Campeão da Libertadores e do Brasileiro, Jorge Jesus se firmou como um dos maiores técnicos da história do Flamengo. É um fato. Mas sua saída se dá em uma negociação que demonstrou desrespeito com o clube.
Para chegar a esta conclusão, é só fazer um histórico da negociação com o Benfica. A primeira notícia na imprensa portuguesa do renovado interesse do time português foi em 5 de julho. Havia fundamento na informação e Jesus estava balançado com a proposta.
Ora, desde então, o técnico fechou-se em um silêncio total dentro do Flamengo. Aos dirigentes, dava sinais de que se mantinha no pacto de conquistar títulos e seguir no clube. Pacto este que envolveu jogadores rubro-negros também. Não se deve esquecer que tinha renovado o contrato com o Flamengo um mês antes.
É direito de Jesus achar que o melhor para sua vida é voltar para Portugal. Há uma epidemia de coronavírus galopante no Brasil, ele é um senhor, sua família o quer em Lisboa. O Benfica é uma espécie de casa dele. O calendário sul-americano é mais impactado pelas restrições da doença. Havia portanto razões para saída.
Assim como havia motivos para permanecer. O projeto esportivo do Flamengo, atualmente, é mais consistente do que um Benfica em crise. As ambições rubro-negras dentro do continente sul-americano também são maiores do que as do time português na Europa. Cabia a ele analisar seus pro e contras.
Bastava que explicasse isso em uma conversa franca com dirigentes do Flamengo. “Olha, tem essa proposta, assim e assim, estou pensando. Vocês serão os primeiros a saber. Vamos encerrar o Carioca.” Não é tão difícil.
Jesus, no entanto, permaneceu em silêncio. Após o título Carioca, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, chegou a dizer que ele treinaria o time na semana seguinte, alegando que tinha ouvido a garantia dele. Acabou exposto como mal informado.
Nos dias seguintes, Jesus fechou com o Benfica. Com a negociação concluída, e pública, a diretoria rubro-negra, enfim, foi ser comunicada na sexta-feira. Só de manhã passou a ter noção real de que perderia o técnico que acreditava que ficaria.
Repetiu-se assim o roteiro do técnico colombiano Reinaldo Rueda que conversava sobre reforços com dirigentes rubro-negros enquanto ajeitava sua mudança da Barra da Tijuca para Santiago. Assim como no caso do colombiano, a diretoria do Flamengo terá pouco tempo para contratar um técnico e uma comissão técnica inteira para o início do Brasileiro, em 20 dias.
Não parece ser algo que preocupou muito Jesus enquanto tomava sua decisão e prolongava a novela. Talvez o português seja poupado pela torcida por ser um dos mais vitoriosos da história do clube. Mas isso não muda o fato de que deu uma rasteira no rubro-negro.
Retirado de: UOL