A investigação da Polícia Federal que apura um possível esquema de manipulação de apostas esportivas, com alvo em Bruno Henrique, do Flamengo se tornou pauta do Fantástico no último domingo (20). A apuração começou após três casas de apostas identificarem, em novembro de 2023, movimentações incomuns em apostas envolvendo a possibilidade de o jogador receber um cartão amarelo no confronto entre Flamengo e Santos, pelo Campeonato Brasileiro.
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Conforme revelado pelo Fantástico, a denúncia inicial chegou por meio de uma associação internacional que monitora irregularidades no setor. O alerta foi suficiente para a PF iniciar, em agosto do ano passado, um inquérito que culminou na operação de busca e apreensão realizada em novembro. Foram apreendidos celulares e computadores que, posteriormente, revelaram trocas de mensagens entre Bruno Henrique e seu irmão, Wander Nunes Pinto Junior.
Trocas de mensagens e articulações
A investigação aponta que Bruno Henrique teria informado ao irmão quando forçaria o terceiro cartão amarelo, essencial para a aposta. A comunicação entre eles mostra, por exemplo, uma conversa dois meses antes da partida. Wander pergunta: “Você está com dois cartões, né? Me avisa quando for forçar o terceiro.”
O jogador responde: “Contra o Santos.” Em resposta, Wander afirma: “Beleza, vou guardar o dinheiro do investimento.”
Dias antes do confronto, Bruno retoma o tema e questiona o irmão se ele se lembrava da conversa. Diante da confusão de Wander, o atacante faz uma ligação que, segundo a PF, teria como objetivo esclarecer a intenção de levar o cartão. A investigação também revelou a existência de mensagens entre Wander e os pais dos irmãos, além de interações com a esposa dele, Ludymilla Araújo Lima.
Aliás, os registros mostram que a própria mãe de Bruno Henrique chegou a participar da articulação, recebendo boletos e orientações para efetuar pagamentos. Ela ainda trocou dados de terceiros com Wander, como CPFs, e-mails e datas de nascimento, para a criação de novas contas em sites de apostas, já que a opção de apostar no cartão amarelo para o jogador havia sido bloqueada por segurança em seu perfil original.
Suspeitas reforçadas por indícios
As autoridades constataram que, até a data do jogo, foram feitas 14 apostas distribuídas em 13 contas diferentes, sendo que seis dessas contas foram criadas na véspera da partida. Surpreendentemente, a maior concentração dessas apostas partiu de Belo Horizonte, cidade natal do atleta, o que acentuou ainda mais as suspeitas de um possível conluio.
Em outro trecho das mensagens, um mês após a partida, Wander escreve para Bruno Henrique: “No dia que você me deu a ideia do cartão, eu apostei R$ 3 mil pra ganhar R$ 12 mil. Só que até hoje ele não pagou. Está sob análise. O dinheiro tá todo preso lá.” Na mesma conversa, Wander expõe dificuldades financeiras e pede um empréstimo ao irmão.
A PF indiciou ao todo dez pessoas. Bruno Henrique e Wander podem responder por fraude em competição esportiva, cuja pena pode variar de 2 a 6 anos de prisão, e por estelionato, com pena de 1 a 5 anos. Os demais envolvidos foram indiciados apenas por estelionato.
Caminhos jurídico e esportivo em andamento
No momento, o Ministério Público avalia se oferecerá denúncia à Justiça, o que transformaria os indiciados em réus. Enquanto isso, no âmbito esportivo, os documentos serão apreciados pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Caso não haja pedido de suspensão preventiva, Bruno Henrique poderá seguir atuando normalmente. Contudo, se a Procuradoria aceitar a denúncia, o atacante corre o risco de ser suspenso ou até mesmo banido do futebol, conforme o desfecho do processo.
Defesa nega envolvimento
Em nota oficial assinada pelo advogado Ricardo Pieri Nunes, a defesa de Bruno Henrique afirmou que o jogador “nunca esteve envolvido em esquemas de apostas” e que é, inclusive, a favor de restrições mais severas ao mercado de apostas esportivas.
O documento ressalta que “as distorções causadas pela interpretação e divulgação indevida de mensagens privadas, fora de contexto, serão esclarecidas no curso do processo”. A nota conclui afirmando que o jogador “confia que o Poder Judiciário oportunamente corrigirá a injustiça que está sendo cometida”.
O Flamengo, por sua vez, também se manifestou por meio de nota. O clube declarou que respeita o andamento das investigações, mantém seu compromisso com a ética esportiva e defende a presunção de inocência do atleta enquanto não houver decisão definitiva.