Em meio a uma crise global , o Flamengo tem procurado soluções para manter suas altas receitas de televisão e marketing. Em relação à TV, o desafio é criar um novo modelo no Carioca para ganhar com direitos de transmissão. Em termos de patrocínio, a meta é ocupar de novo espaços na camisa e cumprir a expectativa de aumento neste item prevista no orçamento – ficaria próximo do patrocínio da Crefisa.
É o que conta o vice-presidente de Comunicação e Marketing do Flamengo, Gustavo Oliveira, em entrevista ao blog.
Sua estimativa é que o Flamengo ganhe mais de R$ 10 milhões com o Carioca principalmente com base na arrecadação do pay-per-view. O dirigente reconhece problemas neste primeiro ano por causa da adaptação, inclusive nas três primeiras transmissões da FlaTV+. Mas vê como vital para o clube criar alternativas ao modelo anterior de televisão mais centrado na Globo. Por isso, a FlaTV+ seguirá após o Carioca para assinantes.
No caso do patrocínio, Gustavo Oliveira conta que há negociações em andamento para as costas e manga da camisa, entregando principalmente o poder das redes sociais rubro-negras. Um parceiro para o calção está próximo de ser fechado. Mas diz que não abaixará preços e que, ano a ano, o Flamengo tem crescido o valor com patrocínios.
O valor total previsto no orçamento é de R$ 148 milhões em patrocínios para 2021, incluindo aí fornecedor, FlaTV, etc. Não é uma meta fácil, como reconheceu Gustavo Oliveira. Quando concluídas as negociações em curso, sua estimativa é que só o uniforme rubro-negros atinja um valor próximo, talvez um pouco inferior, ao pago pela Crefisa ao Palmeiras – atualmente esse valor é de R$ 81 milhões.
Blog: Por que a opção por esse novo modelo de negociação de direitos do Carioca em vez do tradicional com venda total para a Globo?
Gustavo Oliveira: Não é só uma opção da Ferj, do Flamengo. É o futuro. Temos visto o resultado fora do país. Não temos mais uma empresa que domine todos os meios. Acontece ainda no Brasil. Gosto sempre de falar, nada contra a Globo que é o maior parceiro comercial do Flamengo e do Brasileiro. Mas a gente precisa trazer novos players para o nosso mercado. Traz para a relação dos clubes, trouxe a Record, o Facebook, as teles em um contato direto conosco. Entram outros players importantes para nosso mercado. É um fatiamento mais difícil de fazer. Abre para outras empresas. É o processo que acontece fora do país. No Brasileiro, será um modelo diferente do que está acontecendo. Foi um sucesso no Carioca. Com todas as dificuldades do pioneirismo. Decidimos pelo modelo menos de 15 dias antes de começar o campeonato. Teve pouco tempo para patrocinadores, de acertar melhor os detalhes.
Blog: Como estão até agora os números de venda da FlaTV+?
Gustavo Oliveira: Não vou falar números. Estou muito satisfeito com a FlaTV+. Continuo a ter a FlaTV que vai virar a segunda do mundo: deve passar o Real Madrid neste semestre se tudo correr bem. Vai continuar gratuita. Tem treinos, programas de entrevistas e o jogo do Carioca em áudio, FlaTV normal. É monetizada por meio de patrocinadores. Isso é uma coisa. Vai continuar a ser como se fosse a Rede Globo. FlaTV+ tem como base o assinante, a monetização é o assinante e não o patrocinador. FlaTV normal se paga totalmente, e ela dá um lucro do dobro do custo dela. FlaTV+ era para começar com esquema de assinante do Flamengo. A torcida assinaria pagando R$ 10, R$ 15 e teria tudo que tem e algumas entrevistas exclusivas, programa exclusivo, um treino inteiro. Isso é um projeto que a gente vai inaugurar final de abril e começo de maio. Abriu-se uma possibilidade do campeonato Carioca em seu PPV. Foi aí que a FlaTV+ começou, com o lançamento do Carioca. Ela não se encerra com o Carioca, mas não posso transmitir as outras competições. No Carioca, vou ganhar mais do que na venda com as teles. O modelo das teles deixa mais ou menos em torno de 50%. Isso é uma diferença. Eram R$ 18 milhões pelo contrato da Globo (no Carioca). A FlaTV+ dá 100% para o clube. É complementar às teles. Disputa em algum sentido entre o PPV das teles e dos clubes. Um cara não tenha uma SKY. Se quiser tiver o PPV, ele pode ter via clube em uma OTT. “Está elitizando”, dizem. De certa forma, não. Globo não transmitia todos os jogos, Record também passa só alguns. Tem a venda pelas teles. Agora tem os clubes vendendo.
