Quando se falava em Campeonato Estadual, o Rio de Janeiro era apontado como aquele que tinha a fórmula de disputa mais fácil de ser compreendida e mais emocionante. Nos últimos anos, no entanto, assim como muitos torneios regionais, o Carioca perdeu força e o interesse do torcedor.
A partir deste ano, a Federação do Rio de Janeiro, em parceria com a SportsView, empresa fundada por ex-executivos do grupo Globo, tenta reformular a competição com foco na estratégia de negociação de direitos de transmissão e distribuição de mídia.
Em bate-papo exclusivo com o portal ‘Goal’, Marcelo de Campos Pinto, um dos fundadores da SportsView e ex-homem forte do esporte na Globo, explicou as ideias para este novo formato e falou sobre um dos temas que trouxe mais dúvidas na cabeça do torcedor: as transmissões multiplataforma.
“Estamos passando por um momento de transição, de um formato em que uma única emissora detinha todos os direitos, para um modelo multiplataforma com o streaming se tornando uma das principais formas de distribuição do conteúdo audiovisual esportivo. Isso ocorre no mundo todo por questões econômicas e tecnológicas, e obriga nos adaptar à nova realidade. O que estamos fazendo no Cariocão será a base das novas negociações no futebol brasileiro, em que será preciso negociar e distribuir o conteúdo de múltiplas formas, através de múltiplos parceiros. Hoje, o torcedor pode assistir ao Cariocão em TV aberta, pay-per-view, no digital, no smartphone, tablet, computador… opções não faltam para ele. Quanto mais presente a competição estiver para os torcedores, maior será o seu valor comercial”.
O Campeonato Carioca durante muito tempo teve a sua fórmula elogiada (quando o campeão da Taça GB enfrentava o campeão da Taça Rio na final. Há alguns anos tivemos mudanças, mas que não ficaram. Agora, temos um novo formato. Por que se chegou à conclusão de que esse seria o melhor formato a partir de agora?
— O calendário do futebol Brasileiro passou por algumas transformações nos últimos anos que reduziram o número de datas disponíveis para as competições estaduais, obrigando a fazer uma tabela mais enxuta, simples e fácil de entender para o torcedor. A preocupação foi de termos o maior número de jogos competitivos possível, evitando partidas sem apelo para torcedores e parceiros da competição. Outra preocupação foi de permitir que os clubes menores tenham maior chance de chegar nas finais, aumentando a competitividade do campeonato.
Vejo que a ideia é potencializar o Campeonato Carioca nas demais regiões do país, mas recentemente vimos a Record cobrar das afiliadas para transmitir, muitas desistiram… isso de certa forma pode prejudicar os planos de vocês, chegou a ser debatido com a emissora?
— O Campeonato passou por um desgaste nos últimos anos em função do modelo anterior. Nosso trabalho agora também é de recuperar o terreno perdido. É importante lembrar que o Carioca, junto com o Paulista, são as duas únicas competições regionais que possuem alcance nacional. Os quatro grandes clubes do Rio possuem 64% de seus torcedores espalhados pelo país, em especial nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Estamos falando de dezenas de milhões de torcedores. Em paralelo, estamos constantemente em conversas com nossos parceiros visando mostrar o alcance nacional da competição, e acreditamos que os números da audiência falarão por si. Outra medida que tomamos é a de desenvolver parcerias com plataformas como o Facebook para transmitir os jogos da TV aberta e assim alcançar mais torcedores em todo o Brasil. Os resultados tem sido bastante animadores e estamos certos que só crescerão durante a competição.
Qual é a meta de assistantes do pay-per-view para este primeiro ano de novo modelo?
— Mesmo com o pouco tempo que tivemos para trabalhar o produto, temos a expectativa de obter 300 mil assinantes já nesta primeira temporada do Cariocão.
Qual o balanço dessas primeiras rodadas? Os grandes acertos e o que precisa melhorar?
— Certamente temos pontos a serem melhorados, estamos apenas no começo da caminhada, mas estamos muito satisfeitos com tudo que está acontecendo até então. Trabalhamos para transformar o Campeonato Carioca em uma ampla plataforma de comunicação, de conexão com o público, que resgate o orgulho do carioca com o seu campeonato, que traga de volta o interesse de públicos que se afastaram do futebol e torne o campeonato mais valioso para os torcedores e nossos parceiros. Não podemos esquecer que não existem clubes fortes se as competições forem fracas, e a união de todos tem sido fundamental até aqui. Essa transformação não é como uma prova de 100 metros rasos, é uma maratona, um processo de melhoria contínua, e estamos muito felizes de participar deste processo.
A nova versão do Campeonato Carioca mostra um lado que tenta se comunicar com a sociedade além do futebol, trazendo temas que estão muito em evidência no nosso dia a dia. Como tem sido esse processo e a ideia é tornar isso cada vez mais forte?
O futebol é um esporte popular e não pode fechar os olhos para as questões sociais. O Cariocão tem como obrigação ser inclusivo, pois o Rio de Janeiro sempre foi um lugar acolhedor. Estamos criando nesta temporada o Futebol Sem Barreiras, uma plataforma de conexão entre o mundo do futebol e as questões sociais, e através dela teremos várias ações durante a competição voltadas para as questões de inclusão e diversidade.
Retirado de: Goal