Corinthians: Augusto Melo corre risco

Augusto Melo durante coletiva de imprensa do Corinthians (Foto: Rodrigo Coca/ Corinthians)

O presidente do Corinthians, Augusto Melo, compareceu na última quarta-feira (16) à delegacia da Polícia Civil de São Paulo, onde foi ouvido por mais de três horas no inquérito que apura supostas irregularidades no contrato firmado com a empresa de apostas VaideBet. O dirigente foi ouvido na condição de investigado, conforme já ocorrera com outros nomes ligados à diretoria anterior do clube.

A investigação, que se aproxima de sua fase final, gira em torno da intermediação do contrato de patrocínio firmado em janeiro de 2024 entre o clube paulista e a VaideBet. O acordo previa o pagamento total de R$ 370 milhões, incluindo R$ 10 milhões em luvas, mas foi rescindido em junho do mesmo ano após denúncias de irregularidades. A casa de apostas alegou “danos à imagem” como motivo da ruptura.

Possíveis crimes e envolvimento de empresa fantasma

De acordo com a Polícia Civil, dois crimes estão no foco das apurações: associação criminosa e lavagem de dinheiro. A linha de investigação aponta para a atuação de empresas fantasmas no repasse de valores provenientes da comissão de intermediação do contrato.

Um dos principais alvos é a empresa Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda., em nome de Edna Oliveira dos Santos. A mulher, segundo apontado pelos investigadores, não tinha conhecimento da existência da empresa registrada em seu nome.

A Neoway teria recebido R$ 900 mil da Rede Social Media Design, empresa responsável por intermediar o contrato entre o Corinthians e a VaideBet. A intermediação dessa empresa foi incluída apenas na quarta versão do contrato, o que levantou suspeitas adicionais. A empresa pertence a Alex Cassundé, que também prestou depoimento sob a condição de investigado, ao lado de Augusto Melo, do ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e do ex-superintendente Sérgio Moura.

Divergência de versões

Ao depor, Augusto Melo apresentou uma versão que diverge da relatada por antigos diretores do clube, como Sérgio Moura. “Sempre busquei agir com transparência e responsabilidade. Estou à disposição para colaborar com a investigação”, afirmou Melo ao sair da delegacia.

As declarações colhidas nas oitivas, iniciadas em maio de 2024, serão agora reunidas para a conclusão do inquérito, prevista para o início de maio. O promotor Juliano Atoji, do Ministério Público, tem acompanhado de perto o caso e será responsável por acolher eventuais denúncias encaminhadas pela Polícia Civil, decidindo se os investigados se tornarão réus em ação penal.

A partir das provas obtidas nos últimos 11 meses, o futuro de Augusto Melo e dos demais envolvidos dependerá da avaliação da promotoria. Conforme apurado, as autoridades veem indícios suficientes para justificar um possível indiciamento, embora a decisão final ainda esteja por vir.

Impacto institucional e reputacional

Além das possíveis implicações criminais, o caso teve consequências diretas para a imagem institucional do Corinthians. A rescisão antecipada do contrato com a VaideBet, um dos maiores patrocínios da história do clube, não apenas representou perda financeira significativa, mas também agravou a instabilidade nos bastidores do Parque São Jorge.

O episódio ainda reacendeu discussões internas sobre transparência administrativa e o modelo de governança do clube, que já vinha sendo criticado por torcedores e conselheiros desde a formalização da parceria.