Blog: Será um negócio melhor para os clubes em relação ao contrato anterior em termos de valores?
Gustavo Oliveira: Não acredito que esse modelo daria a curto prazo mais dinheiro. Mas não sei se o modelo dos R$ 18 milhões dos clubes ia continuar. “O Flamengo quebrou o modelo”, dizem. Não quebrou o modelo, deixou de assinar um contrato novo. Em 2020, a gente não entrou. A Globo podia ter continuado com os outros clubes. Não sei se continuaria. A Globo ofereceu R$ 45 milhões para este Carioca. O que daria para o Flamengo R$ 6 milhões. Isso a gente vai passar em muito com o modelo atual. O todo deve dar mais de R$ 10 milhões. Tem a venda da Record que não é muito dinheiro, mas que foi importante. Tem a venda de patrocínio, naming rights, que foram prejudicados pela pandemia. Foram prejudicados também pela falta de tempo.
Blog: E a venda do pay-per-view: foi prejudicada?
Gustavo Oliveira: O PPV ficou confuso. Foi prejudicado porque ficou confuso. As pessoas ficaram na cabeça que pagava Premiere e tinha o Carioca. O contrato do Premiere é para o contrato do Brasileiro. Acabava que esses R$ 18 milhões [do contrato antigo da Globo] incluíam o Carioca nos direitos. Agora o torcedor vai lá e não tem o Campeonato Carioca. O contrato, na realidade, é referente ao Brasileiro e não ao Carioca. O próprio modelo de comercialização foi mais confuso agora. Para o ano que vem, vai ter um hábito melhor. A audiência da Record foi afetada porque mudou dia de jogo. Jogos antes eram na quarta-feira, é um pouco confuso, tem que se adaptar à grade da Record. Tenho esperança de que seja melhor em 2022. Acho que vai entrar para o Flamengo e para os outros clubes. Mais importante é um modelo diferente que a gente tem que experimentar. É um modelo que acontece no mundo inteiro. É importante. Como modelo novo, tem todas essas questões.
Blog: Houve problemas nas transmissões da FlaTV+ também. O que aconteceu? Por que foi escolhida a Brado TV que era uma plataforma menos usada no mercado?
Gustavo Oliveira: Primeiro jogo foi um problema mais sério. No segundo, menos sério. No 3º foi um grupo específico. Acertamos o modelo de transmissão e nos últimos três jogos não tivemos problema nenhum. É um processo. Seria muito mais simples, conversei com o Landim, seria mais simples ficar com os louros da FlaTV normal, terceiro do mundo, para segundo mundo. Um processo de FlaTV+ é uma oportunidade. Demora um tempo, criamos uma plataforma própria, não alugar uma que existe Os dados serão do Flamengo, toda a operação será do Flamengo.
Blog: Por que foi escolhida a Brado TV que era uma plataforma menos usada no mercado?
