A declaração de Romário envolvendo o Flamengo

Romário pede silêncio aos rivais após marcar um gol com a camisa do Flamengo (Foto: Divulgação)

Um marco histórico do futebol brasileiro completa 30 anos nesta terça-feira, dia 14 de janeiro. Nesta mesma data, no ano de 1994, Romário deixava Barcelona para retornar ao Brasil e se tornar jogador do Flamengo – às vésperas de ser eleito o melhor jogador do mundo daquela temporada pela Fifa. A contratação figura como das mais – senão a mais – emblemática de um clube brasileiro, e o atacante garante que faria tudo de novo.

O Flamengo precisou superar fatores quase inatingíveis para contar com Romário àquela época, desde cifras altíssimas aos concorrentes. Afinal, tratava-se do melhor jogador em atividade no mundo e por isso que a transação custou 4,5 milhões de dólares, mais tributos. Uma quantia bastante elevada para os padrões.

A chegada ao Rubro-Negro também dependeu de muito esforço do atacante, visto que receberia menos dinheiro que os padrões europeus. Mas se a questão financeira não foi impedimento à época, quem dirá do ponto de vista atual.

“Vou te falar a verdade, depois de 30 anos, olhando para trás, eu não faria diferente. Eu troquei a minha possibilidade de ganhar mais dinheiro para ser mais feliz. E consegui”, disse Romário à Globo.

Estratégia para assinar com o Flamengo

Como dito, o acordo seguiu pela contramão da trivialidade. Nada, além do desejo das partes, foi simples. A ambição de Romário surgiu quando percebeu a idolatria do torcedor brasileiro durante um período de férias no Brasil.

A partir disso, o Baixinho colocou na cabeça que queria retornar ao Brasil e revelou ‘seu plano’ ao jornalista Gilmar Mendes. O comunicador entrou em contato com Kleber Leite – um dos candidatos à presidência do Flamengo.

“O Romário me ligou, falou que queria voltar ao Brasil e que tinha um plano. Esse plano se dava de forma muito bem construída e engenhosa na cabeça dele. Ele tinha um milhão (de dólares) do patrocinador esportivo dele, um milhão de uma empresa de refrigerante que o patrocinava, um milhão do governo do Rio de Janeiro, do qual seria o maior garoto-propaganda, na cabeça dele, e o clube que o contratasse precisaria colocar mais 1,5 milhão”, iniciou Gilmar.

“Em 1994, um dólar valia um real. Eu falei: “Não tem problema, mas o único clube que vai ter condição de te contratar é o São Paulo”. Ele disse: “Mas não tenho parente em São Paulo, quero voltar para o Rio de Janeiro”, contou.

A negociação só se tornou viável a partir do envolvimento de cinco parceiros: Umbro, então fornecedora de material esportivo do Flamengo, Banco Real, BarraShopping, Brahma e a prefeitura do Rio.

“Eu vim atrás de ser feliz. Sabia da minha responsabilidade de vestir a camisa do Flamengo. Quando se fala do Flamengo, não tem como não falar do Zico, hoje do Gabigol, do Arrascaeta, lá atrás de Zico, Nunes, Leandro, Júnior, essa galera que deu uma cara ao Flamengo diferente, mas também sei da minha importância de ter vestido essa camisa, da honra que tive. Fui muito feliz no Flamengo. Com certeza, isso não tenho como negar. Eu tenho essa história para contar”, disse o Baixinho.

Idolatria no Brasil

O carinho recebido em sua terra Natal mexeu com as emoções e fez com que o Baixinho não cogitasse outra possibilidade senão retornar ao Brasil. Sua esposa na época, Monica Santoro, foi testemunha do posicionamento irredutível do astro.

“Desde que fui morar na Holanda, a minha ideia era criar os filhos na Europa o quanto desse. Mas foi muito curto, principalmente em Barcelona. Tinha a perspectiva de uma vida mais tranquila fora do Brasil. Acho que ele viveu ali (no Flamengo) como um grande ídolo, recebeu mais de perto esse retorno de toda a carreira dele”, e prosseguiu:

“Acho que ele estava mais nervoso pela situação da separação, com mais polêmica por outros lados, de mais confusão, mas acredito que foi muito feliz, principalmente vestindo a camisa do Flamengo. Com certeza, realizou um sonho dele”.