O futebol e a família estão presentes na vida de João Gomes de tal maneira que em seu braço há uma tatuagem simbólica: um menino levado pela mão por um senhor de idade rumo ao Maracanã, com a placa do ônibus que por muito tempo foi o transporte para realizar o sonho de ser jogador profissional.
O volante de 19 anos, novidade do Flamengo na lista de relacionados para os jogos no Equador pela Libertadores, é uma das promessas da base rubro-negra e carrega uma força a mais: a paixão pelo avô, Mirinho, falecido no ano passado e grande incentivador de sua carreira. Quem conta é a mãe de Gomes, Monique:
— Meu pai sempre foi o maior incentivador. Ele sempre acreditou. Ele foi treinador de um time amador há muitos anos, e costumava falar para mim: “Monique, o João vai ser jogador. Se ele não jogasse bola, eu não ia perder o meu tempo, não ia gastar dinheiro de passagem para lá e para cá. Eu sei que ele vai ser jogador” – disse Monique.
Gomes cresceu em Ramos, subúrbio do Rio de Janeiro, onde morava com a mãe e o avô. Teve uma breve passagem pelo Vasco antes de ir com um amigo fazer um teste no Flamengo, aos oito anos de idade. Foi aprovado no mesmo dia e está no clube desde então.
As dificuldades foram aquelas conhecidas de quem se dispõe a seguir a carreira de jogador: horas no transporte público, muita correria e muito esforço. Por isso, a referência ao ônibus da linha 460: que faz o trajeto de São Cristóvão, zona norte do Rio de Janeiro, até o Leblon, na zona sul, passando pela Gávea, onde Gomes treinava no início.
— A gente pegava dois ônibus. Tinha que comer no ônibus, às vezes tinha que descer e terminar de comer na Leopoldina. Sempre acreditamos. Meu pai realmente acreditou que o João poderia chegar ao profissional do Flamengo. E todos nós somos flamenguistas – completou Monique.
Desde 2014, Gomes mora em Vargem Grande, perto do Ninho do Urubu. Conforme progrediu na carreira, começou a conquistar espaço. Sempre foi tratado como promessa, mas não desanimou em momentos mais difíceis. Quando o volante passou por um período sem muito utilizado, Monique, de cabeça quente, sugeriu que ele deixasse o Flamengo. A resposta foi veemente:
— Eu só vou embora do Flamengo no dia em que o Flamengo não me quiser mais – disse Gomes.
Titular no sub-20 e convocação para a seleção brasileira
A persistência deu resultado. Em 2019, Gomes foi titular da equipe sub-20 que conquistou cinco competições na temporada, incluindo o Campeonato Brasileiro, o Campeonato Carioca e a Supercopa do Brasil. Chegou a ser convocado para a seleção sub-20, mas acabou não se apresentando, pois o Flamengo estava na reta final de temporada.
Em campo, Gomes tem jogado tanto de primeiro como segundo volante. Quem acompanha a base rubro-negra o vê como um atleta de bom passe, com movimentação e visão de jogo, e boa força física e poder de marcação. Na atual temporada do sub-20, foi titular em três jogos e deu uma assistência até então.
Esta não será a primeira experiência de João Gomes nos profissionais. Na retomada dos treinos após a pandemia, ele fez parte de um grupo de meninos do sub-20 que subiu para treinar com a equipe de cima, ainda sob o comando de Jorge Jesus.
Gomes foi um dos nove jovens da base inscritos pelo Flamengo na Libertadores, depois que a Conmebol aumentou para 50 o limite de jogadores que poderão ser usados na competição. De todos, o volante foi o único a ser incluído na viagem para o Equador.
O Flamengo enfrenta o Independiente del Valle nesta quinta-feira, às 21h (de Brasília), pela terceira rodada do Grupo A. No dia 22 de setembro, encara o Barcelona em Guayaquil.
Retirado de: Globo Esporte