Jorge Jesus renovou contrato com o Flamengo até maio de 2021. Entre alguns acordos, está a possibilidade dele deixar o clube imediatamente, caso receba proposta de um grande time europeu, salários e premiações por títulos pagos em euros. O português já foi defendido pelo ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello e pelo ídolo Zico.
O blog entrevistou o flamenguista Kléber Leite, mandatário do rubro-negro de 1995 a 1998. No papo exclusivo, Kléber falou sobre a permanência de Jesus, a gestão de Landim e cutucou Bandeira de Mello, proclamado como “Salvador” do Flamengo, de 2013 a 2018.
Confira abaixo os tópicos da entrevista:
A diretoria acertou na renovação do Jorge Jesus, pelos valores anunciados?
O contrato do Jesus só irá até o meio de 2021. Isso quer dizer que, se ele bem entender naquele exato momento, o Flamengo ficará a pé no Brasileiro, na Copa do Brasil e na Libertadores, três competições mais importantes do calendário. Além disso, há também um gatilho em que a qualquer momento, se um grande clube espanhol ou inglês o convidar, ele sairá, independentemente do momento que seja. Isso é muito ruim. Agora, pior ainda seria ficar sem Jorge Jesus. Mesmo colocando tudo isso na balança, eu também teria renovado o contrato dele e feito a mesma coisa. É o maior técnico da história do Flamengo pela empatia com torcida e time. Nunca vi nada igual no Flamengo.
A atual organização do Flamengo deixou o clube imbatível?
Há um meio de caminho para tudo, inclusive para isso. O que está acontecendo hoje já deveria ter acontecido algum tempo atrás. Lembro a você que o mundo do futebol mergulhou num processo novo. Em 95, começamos com a Fla TV e hoje ela tem importância nisso. O sócio-torcedor, que hoje representa o segundo maior faturamento, começou em 95 com a campanha SejaSócio. A TV representa muito ao Flamengo e antigamente isso era visto como uma forma de apenas promover o Flamengo, sem receitas.O futebol era muito amador. Tudo foi acontecendo ao longo do tempo e o Flamengo não foi feito hoje. Vem ficando diferente ao longo do tempo. Se não tivesse acontecido um impeachment de um presidente com a parceria com a ISL, após a minha gestão, o Flamengo já deveria ter atingido o estágio atual.
Eduardo Bandeira de Mello “salvou” o Flamengo, na gestão anterior?
É um exagero. O presidente não era para ser o Bandeira de Mello. O candidato deste grupo que eu fazia parte era o Walim Vasconcellos. Só que a oposição, numa reunião do Conselho de Administração, decidiu detonar a candidatura, por uma questão ou outra. Bandeira de Mello foi chamado em casa, ninguém sabia quem ele era e virou presidente do Flamengo. Quem ganhou a eleição foi o grupo com a mensagem de que um homem só não resolveu, e sim um grupo de pessoas competentes. Faltou ao presidente um pouco mais de sensibilidade no futebol. Se ele não tivesse sido tão vaidoso politicamente e não tivesse recorrido a outras áreas do clube, sem competência no futebol, esses resultados já poderiam ter acontecido antes. Foi muito ruim para ele, mas faltou um pouquinho de humildade, o que não ocorre agora.
Como foi contratar o Romário, melhor do mundo, em 1995?
Na estreia dele contra a Seleção do Uruguai, o Flamengo faturou um milhão de dólares livres, em Goiânia, com a presença do Governador Maguito Vilella. Romário custou 4,5 milhões de dólares e o Flamengo não gastou nenhum centavo com ele. Foi montada uma estratégia com algumas empresas importantes que custearam a vinda do Romário, com retorno de mídia na TV Bandeirantes, nossa parceira na época, com exclusividade nos jogos do Flamengo. O Flamengo não tinha recursos e era necessário criar algo diferente. Quando assumi em 95, tínhamos quatro meses de salários atrasados e na minha gestão ficamos sem atrasar nenhum dia. Com a chegada do Romário, o Flamengo mudou de patamar.
Por que o melhor ataque do mundo com Sávio, Romário e Edmundo, acabou fracassando?
Veja bem, Edmundo era o principal jogador do Brasil e foi contratado. Foi uma contratação ruim? Evidente que não. Não deu certo porque o Edmundo se envolveu num acidente onde três pessoas morreram. A partir dali, a coisa desandou. Nossos advogados diziam que era melhor tirá-lo do RJ, por isso ele foi emprestado primeiro para o Corinthians, em 96. A estrutura não era a que o clube tem hoje e realmente houve vaidade acentuada, reconhecida pelo próprio Romário e com o Sávio muito jovem. O que me competia fazer foi feito, mas infelizmente não deu certo.
Retirado de: Yahoo Esportes