A declaração de Roger Machado direcionada a Luighi, do Palmeiras

Luighi pelo Palmeiras (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

A voz de Roger Machado se faz – ainda mais – ouvida na luta antirracista como único técnico negro na Elite do futebol brasileiro. Forte nome na busca por liberdade, o treinador do Internacional abraçou o atacante Luighi, vítima de racismo na Libertadores Sub-20, por meio de suas palavras e do gesto no clássico da semana passada, na Arena do Grêmio.

Roger abriu mão do tradicional uniforme da comissão técnica colorada para vestir-se com uma camisa preta, com escudo do Inter estilizado com um punho erguido para o alto – o gesto da luta antirracista. Esse foi o meio que o treinador encontrou de não só enfatizar sua voz, mas de apresentar-se como aliado de Luighi na luta.

“Usei a camisa no primeiro Gre-Nal em solidariedade a ele (Luighi) e a tudo que ele sofreu. Penso que, na lucidez de sua pouca idade, a maturidade de um menino que se debulhava em lágrimas pelo crime cometido contra ele, deu uma das maiores declarações de lucidez dos últimos anos. Me marcou muito ele mencionar que, além de todo o processo envolvido, ali era formação, eles estavam aprendendo. De que forma vão aprender tudo isso?”, questionou Roger.

Postura da Conmebol

O técnico fez quórum às reclamações do Palmeiras quanto ao posicionamento da Conmebol diante do ocorrido. Para Roger, bem como para o Alviverde e CBF, tratam-se de punições extremamente brandas para um episódio tão sério e recorrente.

“Me custa pensar que a punição para o caso tenha sido tão branda. Se espera que o esporte eduque a sociedade, nós que estamos do lado de cá passemos boas mensagens para fora, sendo que de fora não vem coisas boas. De novo, futebol para mim é o extrato da sociedade. Não só no Brasil, é no mundo inteiro. Há casos que se repetem com uma frequência muito grande e não há uma punição exemplar para que as coisas mudem de patamar. Mas a gente segue na luta”, completou o técnico.

“Dor na alma”

ítima de racismo no Paraguai, o atacante Luighi falou sobre a “dor na alma” que sentiu naquela noite de quinta-feira no Estádio Gunther Vogel, no Paraguai. O jogador de 18 anos defende o Palmeiras e estava disputando a segunda rodada da fase de grupos da Libertadores Sub-20 quando se tornou alvo de injúrias raciais oriundas das arquibancadas. 

“Dói na alma. A mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas. O episódio de hoje deixa cicatrizes e precisa ser encarado como é de fato: crime. Até quando? É a pergunta que espero não ser necessária ser feita em algum momento. Por enquanto, seguimos lutando”, escreveu

Punições ao Cerro Porteño

Além da multa financeira, no valor de 50 mil dólares (cerca de R$ 288 mil) a serem pagos no prazo de 30 dias a partir da notificação, o clube paraguaio também terá que concluir sua participação na Libertadores Sub-20 com os portões fechados. A Conmebol ainda determinou que o Cerro publique “uma campanha de comunicação de conscientização contra o racismo” nas redes sociais.

A entidade máxima do futebol sul-americano também comunicou a suspensão do árbitro da partida, o peruano Augusto Menendez, por dois jogos.