Gustavo Oliveira: Esses caras estavam investindo bastante. Esses caras fizeram proposta comercial interessante. Podemos sair do contrato com facilidade, tem período de experiência deles conosco. A segurança tecnológica e as vantagens comerciais que nos deram pesaram. A facilidade da operação para o Flamengo que, no momento que quiser, sai. Não compromete o futuro. A gente achou por bem escolher a Brado. A saída da Brado é muito fácil. Temos um acordo que não penaliza o Flamengo. Fizemos um processo seletivo com outras empresas, e a parte tecnológica também pesou. Outras amarravam mais na parte financeira. Tínhamos rapidez para fazer o campeonato Carioca.
Blog: Outro assunto que tem gerado críticas no cube é a questão do patrocínio. No início da temporada, o clube tinha quatro espaços vazios no uniforme, um agora será preenchido pela Moss. Como o clube está trabalhando isso? Há a possibilidade de se atingir as metas previstas de patrocínio no orçamento?
Gustavo Oliveira: Em 2019, tínhamos mais ou menos quatro ou cinco espaços na camisa. Não tínhamos patrocinador máster, Caixa Econômica estava saindo. Caiu pela metade, em janeiro, o patrocínio. Quando a Caixa sai, isso tirou quase R$ 200 milhões do mercado. Todos os clubes começaram a fazer loteamento, promoções, quem oferece por menos. Perdeu-se 30% do mercado. Ao final do ano de 2019, a gente chegou a 1,8, 1,9 vezes o que tínhamos antes. Pessoal fala: “Foi fácil porque ganhou a Libertadores”. Pessoal esquece que teve a maior tragédia de todos os tempos do clube que foi o incêndio do Ninho do Urubu. Tivemos durante três, quatro meses seguidos, porrada dia, sim, dia não, por causa da tragédia. Imagem do Flamengo foi muito afetada por isso. Foi uma dificuldade para conseguir. Ninguém queria ficar junto com o Flamengo. Na época, conseguimos o BS2, que acabou dando R$ 18 milhões por ano. Foi o maior patrocinador da época. Em 2020, tínhamos os contratos fechados. O BS2, se chegasse o novo patrocinador, eles igualariam ou abririam mão do patrocínio. Com a pandemia, falaram em não renovar. Eles saíram e repusemos com BRB. Em 2020, nós crescemos 17% de receitas na camisa. As pessoas falam que “É fácil porque time ganhou”. No meio da pandemia, mantivemos e ficamos com 17% a mais. Qualquer empresa de comercialização estaria comemorando muito. Pessoas, no Flamengo, pensam que tem dinheiro no mercado com facilidade. Esse ano, estão com quatro espaços vazios. Primeiro tínhamos vendido calção, meia. MRV saiu em 1º de março: acabou o contrato em dezembro, esticamos os contratos em dois meses. Costas têm um mês de vazio. Calção tinha R$ 4 milhões de patrocinador e ele simplesmente não pagou (Union Life). Levantamos os dados deles, tudo certinho, aí ele atrasou um mês, dois meses, e estamos na Justiça para receber. Não pagou três meses, vamos correr atrás. No meião, uma empresa que fechou não conseguiu autorização da Anvisa do remédio. E aí surgiu a Moss, que estamos levando para o Conselho de Administração, R$ 3,5 milhões. Por que estão pagando isso? Pela mídia social e Fla TV. O contrato de camisa do Flamengo não é só camisa, vem revestido de mídia social. O que não comercializou foi a manga. Não posso vender barato demais meus ativos. Tenho clientes que estão pagando os preços justos dos ativos. Se o mercado está cobrando muito menos, é problema do mercado. O BRB falam que foi político. Ora, as ações do BRB, quando assinou com o Flamengo, valorizaram R$ 500 milhões. Multiplicou algumas vezes seu valor. BRB sai de um banco regional para um visão nacional.
Blog: Como funciona exatamente o negócio entre Flamengo e BRB?
