Estamos acostumados a ver o estrelato e o sucesso no futebol, jogadores com muito dinheiro, vivendo vidas luxuosas com fama.
Mas, do outro lado da moeda, tem inúmeros jogadores que iniciaram uma carreira de sucesso mas se viram no fundo do poço precisando recomeçar.
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Isso foi o que aconteceu com Patrick Cruz, ex-jogador do São Paulo e do Corinthians, que foi até o fundo do poço antes de recomeçar sua carreira.
Em entrevista exclusiva ao GE, Patrick contou sobre sua história de vida. Hoje, com 32 anos, ele defende a equipe do Pattaya United, da segunda divisão da Tailândia.
Dentre sua vida futebolística, ele jogou na Indonésia, na Malásia, na Rússia, no Vietnã e em Malta. Patrick esteve no São Paulo de Casemiro e Rodrigo Caio, passou pelo Corinthians de Sheik e Guerrer, mas por gastar todo o dinheiro, se viu em uma situação que nenhum jogador de futebol quer passar:
“Eu tive tudo e perdi tudo. Inclusive fiquei devendo muito dinheiro para minha mãe, que foi a que mais me avisou. Eu não consegui guardar nada. Trocava de carro, sempre comprava roupa, vivia para lá, para cá, viajando, fazendo isso, fazendo aquilo”, disse.
“Isso realmente me atrapalhou muito, porque quando a gente é novo e tem muito dinheiro, você acha que ele vai acabar? Nunca. E aí uma hora que o contrato acabou, tudo acabou”.
Ao GE, Patrick relembrou o momento de dificuldade, após perder tudo na base, em meio a festas, baladas e muito dinheiro gasto. Ele precisou se afastar para trabalhar no ramo da família.
“Eles me ofereceram um contrato, o mesmo contrato que o Lucas, o Casemiro e o Rodrigo Caio tinham. O contrato do Parma era melhor, só que por estarem me colocando no mesmo nível desses jogadores, que eu tinha certeza que iam jogar pelo São Paulo, eu decidi ficar. Meu sonho era jogar no Brasil, representar a Seleção Brasileira. Eu resolvi ficar pela consideração que eles tiveram comigo de me colocar nessa prateleira dos meninos, de tão diferenciados que eles eram”, iniciou.
Quando saiu da base do São Paulo para disputar posição com Sheik, Guerrero e Romarinho no Corinthians, Patrick relembra a mistura do futebol com as bebidas na noite paulistana e ainda o namoro com a Bárbara Evans:
“Eu me prejudiquei muito, muito mesmo, por causa de fama, de noite, de querer fazer coisas que estavam disponíveis para mim, mas que não eram para aquele momento, aquela hora. Eu atropelei um pouco as coisas, primeiro porque eu tinha um contrato muito bom, e quando a gente é jovem com contrato muito alto, você acha que nunca vai acabar o dinheiro. Você acha que todo mês você vai ter aquele dinheiro. Então eu poderia estar ganhando R$ 50 mil, que eu ia gastar os R$ 50 mil, eu poderia estar ganhando R$ 100 mil que eu ia gastar os R$ 100 mil. Todo mês eu acabava com zero reais”, iniciou.
Ele também diz que sempre gastou muito com roupas que ele jamais usou, dava dinheiro aos amigos e acreditava sempre que no próximo mês teria mais:
“Teve uma época que eu abria meu guarda-roupa e via tanta camisa, tanta roupa nova, com etiqueta que eu nunca usei na minha vida. Ia para muita festa. Eu comprava, gastava dinheiro, falava “no mês que vem vai ter de novo.” Vou comprar, vou dar roupa para os meus amigos”.
“Eu sempre gastava com besteira. Minha mãe sempre me falava: “filho, não é hora de você estar passando a carroça na frente dos bois. Guarda seu dinheiro, constrói a sua casa, compra suas coisas, compra o seu carro, faz suas coisas. Depois, quando tudo der certo, se não vier um contrato melhor, você faz isso. Mas você tem 18 anos, faz o que você quiser, porque você vai aprender com os seus erros também”.
O recomeço de Patrick Cruz
Após uma cirurgia de apendicite, Patrick decidiu não ficar no Corinthians, se viu sem dinheiro e passou a fazer testes em equipes asiáticas:
“Meu tio que pagou tudo da viagem, e nós fomos em seis meninos para Dubai. A gente passou fome, a gente passou frio, a gente passou um monte de coisa. Tem fotos minhas, da gente fazendo arroz com tampa de gaveta, comendo com caixa de papelão rasgada, comendo arroz com bolacha, ketchup. Aí eu falei: ‘cara, se não for pra dar, se for pra dar certo, eu vou, mas se não for pra dar certo é a minha última. Eu não vou ficar mais gastando dinheiro dos outros'”.
Para pagar as dívidas com pai e mãe, ele aceitou um emprego na fábrica de sacos da família, enquanto conciliava o trabalho com os estudos de Engenharia ao desistir do futebol:
“Fiquei trabalhando por seis meses. Eu acordava às 6h da manhã, entrava no serviço às 7h. Aí tinha que levar a marmita, porque a gente ia almoçar lá. Ficava de 7h ao meio-dia, depois era o nosso horário de almoço, então a gente comia rapidinho. Dava uma cochilada em cima das bags [sacolas] mesmo. Não tinha tempo para treinar, porque às 18h eu tinha que ir para a faculdade. O que a gente conseguia fazer era correr até em casa. A gente ia de bota, de calça para trabalhar, tinha capacete de proteção, máscara. A gente só tirava a camisa e colocava nas costas, juntava a marmita debaixo do braço e ia até em casa correndo, dava uns 2 km”.
Sucesso e retorno ao futebol:
Aos 23 anos, Patrick ressurgiu no Mitra Kukar sendo artilheiro da Copa Surdiman da Indonésia, primeiro título da história do clube:
“O time nunca tinha ganhado nada na história. A final foi em um estádio com mais de 65 mil pessoas e mais 30 mil pessoas fora, que não conseguiram entrar. Dois meses antes, eu estava trabalhando na fábrica, cortando alça, conversando com Deus. Dois meses depois eu estava jogando uma final em um lugar do tamanho do Maracanã”.
Patrick diz que começou a valorizar mais a vida ao apanhar de 40 pessoas ao lado do irmão em uma festa na Tailândia:
“Juntaram mais ou menos umas 30, 40 pessoas contra nós dois. Foi paulada para cima e para baixo, bateram na gente, e nessa quase que a gente morreu mesmo, porque eu abri a cabeça, meu irmão quebrou os dois braços, e a gente teve que nadar quase 1 km para poder sobreviver. A gente começou a nadar por um ponto azul que estava piscando, que era um barco a quase 1 km de distância. Ali ainda era área de tubarão”.
“Foi ali que eu realmente entendi que na vida, o importante não é só o dinheiro, o importante não é só os 90 minutos, a bola rolando dentro de campo, o importante é a nossa família. Eu tinha me desligado um pouco em relação a isso”