Quando os quatro avançados jogam bem, o Flamengo não perde pra ninguém. A frase, que deve ser lida com o tradicional sotaque lusitano, é atribuída a Jorge Jesus, em conversa com um amigo brasileiro, numa conhecida churrascaria da Barra da Tijuca. E até hoje reflete fielmente o que acontece no rubro-negro carioca.
Às vezes nem é preciso que o quarteto (formado por Arrascaeta, Éverton Ribeiro, Gabigol e Bruno Henrique) brilhe junto. Contra o São Paulo, Bruno Henrique decidiu praticamente sozinho. Mas quando os quatro estão inspirados, sai da frente. E foi o que se viu na goleada (mais uma) sobre o ABC, em jogo válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
O adversário era fraco, sem dúvida. Mas desde que Renato Gaúcho substituiu Rogério Ceni já foram quatro goleadas em cinco jogos, com 100% de aproveitamento, 21 gols a favor e apenas dois contra. Com triunfos significativos nas três competições que disputa: Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil.
Impossível não reconhecer o início avassalador de Portaluppi à frente do elenco que foi seu maior algoz, quando dirigia o Grêmio. Se sofreu cinco gols do time de Jesus, na semifinal da Libertadores de 2019, o Gaúcho agora coleciona goleadas dirigindo o elenco que o humilhou. Grupo que sempre quis dirigir, como admitiu francamente na entrevista pós-jogo no Maracanã.
Após a saída do português, diante da assustadora queda de produção do Flamengo, dirigido por Domènec Torrente, inicialmente, e Rogério Ceni, a seguir, inúmeros analistas proclamaram enfaticamente que era impossível voltar a jogar como em 2019 e no início da temporada 2020.
— Cada técnico tem os seus métodos, as suas convicções. Os treinamentos são diferentes, as ideias e as instruções também. É impossível replicar o jogo praticado por Jorge Jesus – bradavam, convictos..
Que tolice! Renato chegou, conversou com os jogadores e o time voltou a praticar um futebol envolvente, avassalador, bem semelhante ao dos tempos épicos de Jorge Jesus. Há algumas modificações táticas, como a marcação individual da defesa, nas bolas aéreas? Há. Mas são nuances que não alteram o principal.
Arão voltou para a cabeça de área, Diego agora ocupa a posição que era de Gerson e os quatro avançados jogam basicamente da forma que atuavam com Jesus: Arrascaeta e Éverton Ribeiro como meias e Bruno Henrique Gabigol como atacantes. Sem posições fixas, rodando por todos os setores do ataque, com tabelas, triangulações e passes precisos e preciosos, graças ao enorme talento que possuem.
E aí, sem maiores “análises de desempenho” (Meu Deus, como pululam analistas de desempenho agora nas redes sociais!), o que vale é a velha máxima do português: quando os quatro avançados jogam bem, o Flamengo não perde pra ninguém.
A missão de Renato, cumprida com louvor até agora, é lhes dar condições, liberdade e motivação para jogar o que sabem e podem. Algo que Dome e Ceni foram incapazes de fazer. Um porque cismou em engessar o time num esquema posicional radical, outro porque também flertava com o “jogo de totó” e, o mais grave, foi incapaz de conquistar o grupo.
O Flamengo de Renato será capaz de ganhar a Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileiro? Impossível dizer. Mas, com ele, voltou a valer a velha máxima de Jesus: quando os quatro avançados jogam bem, o Flamengo não perde pra ninguém. Aí, o céu é o limite. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
Retirado de: UOL