Com o celular na mão, o treinador Alfredo Sampaio, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (SAFERJ), apontava para as mensagens que recebeu de jogadores desde sexta-feira. Em coletiva no Palácio Guanabara, o governador Wilson Witzel disse que o “risco era dos atletas”, para os jogos do fim de semana.
Sampaio foi para a reunião de segunda na Ferj com liminar a tiracolo. Caso o Estadual não fosse paralisado, iria ao Tribunal Regional do Trabalho para obter a paralisação por via judicial.
– Qualquer juiz ia nos dar razão e paralisar o campeonato – disse Alfredo Sampaio.
Treinador com passagens por diversos clubes pequenos e médios no Rio – também treinou o Vasco em 2008 -, o presidente da SAFERJ antecipa que se o novo coronavírus seguir em crescimento e os dirigentes decidirem pelo retorno do Carioca em 15 dias vai lançar mão de recurso judicial em nome dos atletas.
Confira a entrevista com Alfredo Sampaio:
A paralisação A paralisação atendeu ao pedido dos jogadores?
– Havia preocupação de todos pelos desdobramentos da paralisação. Eu, particularmente, como treinador que vivi minha carreira toda nesses clubes (pequenos) sei bem as dificuldades que eles têm. Na reunião deixei bem claro que o que discutíamos era prevenção de vida e morte, de risco de vida. Não era jogar 11h, não era atraso de salário, essas coisas. Estávamos discutindo uma coisa muito séria que nós nunca vivemos. O Brasil nunca viveu uma situação como essa.
Como foi esse contato com os jogadores?
– Vim para cá respaldado pelos atletas. Eles foram taxativos: “não queremos jogar, não queremos treinar”. O medo deles é a transmissão para os familiares. Parar por 15 dias achei coerente porque vai que, por milagre da vida, isso se modifique para melhor. Vai que possa voltar as competições? Vai parar 15 dias… não deu? Vamos para mais 15 dias. e vai seguindo. Qualquer modificação desse quadro, de tentativa de retorno, de sequência enquanto houver epidemia, naturalmente vamos buscar a Justiça e tentar paralisar para proteger os atletas. Não podia vir para cá e correr o risco da preocupação dos atletas não ser atendida.
– No sábado ainda tentei contato com a Ferj e CBF para paralisar a rodada, mas não tive retorno ao longo do dia. Só consegui contato por volta de 17h30. A gente começou a discutir para parar no domingo, mas não estava havendo ressonância. Vi que não iam querer parar e seguimos para a reunião de hoje. Mas o desfecho hoje acho que foi bom.
Os clubes pequenos e os jogadores têm preocupação com desemprego. Qual solução?
– Com certeza é uma preocupação. Eles falaram disso na reunião e sei que é fato isso. Mas estamos falando de problema nacional e vai ter dano colateral para todo mundo. Não dá para a gente se prevenir, com medida de saúde, querendo criar nichos de proteção. Vai acontecer dificuldade, mas estamos falando de coisa acima disso, de sobrevivência. Estamos exagerando, estamos delirando? Não, a expectativa é de que nos próximos 15, 20 dias, haja um pico de contaminação. Não para discutir coisa dessa proporção em nichos separados.
O Flamengo falava em encerrar as duas rodadas da Taça Rio. O que se argumentou?
– O Flamengo expôs a posição dele. Entendia que poderia jogar os dois jogos. O que na realidade, teoricamente, até poderia acontecer. Mas vai que dá o azar de contaminar alguma pessoa nesses jogos? Quem é o responsável por isso? Eu fiz essa pergunta. O Sindicato não vai ser. Então ele fez ponderação, mas foi de muito bom nível. Foi conversa muito agradável. O andamento para nós era paralisação, não tinha outra hipótese.
O que pode ser feito para diminuir os possíveis efeitos de fim de contrato em clubes menores?
– Agora é uma ação institucional entre a Ferj, Sindicato, CBF e TV. É hora de todo mundo se dar as mãos. A intenção é discutir, tentar impacto menor. Os clubes vão ter direitos a algumas decisões em relação ao salário, podem ter cancelamento de salários em determinados momentos. Vou agendar reunião com todos os jogadores nos próximos dias, junto com o nosso jurídico, e mostrar os desdobramentos que isso tudo pode ter. No primeiro momento a ideia era conter os jogos. Agora é tratar dos desdobramentos que todos estão cientes do que pode acontecer.
Retirado de: Globo Esporte