Campeão pelo Flamengo revela que achou que negociação para ir à Gávea era ‘pegadinha’: ‘Tomei um susto’

Escudo do Flamengo é exposto próximo a um dos gols, no gramado do Maracanã (Foto: Daniel Castelo Branco)

Quando atuava pelo Paysandu, Robson Agondi recebeu um telefonema de Gilmar Rinaldi, então diretor de futebol do Flamengo. O inesperado convite fez o goleiro, que jogava a Série B do Campeonato Brasileiro, ir para a Gávea e ser campeão do Carioca e da Mercosul de 1999.

“Ele falou: ‘Oi Robson, aqui é o Gilmar’. Eu respondi: ‘Quem?’ Ele disse: ‘Gilmar Rinaldi, pô!’ Foi bem louco porque a ficha não tinha caído (risos). Daí ele me explicou que o Charles Guerreiro, que era amigo dele dos tempos de Flamengo e jogava comigo no Paysandu, tinha passado o meu contato”, disse, ao portal ‘ESPN’.

“Eu tomei um susto. Como assim? Eu não sabia de nada, o Charles não tinha me avisado (risos). O Gilmar disse que me acompanhava: ‘Quero que você venha para o Flamengo porque está saindo o Emerson e só vai ficar o Clemer. Queremos mais um goleiro’. E deu certo”.

Robson foi para a Gávea onde atuou ao lado de vários jogadores consagrados como o zagueiro Juan e o atacante Romário. O goleiro recorda que o “Baixinho” tinha tanta moral que escolhia até o dia que ia falar com os repórteres.

“O Romário é um cara sensacional, mas muito na dele. No Flamengo ele tinha os amigos e conversava mais com o Beto, Léo Inácio e Fábio Baiano. Com os outros ele não tinha a mesma intimidade. Foi o único jogador que vi naquela época chegar na Gávea e falar para a imprensa que não ia dar entrevista. Era engraçado porque nunca tinha visto isso. No Santos não era assim”, contou.

“O Clemer se machucou no começo do ano e fiz vários jogos. Fomos campeões do Carioca batendo na final o Vasco do Edmundo, Ramon e Carlos Germano. Também joguei o Brasileiro e a Mercosul antes dele voltar”.

A partida mais marcante do goleiro com a camisa rubro-negra foi contra a Universidad de Chile, no Maracanã, pela fase de grupos da Copa Mercosul. O Flamengo precisava golear por pelo menos quatro gols de diferença para avançar como um dos melhores segundos colocados.

“Nós fizemos sete gols e eu joguei nesta partida porque o Clemer não atuou. Eu não podia errar porque cada gol que tomasse íamos ter que fazer dois. Nosso time entrou muito bem e o Romário fez quatro gols, jogou demais. Ele passava muita calma porque sabia que ali ia sair coisa boa. Você jogava a bola nele e ela grudava como um chiclete”, analisou.

Nos mata-matas, Robson voltou para a reserva e o Flamengo passou por Independiente, Peñarol antes de pegar o Palmeiras em uma decisão recheada de gols. No jogo de ida, o time carioca venceu por 4 a 3 no Maracanã. No segundo duelo, no Palestra Itália, o empate em 3 a 3 deu o título para o clube da Gávea.

“Passamos para as outra fases e embalamos até sermos campeões com o gol do Lê na final. Eu pude ajudar na competição e foi bem especial. O Caio Ribeiro era nosso talismã, ele ficava no banco e a torcida sempre pedia para entrar. E quando entrava fazia gol, inclusive na final. É um cara gente boa demais”, elogiou.

Começo em Santos

Robson de Oliveira Agondi começou nas categorias de base do Santos em 1986 e subiu aos profissionais quatro anos depois.

“O goleiro titular era o Sérgio Guedes. Nesta época o Santos não formava goleiros, eles acreditavam que era preciso trazer um cara mais experiente. Eu era titular da base, mas no profissional eu não tive sequência de jogos. Só entrava quando alguém estava machucado ou suspenso”, relatou.

O arqueiro pegou o período de jejum sem títulos importantes, mas conseguiu vencer a Copa Denner, que foi realizada em 1994, em homenagem ao ex-atacante de Portuguesa Vasco e Grêmio, falecido em um acidente de carro naquele ano.

“Eram os jogadores que reservas que jogaram e fui titular. Foi um título marcante pra gente. Jogamos contra muitos times grandes”, recordou”.

Em 1995, Robson foi emprestado para o Remo-PA para a disputa da Série B, mas voltou na reta final do Brasileiro para a reserva de Edinho, filho de Pelé, quando o Santos foi vice-campeão. Em 96 e 97 ele foi cedido novamente ao time de Belém, quando faturou o Estadual.

Com a chegada do treinador Vanderlei Luxemburgo, vieram os goleiros Zetti e Marcelo Martelotte. Como não teria espaço no elenco, ele rescindiu seu vínculo na Vila Belmiro e foi para o Paysandu.

Vida na China

Robson Agondi durante período na China (Foto: Arquivo Pesssoal)

Robson ainda rodou por Portuguesa Santista, Paysandu (no qual venceu o Estadual, a Copa Norte e a Copa dos Campeões), América de Natal, Londrina, Ceilândia e o Itumbiara, o último clube de sua carreira como goleiro, em 2007.

Aos 36 anos, ele resolveu parar de jogar e foi estagiar no Santos com Agnaldo e Omar. Por meio de um convite do técnico Nenê Belarmino, ele começou na carreira como preparador de goleiros no Cascavel-PR. Depois, ele passou por Monte Azul, Rio Branco de Andradas, Desportivo Brasil, Oeste, e Portuguesa Santista, no qual permaneceu por anos.

No fim de 2017, ele foi trabalhar Zhejiang Yiteng FC, equipe da segunda divisão chinesa, depois de um convite de Mauricio Copertino.

“No começo era tudo difícil, muito frio. Alimentação e o idioma eram totalmente diferentes. Goleiro você não consegue só dar treino, precisa conversar e dar uns toques. Até ambientar com tudo isso demorou uns dois meses. Eu tinha um intérprete que me ajudou muito porque nunca tina trabalhado fora do país. Eu mostrava para eles as técnicas de jogar no gol. Era quase como se fizesse uma categoria de base porque eles não tinham fundamentos quando eu cheguei. A bola vinha para eles e pegavam de pernas abertas (risos). Não sabiam cair no chão e chutavam a bola para o alto no estilo ‘balaõzinho’, não sabiam fazer reposição de bola”.

“Eu vim com um novo método e precisei ganhar antes a confiança deles. Eles colocaram em prática dentro dos jogos e viram que eu estava passando as coisas corretas. Aos poucos fomos melhorando e deu resultado. O goleiro que virou titular comigo era reserva e ia ser mandado embora. Ele passou a jogar muito bem e recebeu oferta para renovar por quatro anos e propostas de outros times ainda melhores. Isso foi muito gratificante para mim”, disse Robson, que voltou ao Brasil em outubro de 2018.

Retirado de: ESPN