Vídeo: trecho de coletiva de Ramón Díaz viraliza: ‘Constrangedor’

Mauro Cezar, comentarista da UOL Esporte (Foto: Reprodução/UOL Esporte)

A entrevista coletiva do técnico Ramón Díaz, após a vitória do Corinthians por 2 a 0 sobre o Vasco, na noite de sábado (05), pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro, ganhou repercussão não apenas pelo conteúdo técnico, mas principalmente por uma postura considerada inadequada de um jornalista presente. O episódio gerou críticas contundentes por parte de profissionais da imprensa esportiva, entre eles Mauro Cezar Pereira, que utilizou suas redes sociais para manifestar indignação.

Durante a coletiva, um jornalista, declaradamente torcedor do Corinthians, abriu sua fala com elogios rasgados ao trabalho de Ramón Díaz, afirmando que o técnico argentino realiza um trabalho “extraordinário” – citando o recente título do Campeonato Paulista. O comunicador sequer formulou uma pergunta objetiva, limitando-se a exaltar o treinador de forma entusiasmada, comportamento que causou desconforto e foi visto como inapropriado para o ambiente profissional.

Mauro Cezar foi direto em sua crítica: “As coletivas de imprensa após os jogos de futebol em praticamente todo o Brasil se transformaram em algo constrangedor”, escreveu. O jornalista destacou que há uma presença crescente de profissionais que se comportam como torcedores, deixando de lado a postura crítica e investigativa que deveria nortear o trabalho jornalístico.

“Torcedores/tietes conseguem, de alguma maneira, sendo jornalistas, youtubers ou seja lá o que for, acesso às entrevistas”, pontuou. Ele ainda reforçou que o momento destinado a perguntas sérias e objetivas vem sendo substituído por falas pessoais, agradecimentos e comentários emocionais, como o caso em questão. “O que interessa para o público se o rapaz está com ‘coração aquecido’?”, questionou, em alusão a uma das expressões utilizadas pelo profissional durante a coletiva.

Respaldo de outros comunicadores

A crítica de Mauro ganhou respaldo de outros jornalistas esportivos, que consideraram a abordagem do colega como constrangedora. Conforme relataram, atitudes como essa comprometem a credibilidade da imprensa e enfraquecem a seriedade do trabalho desenvolvido nas coberturas esportivas. Alguns apontaram que esse tipo de comportamento não é um caso isolado, mas algo que vem ocorrendo com frequência em coletivas de diversos clubes do país.

Em sua manifestação, Mauro também cobrou uma atuação mais firme das associações de cronistas esportivos, propondo que sejam estabelecidos critérios mais rigorosos para o credenciamento de profissionais. “A emissora, o jornal, o site, o canal no YouTube que solicita uma credencial precisa ter uma relevância (um número mínimo de inscritos, uma audiência específica…) que justifique a presença de um representante em coletivas”, escreveu.

Segundo ele, o comportamento nesses espaços precisa ser “100% profissional”, sem espaço para desabafos pessoais ou demonstrações de torcida. “Fazer qualquer introdução ao questionamento com desabafo pessoal ou referências ao time como se o entrevistador fosse parte integrante do mesmo (e ele obviamente não é) precisa ser vetado”, completou.

Por fim, Mauro Cezar foi enfático ao classificar o cenário como “ridículo” e alertou que, caso nada seja feito, a situação tende a se deteriorar ainda mais. “Basta. Vamos respeitar o público!”, concluiu.

A repercussão do episódio reacende o debate sobre os limites entre paixão clubística e exercício do jornalismo, sobretudo em um momento em que novos perfis de comunicadores, como influenciadores digitais e criadores de conteúdo, ganham espaço nas coberturas esportivas.