A série documental “Predestinado”, produzida pela Globo para homenagear a carreira de Gabriel Barbosa, virou fonte de discórdia e ação judicial ao retratar a ida do atacante a um cassino clandestino. O UOL Esporte teve acesso à integra do contrato entre atleta e emissora: ele prevê pagamento de R$ 287,5 mil e mais uma participação de 50% em futuros licenciamentos da produção para Gabigol e seu estafe, e veta que a produção tenha qualquer menção à vida amorosa do artilheiro.
Do valor desembolsado pela Globo, R$ 250 mil são destinados ao próprio Gabriel, e R$ 37,5 mil à empresa 4Comm, que gere a sua carreira. Em caso de licenciamentos futuros para outras emissoras ou serviços de vídeo, os lucros seriam divididos: 50% para a Globo, 40% para Gabigol e 10% para a 4Comm.
O veto a qualquer menção à via amorosa do atacante do Flamengo está na cláusula 2, que trata do objeto do documentário. “É vedado que o DOCUMENTÁRIO aborde, trate ou mencione, mesmo que através de terceiro, de qualquer aspecto da vida amorosa do atleta ou mencione qualquer terceiro relacionado a esse assunto”. Gabigol já teve um relacionamento com Rafaella Santos, irmã de Neymar.
O contrato virou tema de uma disputa judicial. No sábado (20), o jogador e seu estafe tentaram, na Justiça, uma liminar para suspender a transmissão do último episódio da produção, que foi ao ar ontem (22). No centro da ação, acusam a emissora de descumprir o acordo assinado ao retratar a detenção do jogador em um cassino clandestino em São Paulo, no último dia 14, durante o aumento de casos e mortes de Covid-19 no Estado e no Brasil.
O documento traz alguns dos principais argumentos utilizados pelo atleta e seus representantes na briga judicial, como cláusulas que afirmam que a série é uma homenagem ao jogador e prometem a ele e sua família voz ativa no processo de produção.
A cláusula 2 do acordo garante que Gabigol e sua assessoria de comunicação serão ouvidos no processo, e que a obra é uma homenagem. “Garantimos que o INTERVENIENTE ANUENTE será ouvido e terá participação ativa na concepção do DOCUMENTÁRIO, sendo ela, a obra, uma homenagem ao INTERVENIENTE ANUENTE, feita para emocionar os fãs, e servir como marco de seu sucesso e incontestável ingresso na história do futebol brasileiro”, diz o trecho.
Na cláusula 6, que trata da exploração comercial do documentário, há um compromisso de que a edição das imagens gravadas retrate Gabigol como uma “pessoa de hábitos saudáveis e comprometimento com o bem estar social”.
“O CEDENTE e o INTERVENIENTE ANUENTE concordam que a CESSIONÁRIA poderá editar as imagens ora cedidas, quando necessário, a fim de adequá-los às orientações de autoridades públicas competentes, à legislação vigente e a políticas internas, e poderá inserir e/ou sobrepor marcas e conteúdos comerciais, desde que não comprometam ou maculem a imagem do atleta como pessoa de hábitos saudáveis e comprometimento com o bem estar social”. Cedente e interveniente anuente são Gabigol e a empresa 4Comm, que gere sua carreira; cessionária é a Globo.
À Justiça, Gabigol e seus representantes acusaram a Globo de sensacionalismo e pediram que o último episódio fosse impedido de ir ao ar, sob pena de multa diária de R$ 2 milhões.
“Com efeito, é sabido que atualmente o oportunismo e sensacionalismo midiático está em alta, e não há dúvidas de que se este episódio ‘tendencioso’ vier a ser lançado, irá macular toda uma trajetória, além de desviar toda a finalidade da série documental ‘Predestinado’ tal como inicialmente acordada”, diz a petição. “Importante frisar que todos os episódios que seriam objeto de lançamento no documentário ‘Predestinado’, por força contratual, deveriam ser objeto de aprovação da versão final pela família, fato este que não foi observado pela Requerida”, relata o pedido de liminar.
O pedido foi negado e o episódio final da série, incluindo o trecho que retratou a detenção no cassino, foi ao ar. A reportagem entrou em contato com a assessoria do jogador, que afirmou que não comentaria o caso, já que o contrato possui cláusula de confidencialidade. Procurada, a Globo também afirmou que não entrará em detalhes sobre o contrato, mas defendeu a inclusão do trecho que retratou a ida de Gabigol ao cassino no documentário, em comunicado reproduzido a seguir.
“Os contratos para produção de obras audiovisuais da Globo preveem cláusula de confidencialidade, que tem como objetivo preservar os direitos das partes. Assim, a Globo não dá detalhes sobre seus contratos, por se tratarem de relações de respeito e confiança. ‘Predestinado’ é um mergulho na história e na origens do Gabriel Barbosa, o Gabigol. O documentário em formato de seriado retrata a vida e a carreira do jogador em ordem cronológica.
O quarto e último episódio da série trata dos desafios de uma temporada marcada por três mudanças de treinadores, uma lesão séria, uma pandemia, e que terminou com mais um troféu nacional na galeria rubro-negra. Dos 33 minutos e 16 segundos de duração do episódio, a ida de Gabigol ao cassino é contada em três minutos e trinta segundos, dos quais 50 segundos reproduzem trechos da entrevista com explicações do jogador ao ‘Fantástico’. Como se sabe, o caso teve grande repercussão e sua abordagem em uma obra documental com características de entretenimento e jornalismo está em linha com os princípios editoriais do Grupo Globo.
Vista em seu conjunto, a série deu voz a Gabigol e sua família para contarem a história do jogador e a abordagem pontual e proporcional da ida ao cassino em nada elimina o caráter de homenagem a um ídolo que conseguiu transcender o futebol e conquistar popularidade entre adultos e crianças”.
“Predestinado” está disponível na plataforma de streaming da Globo, a GloboPlay.
Retirado de: UOL