A marca do empate sem gols entre Flamengo e Vélez Sarsfield no Maracanã foi a lentidão. No primeiro tempo, particularmente, as transições de defesa e ataque dos times muitas vezes lembravam amistosos ou futebol de masters. Muitos espaços, jogadores conduzindo a bola vagarosamente, nenhuma aceleração.
Pareciam times sem muita vontade de terminar na liderança do Grupo G, talvez temendo um cruzamento precoce com Boca Juniors ou River Plate já nas oitavas. Ainda assim, o time rubro-negro teve as chances mais claras, como o chute de Arrascaeta na trave no início do jogo e a finalização por cima de Vitinho no final, livre dentro da área.
Terminou com 58% de posse, depois de um primeiro tempo com apenas 47%, e 15 finalizações contra 12, seis a dois no alvo. Mas a impressão no “returno” do grupo não foi boa, com três empates depois das três vitórias iniciais. De positivo, apenas a meta de Diego Alves não vazada desta vez.
Na coletiva depois da partida, o treinador Rogério Ceni justificou a baixa intensidade com o desgaste físico e mental da decisão do estadual, lembrando a derrota por 3 a 1 para o Vasco logo depois do título da Supercopa do Brasil. Faz sentido, principalmente se olharmos para a sequência de partidas na temporada.
Estreia com titulares contra Bangu e Madureira como preparação contra o Palmeiras. Derrota para o Vasco, depois rodando elenco no Carioca priorizando a Libertadores. Para em seguida dar atenção maior ao Fluminense na decisão e empurrar com a barriga o torneio continental com três empates.
Nos resultados, o saldo final foi positivo: dois títulos e a liderança de um grupo relativamente forte. Mas os sinais para a sequência da temporada, com o nível de competição subindo no Brasileiro e nos mata-matas nacional e sul-americano, não são nada promissores.
O elenco do Flamengo é formado basicamente pelos nove titulares do lendário time de Jorge Jesus, mais Diego Ribas que foi uma espécie de 12º jogador. O irregular Isla, reposição de Rafinha, e os zagueiros Gustavo Henrique, Léo Pereira e Bruno Viana, tentativas frustradas de um substituto à altura para Pablo Marí que obrigaram Ceni a improvisar Willian Arão na zaga.
Na lateral esquerda é injusto pedir equilíbrio entre Filipe Luís e os reservas Renê e Ramon. Porém, do meio para frente, só o atacante Pedro é “ponta firme”. Vitinho e Michael são muito irregulares e os demais são jovens. João Gomes é promessa de bom meio-campista, mas não parece pronto para suceder Gerson naturalmente.
O camisa oito deve confirmar a saída para o Olympique de Marselha. Algo em torno de 25 milhões de euros, mais aditivos por metas. Uma proposta que nitidamente vem mexendo com a cabeça de Gerson, que jogou muito mal contra Fluminense e Vélez. Disperso, irritadiço, prendendo demais a bola.
O Flamengo afirma que a grana servirá para renovar contrato com aumento substancial a De Arrascaeta. Também quitar parcelamentos, como as compras de Pedro e Gabigol. Justo e responsável, mas para ser forte no segundo semestre é preciso ir às compras.
Talvez nem tanto para a vaga de Gerson. Se Thiago Maia voltar bem, o possível investimento em contratações pode ser direcionado para outras posições.
Como a zaga, que precisa de um parceiro realmente confiável para Rodrigo Caio. Ou um atacante de velocidade para a reserva de Bruno Henrique, sem precisar recorrer exclusivamente a Michael. Ou juntar Pedro e Gabigol na frente, uma solução que se mostra complexa para a maioria dos jogos.
Essencial mesmo é um meia para competir com Everton Ribeiro, ainda absoluto por pura falta de opção. Se este for negociado com o “mundo árabe”, o elenco precisaria de dois. Com características semelhantes às do camisa sete: organizador e que ajuda os volantes na marcação. É a maior carência no elenco. Vitinho é atacante e funciona melhor por trás do centroavante, para driblar e finalizar.
Sem possibilidade de investir alto, que se busque oportunidades de mercado. A diretoria rubro-negra gosta de grifes, mas um estudo criterioso sobre o próprio mercado sul-americano pode apontar alternativas para encorpar um elenco desigual e que vai sofrer com convocações que devem comprometer 19 rodadas, ou metade, do Brasileiro. Seja com desfalques ou empilhando jogos por conta de adiamentos.
Porque a partir de agora, se o time “escolher” jogos para se dedicar, algo grande vai ficar pelo caminho. O sarrafo ficou alto para o bicampeão brasileiro. É o time a ser batido, a concorrência parece mais forte e todos jogam a vida contra o mais badalado. Os onze de dois anos atrás já são nove e podem ser reduzidos a oito ou sete. Está na hora de renovar para seguir fazendo história.
Retirado de: UOL