Um dos principais acertos de Rogério Ceni desde que chegou ao Flamengo foi o recuo de Willian Arão para a zaga. Tratada como invencionice por muita gente, a mexida deu resultados e mostrou qual era a ideia do treinador. Além de qualificar e verticalizar o passe nas saídas, agilizar a circulação da bola na primeira linha de construção, ter mais agressividade nas transições defensivas e ganhar velocidade na linha de defesa para adiantar o bloco de marcação. Como você leu aqui no blog em fevereiro, Bruno Viana oferece isso.
Dentro das ideias desenvolvidas no rubro-negro e encampadas por Ceni, os fatores listados acima são primordiais para um bom funcionamento do time. Há quase sempre pouco espaço no terço final do campo. Fazer a bola chegar com qualidade e rapidez aos meias e atacantes é determinante. Pressionar em bloco após a perda da posse para retomá-la rápido é outra condição decisiva para achar espaços com mais facilidade. A equipe cresceu nesses aspectos na reta final do Brasileirão.
Bruno Viana fez apenas três jogos desde que chegou ao Flamengo. Hoje, na volta dos titulares contra o Bangu, não se sabe se iniciará a partida ou começará no banco. A primeira impressão é muito boa, causando elogios de torcida e imprensa. O recorte, porém, ainda é bem curto. O nível de enfrentamento não foi alto e logicamente os desafios serão outros diante de adversários mais qualificados. O que se deve analisar, entretanto, é a caraterística do jogador dentro do time. E o encaixe é perfeito.
Além de oferecer uma boa iniciação das jogadas, Bruno protege a área logicamente melhor que Willian Arão. É um especialista da função. Acaba sendo mais completo do que Gustavo Henrique e Léo Pereira, que não gozam de prestígio com os torcedores e possuem deficiências que são constantemente expostas pelo modelo de jogo da equipe. Parece ser questão de tempo para que Ceni perceba isso.
O retorno de Arão ao meio-campo daria mais combatividade ao setor também. Diego cumpriu bem a função ao lado de Gerson, mas sua intensidade não ultrapassa os 60 minutos ao longo de uma partida. Natural pela idade e característica de seu futebol. Nunca foi um jogador voltado à parte defensiva. Arão não é um exímio marcador, mas evoluiu demais como primeiro homem de meio desde a passagem de Jorge Jesus.
Talvez até possamos ver um camisa 5 um pouco mais voltado a chegadas no ataque em comparação ao comportamento dele entre junho de 2019 e novembro de 2020, quando foi especificamente um volante de iniciação das jogadas e de proteção. Quase sempre por trás da linha da bola, próximo aos zagueiros, fazendo as transições e o balanço defensivo. Filipe Luis vem cumprindo esse papel com Ceni em diversos momentos, como mostrei aqui.
O Flamengo foi certeiro na aquisição de Bruno Viana e sua efetivação no time diminuiria até mesmo o desequilíbrio do elenco pensando a médio prazo. Com Arão no meio, a volta de Thiago Maia, e o crescimento de João Gomes e Hugo Moura, Gérson pode ser escalado mais à frente nas ausências de Everton Ribeiro e Arrascaeta, que devem sair bastante para as Seleções num ano repleto de Datas Fifa. Isso se o próprio Gérson não for convocado, outro fator que levanta a necessidade da volta do camisa 5 ao meio de campo.
Retirado de: Rodrigo Coutinho/UOL