Nem em seus sonhos mais delirantes, Renato Gaúcho (ou qualquer rubro-negro) poderia imaginar começo tão espetacular. Quatro jogos, quatro vitórias, três goleadas, 100% de aproveitamento. A última delas especialmente significativa, por ser sobre um rival, o São Paulo, que há anos o Flamengo não conseguia derrotar – nem o magnífico time de Jorge Jesus foi capaz disso, empatando nas duas vezes em que se defrontaram.
Bruno Henrique foi o nome da partida, o craque que desequilibrou um duelo que até então se mostrava parelho, até com certa vantagem para o tricolor paulista, que vencia por 1 a 0. Ele marcou quatro gols, um deles corretamente anulado pelo VAR, virou o jogo e abriu caminho para uma goleada implacável, que, justiça seja feita, não espelhou fielmente o que aconteceu no excelente duelo entre dois dos melhores times do país.
Mas esse é o Flamengo, formado por jogadores excepcionais que mesmo quando alguns atuam mal (e Gabigol esteve irreconhecível diante do São Paulo), são capazes de brilhar individualmente e garantir vitórias impactantes como a desse último domingo. Basta o treinador não atrapalhar.
A metamorfose do Flamengo de Rogério Ceni para o de Renato Gaúcho é extremamente vantajosa para o atual treinador e absolutamente devastadora para o antigo. Que diferença! Algumas mudanças táticas são evidentes, a principal delas, desfazer a invenção de William Arão na zaga e Diego de primeiro volante. O maior ganho, entretanto, é a transformação do ambiente. Os jogadores estão encantados com Renato. E não gostavam nem um pouco de Ceni. E que diferença isso faz. O time voltou a jogar com prazer, com alegria.
O modo de jogar do Gaúcho, ainda em processo de implantação, se assemelha bastante ao de Jesus. E não tem nada a ver com o que tentou implantar Rogério, sem sucesso. Vamos falar sério? Não há legado algum do antigo treinador. Zero. A única coisa positiva de sua passagem foi sua saída. O Flamengo ganhou o Brasileiro de 2020 apesar de Ceni, não por causa dele. Andrade, em 2009, teve muito mais méritos.
Quando dirigia o Grêmio, e foi espancado pela irresistível equipe de Jesus, Renato costumava dizer que se tivesse um elenco de R$ 200 milhões também seria campeão de tudo. A oportunidade está aí. O Flamengo tem condições de ganhar a Libertadores, o Brasileiro e a Copa do Brasil? Jogando como voltou a jogar, sim. Não é fácil. É muito difícil. Mas impossível, não é.
A Libertadores me parece o título mais próximo. Faltam apenas cinco jogos, quatro deles, teoricamente, mais fáceis: Olímpia e Fluminense ou Barcelona de Guayquil. Do outro lado, Atlético Mineiro, River Plate, Palmeiras e São Paulo se matam. Apenas um sairá vivo e chegará à final. O Flamengo pegou o caminho mais fácil.
Dependendo dos próximos resultados, acho que será até natural o rubro-negro carioca priorizar a principal competição do continente. Mas se seguir ganhando, o Brasileiro também é possível. Bem como a Copa do Brasil. Isso seria possível com Rogério Ceni? Obviamente, não! A chegada de Renato Gaúcho foi altamente benéfica. A conferir até onde ele poderá ir. Por enquanto, o céu é o limite.
Créditos do texto: Renato Mauricio Prado – UOL