flamengo corre para regularizar o Ninho do Urubu e evitar novos problemas no futuro.
Retirado de: Globo Esporte