O Flamengo tem uma linha de financiamento pela qual pode pegar até R$ 162 milhões sem a necessidade de apresentar garantias como o contrato da Globo. A informação consta do relatório anual de gestão do clube para 2019. O dinheiro é usado sempre que o clube tem uma despesa que precisa ser paga em determinado momento, mas a receita só vai entrar posteriormente. Obviamente, isso só foi possível porque o clube tem alto nível de receita, chegando a R$ 939 milhões em 2019.
Os clubes brasileiros têm como prática se financiar por meio de empréstimos com o uso de receitas de TV como garantia. Basicamente, o clube vai a um banco ou uma instituição financeira e apresenta o seu contrato com Globo e parte da receita passa a ir diretamente para esta empresa para o pagamento. Isso ocorre pela baixa credibilidade dos times de futebol nacional.
No ano passado, o ex-vice-presidente de Finanças rubro-negro do clube Wallim Vasconcelos começou a negociar com bancos para mudar esse tipo de financiamento. Foi conversar com instituições bancárias para mostrar que o clube tinha fluxo de receitas constante e seguras para quitar empréstimos e uma tradição de bom pagador. Um dos principais trunfos foi mostrar que as contas do Flamengo seriam auditadas pela EY, uma das quatro maiores do mundo, no balanço de 2019.
No primeiro semestre, foi fechado acordo com um banco. E outros acordos foram sacramentados no segundo semestre. Agora, bancos como Daycoval, Itaú e Santander têm linhas de crédito com o Flamengo sem a necessidade de garantia. Por conta da boa situação financeira, houve também redução de juros no dinheiro disponível que agora giram em torno de 9% ao ano.
“Disponibilização de R$ 162 milhões de captação de linhas clean, com redução de 30% da taxa média de juros. Crédito lastreado no risco Flamengo sem depender de anuência da Globo ou Patrocinadores”, diz o relatório de gestão. O relatório ressalta que esse foi um dos pontos que possibilitou a formação de um time vencedor.
Esse dinheiro foi importante para diversas operações. Por exemplo, o clube fez contratações pesadas no início do ano, com mais de R$ 100 milhões e no começo do segundo semestre. No total, foram R$ 234 milhões gastos com direitos econômicos. Houve, sim, a venda de Paquetá que foi recebida do Milan durante o ano. Mas, por conta do novo modelo de distribuição de cotas, a Globo concentrou mais pagamentos aos clubes no segundo semestre ,o que levou a atrasos de salários.
Pois bem, no caso rubro-negro, dirigentes tinham dinheiro disponível para cobrir eventuais problemas de fluxo de caixa. Segundo apurado pelo blog, já tem dois anos que o Flamengo não usa mais garantias da Globo para obter empréstimos, mas agora essas operações foram facilitadas com a linha direta de financiamento.
A vantagem de prescindir da Globo é que, cada vez que um clube tem que pegar dinheiro com sua garantia, a emissora faz exigências, inclusive de alterações do contrato do Brasileiro. Boa parte dos clubes já perdeu a garantia mínima do pay-per-view a que tinha direito nessas negociações. O Flamengo manteve sua garantia, assim como outros clubes como o Grêmio.
Um passo seguinte que a diretoria já tomou é de ser avaliado por uma agência de risco: suas contas já estão sendo avaliadas pela Standard & Poor´s. A expectativa é de que um bom rating pode baratear mais o crédito para o clube. Além disso, o resultado da auditoria da EY, em que dirigentes esperam que a avaliação seja positiva, também será um indicador da boa situação financeira do clube.
Nos números apresentados no relatório, o lucro antes de juros e impostos chegou a R$ 287 milhões. E o patrimônio líquido atingiu R$ 113 milhões, em seu segundo ano no positivo. A receita de R$ 939 milhões foi possível pelas premiações com Libertadores e as negociações de jogadores.
Retirado de: Blog do Rodrigo Mattos