Após relatar ter sofrido injúria racial do meia colombiano Ramirez, do Bahia, na vitória do Flamengo por 4 a 3, neste domingo, Gerson publicou um manifesto em suas redes sociais contra o racismo. Depois de ter ouvido “Cala a boca, negro” do meia adversário em campo, o volante rubro-negro escreveu que “O “cala boca, negro” é justamente o que não vai mais acontecer”, lembrou que racismo é crime e lamentou: “É nojento conviver com o racismo e ainda mais com os que minimizam esse crime”.
“Amo minha raça e luto pela cor.”
O “cala boca, negro” é justamente o que não vai mais acontecer. Seguiremos lutando por igualdade e respeito no futebol – o que faltou hoje do lado contrário. Desde os meus 8 anos, quando iniciei minha trajetória no futebol, ouço, as vezes só por olhares, o “cala a boca, negro”. E eles não conseguiram. Não será agora.
“Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Não adianta ter o discurso, fazer campanha, e não colocar em prática em todos os aspectos da vida, inclusive dentro de campo. O futebol não é algo fora da sociedade e um ambiente onde barbaridades como o “cala a boca, negro” podem ser aceitas.
É uma pena nós, negros, termos que falar sobre isso semanalmente e nenhuma atitude no esporte ser tomada a respeito. E é mais triste ainda ver a conivência de outras pessoas que estão dentro de campo e que minimizaram e diminuíram o peso do ato de hoje no Maracanã. É nojento conviver com o racismo e ainda mais com os que minimizam esse crime.
Não vou “calar a minha boca”. A minha luta, a luta dos negros, não vai parar. E repito: é chato sempre termos que falar sobre racismo e nada ser feito pelas autoridades.
Racismo é crime. E deve ser tratado desta maneira em todos os ambientes, inclusive no futebol.
Não me calaram na vida, não me calaram em campo e jamais vão diminuir a nossa cor”
Entenda o caso:
O episódio ocorreu aos 7 minutos do 2º tempo, quando a partida estava 2 a 1 para o Flamengo. As imagens da transmissão mostraram Gerson inconformado “peitando” o colombiano Ramírez depois de ouvir algo que lhe incomodou. Afastado pelos colegas, o meia foi até a beira do campo e discutiu também com o treinador do Bahia, Mano Menezes. Na saída de campo, Gerson revelou ter ouvido de Ramírez: “Cala a boca, negro”.
— Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: “Cala a boca, negro”. Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito.
Na entrevista, o volante também pediu mais respeito a Mano Menezes:
— O Mano até falou “Ah, agora você é vítima, não é? O Daniel Alves te atropelou e você não falou nada”. Claro, porque teve respeito entre eu e ele. Eu nunca falei de treinador, mas o Mano tem que saber respeitar. Estou vindo falar aqui por mim e por todos os negros do Brasil.
O programa Troca de Passes revelou o bate-boca entre Gerson e Mano Menezes e o que o técnico falou ao quarto árbitro, captados pelos microfones da transmissão:
— Me chamou de negro – disse Gerson.
— Agora virou malandragem – respondeu Mano.
— Malandragem? Malandragem, não. Você me respeita! – retrucou Gerson.
Na sequência, o treinador do Bahia disse:
— Rogério… Não vai expulsar ele? Está mandando tomar no **. Foi na cara do juiz que mandou tomar no **. Se aconteceu… Se estamos errados, estamos errados. A gente não quer estar certo estando errado. Mas aquele menino não iria fazer isso com o Gerson. Eu conheço o jogador, chegou agora, é um guri – defendeu o técnico do Bahia.
— Quanto tempo parou o jogo? Quanto tempo parou o jogo agora por causa do Gerson? Tem que tomar bico do Daniel (Alves, com quem Gerson discutiu nos últimos jogos entre Flamengo e São Paulo) mesmo. Tem que tomar bico do Daniel, que é mais malandro que tu. Ele quer mandar em todo mundo… Quer mandar no jogo – completou Mano.
Retirado de: Globo Esporte