Gustavo Oliveira: BRB não é patrocínio, é parceria comercial. Montamos um banco junto em que o Flamengo e BRB vão fazer uma empresa junto, 50% é do Flamengo, 50% do BRB. No futuro, pode até ser vendido esse banco. Hoje tem 250 mil contas do banco Flamengo BRB. O que acontece: o potencial é enorme de faturamento. Só que a gente sabe que colocar o patrocinador no Flamengo dá exibição para a marca. Por isso, temos um mínimo garantido dessa parceria. No primeiro ano, vou ganhar R$ 32 milhões, no segundo R$ 32 milhões com reajuste. Se passar de R$ 32 milhões – e no terceiro ano deve ultrapassar -, o Flamengo começa a faturar em cima da parceria, em cima de percentual de investimento em contas. Quando esse bolo passar de R$ 32 milhões, pode ser que receba R$ 40 milhões. Agora, enquanto não gera, o Flamengo ganha R$ 32 milhões.
Blog: Comparando com o maior patrocínio do país que é a Crefisa, o Flamengo entende que vai arrecadar igual considerando todo seu uniforme que foi o que o Palmeiras vendeu?
Gustavo Oliveira: Se não está igual a Crefisa vai chegar muito próximo quando vendermos as costas e a manga. Ou vai ficar quase igual ou pouco menor. Será muito próximo do que paga. Não é um modelo comparável. Mais uma semana posso estar divulgando o patrocinador de calção, uma empresa tradicional, mas nova no mercado. Estou muito contente. Estamos detalhando coisas de contrato, tem processo de compliance da empresa. É uma empresa que não está no mercado de futebol do Brasil. Costas e manga estamos com três propostas andando. Uma é a Itapemirim que já foi divulgada. Mas não está quase fechado como falaram. As outras não estão frias, mas não estão quentes. Estamos entendo o processo de negociação. Duas empresas estão mais próximas.
Blog: E será possível cumprir o orçamento na parte de patrocínio? Recebi a informação que faltavam R$ 20 milhões pelos espaços vazio?
Gustavo Oliveira: Se fecha mais dois, dá mais R$ 20 milhões. Pensamos além da camisa. É vender na FlaTV, que agora tem contrato com Ambev, temos contrato do BRB, com Pepsi, com Cyrella. A FlaTV virou um lugar para patrocínio. Tem várias empresas de porte grande e outras menores que têm usado a FlaTV como uma mídia normal. Espero que sim [cumpra o orçamento]. Não posso garantir ainda. Uma empresa que estava para fechar a negociação e avisa que tem que fechar as lojas. Algumas empresas não conseguem fazer o produto pelas restrições da pandemia. O mercado está difícil com a pandemia. Esse ano parecia que andaria normalmente? Não tem ativação com torcida.
Blog: Outro ponto em que houve queda de arrecadação foi o sócio-torcedor. Quais são os números e o que fazer para retenção desse sócio sem ingresso de jogo para vender?
Gustavo Oliveira: Antes da pandemia tinha 120 mil sócios, o número exato era 125 mil. Perdemos, de lá para cá, mais de 50% do sócio-torcedor [está em torno de 60 mil]. É uma posição bacana do sócio que fica por contribuir. Pretendemos dar uma condição de entrar na FlaTV+, onde ele pode ter mais informações. Agora o grande atrativo era o matchday. A gente imaginou que podia voltar no início do ano [público]. No final do ano, o problema da covid vinha descendo e a segunda onda pegou todo mundo, não de surpresa, mas um pouco inesperada uma onda tão forte. Nós imaginamos que o Carioca poderia ter público lá atrás. Já podíamos dar benefícios para o sócio-torcedor. O sócio teria prioridade nisso. O que fazer: está tentando oferecer benefícios, trocar por camisa, alguma experiência.
Blog: Mas haverá benefício na FlaTV+ por exemplo?
Gustavo Oliveira: Isso com certeza, a gente vai ter um projeto. A assinatura da FlaTV+ vai ter isso. Com FlaTV+, ele vai ter um benefício. A gente vai oferecendo mais vantagens.
Créditos do texto: Blog do Rodrigo Mattos – UOL