O Flamengo aprovou oficialmente as contas referentes ao exercício de 2024 diante de um cenário financeiro inédito desde a pandemia da Covid-19. Em reunião realizada na noite de terça-feira (15), no salão nobre da Gávea, o Conselho Deliberativo do clube validou o balanço com 185 votos a favor, 51 contrários e 22 abstenções. Decisão esta que marca o fim da gestão Rodolfo Landim, com o registro de um déficit de R$ 735 mil — o primeiro desde 2020, quando o clube acumulou um prejuízo de R$ 59 milhões.
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A aprovação das contas ocorreu em meio a debates intensos entre os conselheiros, em especial sobre o descumprimento do artigo 146 do Estatuto do Flamengo. Isso porque o déficit financeiro não poderia ultrapassar 3% da receita orçada, mas o rombo registrado em 2024 representou 6,3%. Ou seja, ultrapassando o limite estipulado.
Antes da aprovação do balanço, o Conselho Fiscal salientou irregularidades como o envio fora do prazo do documento, que chegou ao órgão apenas em 19 de março — quase um mês após o prazo regulamentar.
Investimentos e justificativas para o déficit
Segundo o ex-presidente Rodolfo Landim, o resultado financeiro negativo deve ser compreendido dentro de um contexto de investimentos estratégicos para o futuro da instituição. “Colocar ressalva porque eu cumpri a decisão que o próprio Conselho Deliberativo tomou para comprar o terreno me parece esquizofrênico”, afirmou.
A operação, aprovada em assembleia, custou R$ 146,1 milhões e visa a construção do tão aguardado estádio próprio do clube.
Já outros conselheiros apontaram a justificativa do investimento no Gasômetro como insuficiente, uma vez que outras decisões administrativas também impactaram negativamente o caixa rubro-negro. Entre elas, destaca-se a contratação do meia argentino Carlos Alcaraz, que custou R$ 110,6 milhões — aquisição mais cara da história do clube.
Queda nas receitas e aumento das despesas
Outro fator determinante para o déficit foi a redução significativa na venda de atletas. Em 2024, o Flamengo arrecadou apenas R$ 107 milhões com negociações de jogadores — menor valor desde 2018. Ao mesmo tempo, as despesas operacionais cresceram de forma expressiva, representando 76% da receita anual, o índice mais elevado desde o início da crise sanitária.
A Comissão de Finanças demonstrou preocupação com essa proporção e recomendou uma reestruturação orçamentária urgente, que, aliás, não foi realizada ao longo do segundo semestre da temporada passada.
Ainda que o clube tenha quebrado seu recorde de investimento em contratações — totalizando R$ 415 milhões —, os gastos não resultaram em incremento proporcional de receitas. Esse desequilíbrio entre entradas e saídas de recursos torna evidente a urgência por ajustes na política financeira da instituição.
Perspectivas e desafios a curto prazo
Conforme alertado pela Comissão de Finanças, o Flamengo precisará fortalecer seu caixa a fim de garantir o cumprimento de obrigações de curto prazo. O desafio passa, principalmente, por elevar receitas, seja por meio de novas vendas de atletas, patrocínios ou exploração comercial do próprio terreno recém-adquirido.
A construção do estádio, embora seja uma iniciativa com potencial de ampliar a autonomia e a receita do clube no futuro, exige planejamento criterioso. O clube precisará manter o equilíbrio entre os investimentos em infraestrutura e a manutenção de um elenco competitivo, a fim de garantir estabilidade institucional e esportiva.