Flamengo refina filtro na base e fatura R$ 65 milhões com departamento de transição

Yuri César posa para foto com a taça do Campeonato Carioca (Foto: Reprodução/Instagram)

A decisão de Renato Gaúcho em poupar os titulares contra o ABC na Copa do Brasil fez o Flamengo levar para Natal um elenco alternativo. Ao todo, viajaram 11 jogadores do sub-20: o lateral-esquerdo Ramon foi titular e os demais compuseram o banco de reservas inteiro na vitória por 1 a 0.

O número é expressivo e acontece em um momento simbólico: em julho, a criação do departamento de transição do Flamengo completou dois anos. Idealizada pelo presidente do clube, Rodolfo Landim, a pasta surgiu justamente para refinar o filtro na passagem de jovens promessas para o elenco profissional e também para encontrar formas de ganhar dinheiro com aqueles que não têm projeção de serem utilizados a curto ou longo prazo.

— Quando pensamos no departamento, a ideia era valorizar o investimento que fazemos em nossos jogadores da base. A concorrência no elenco é grande, mas não podemos deixar de pensar nos meninos que estão surgindo, pois são nosso patrimônio. O trabalho tem sido muito bem feito desde o início, gerado bons frutos para o clube e os atletas envolvidos que, quando voltam, chegam também mais preparados, amadurecidos, para o desafio de vestir a camisa do Flamengo. No final, todos saem ganhando – disse Landim ao ge.

Ramon Ramos durante treinamento no Ninho do Urubu (Foto: Reprodução/Instagram)

Responsável por tocar a pasta, Carlos Noval já foi diretor geral da base e também do futebol profissional. Cabe a ele cuidar de uma estrutura que permite filtrar melhor aqueles que se integrarão a um elenco estrelado, com pouquíssimas brechas.

Contra o ABC, por exemplo, apenas o lateral-esquerdo Ramon foi titular, mesmo com o grupo principal poupado. No banco, nomes badalados da base, como o zagueiro Noga, o volante Daniel Cabral e o atacante Lázaro entraram no segundo tempo.

Dos 11 jogadores do sub-20 relacionados, apenas quatro ainda não estrearam no profissional: o goleiro João Fernando, os laterais Luan e Ítalo e o atacante André.

Rodolfo Landim em entrevista coletiva no Ninho do Urubu (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Negociações de jogadores rendem R$ 65 milhões

Mas há outra incumbência para o departamento que vem sendo importante para o Flamengo nestes dois anos. Com cada vez menos espaço no elenco profissional, é preciso achar formas de receita com aqueles jogadores que não terão oportunidade.

Se num passado recente, diversos jovens revelados pelo clube estouravam a idade de base e ficavam sem espaço, a meta agora é fazer dinheiro e também desonerar a folha salarial.

Seja através de vendas diretas ou empréstimos remunerados, o Flamengo estima que o departamento de transição já rendeu R$ 65 milhões ao clube. A economia na folha salaria é calculada em cerca de R$ 3 milhões. Alguns exemplos são:

  • Vinicius Souza, vendido ao Lommel SK, da Bélgica, por R$ 16 milhões;
  • Caio Roque, vendido ao Lommel SK, da Bélgica, por R$ 10 milhões;
  • Yuri César, vendido ao Al Shabab, dos Emirados Árabes, por R$ 31 milhões;
  • Matheus Sávio, vendido ao Kashiwa Reysol, do Japão, por R$ 5 milhões;
  • Bill, emprestado ao Dnipro, da Ucrânia;
  • Richard Rios, emprestado ao Mazatlán, do México.

Hoje, há atletas emprestados com opção de compra ou percentual de venda de futura espalhados em países como Israel, Chipre, Espanha, Portugal e Ucrânia. Eles são monitorados com relatórios quinzenais pelo departamento, analisando a minutagem e o desempenho dos jogadores.

Cerca de três meses depois de assumir a gerência de transição, Noval fez uma viagem à Europa e visitou cerca de 10 clubes, uma forma de abrir portas, conhecer e ter ligação direta com as pessoas responsáveis em cada clube, pensando em parcerias para futuros negócios.

Com a pandemia de coronavírus, não foi possível dar continuidade em 2020, quando a ideia era viajar a outros continentes. O objetivo é retomar o planejamento em breve – já houve, por exemplo, conversas com representantes da MLS, a liga de futebol dos Estados Unidos.

— Temos algumas negociações em andamento. (Os planos são) continuar negociando alguns atletas nesta janela e na de janeiro. A pandemia atrasou alguns projetos de expandir as parcerias com clubes na América do Sul e fortalecer outras, na Europa. Com o tempo essas situações serão ajustadas – disse Noval ao ge.

Carlos Noval em visita do Flamengo ao Ajax, ainda em 2019 (Foto: Arquivo Pessoal)

Acompanhamento de perto no sub-20

Além dos negócios, há também o foco em melhorar a chegada de jovens promessas para o profissional. Noval foi o responsável por implementar os processos inerentes ao departamento, que trabalha em proximidade com a base. A ideia é ter um acompanhamento mais profundo dos atletas.

O foco de Noval está no sub-20, mas o gerente também observa a equipe sub-17. Há contato frequente e troca de informações com os funcionários destas categorias. O alinhamento com o futebol profissional é feito diretamente com Fabinho, gerente de inteligência e mercado, e Juan, gerente técnico.

Cabe ao ex-zagueiro, por exemplo, estar em contato com o treinador do profissional. Quando há solicitação de atletas da base para treinar em cima, são Juan e Noval quem dão a indicação de quem tem o perfil mais adequado para o momento.

O Flamengo também trabalha com um conceito de linha de sucessão. O clube faz um espelhamento de nomes de cada posição do profissional até o sub-11. Assim, é possível enxergar carências, mapeá-las e, se necessário, solucioná-las com a captação de jogadores fora do clube.

— Os planos do departamento estão focados no desenvolvimento de todas as valências dos atletas do Sub-20 para que cheguem cada vez mais bem preparados no profissional. No futuro, é importante continuar investindo no crescimento do departamento para que se consolide como instrumento de grande ajuda para o futebol do Flamengo – completou Noval.

Juan acompanha treino do Flamengo com Renato Gaúcho (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

O Plano de Desenvolvimento Individual

O filtro na base para trabalhar melhor as promessas ganhou um reforço nos últimos meses, com a criação do Plano de Desenvolvimento Individual, o PDI. Comandado pelo ex-lateral Gilberto, revelado pelo clube, o programa foi implementado por Luiz Carlos, gerente da base, em conjunto com Noval e Juan.

No PDI, foram selecionados 30 atletas da base, a partir do sub-15, identificados como jogadores com potencial para se tornarem atletas de alto rendimento. Eles recebem acompanhamento especial. No contraturno dos treinos, realizam atividades complementares, desde apoio psicológico até acompanhamentos fisiológico e nutricional, além de treinos físicos e técnicos.

Atualmente, por exemplo, o Flamengo está na final do Campeonato Brasileiro sub-17 e ocupa a quinta posição no torneio sub-20. São gerações de atletas promissores, que, caso não seja possível utilizá-los no profissional, poderão ser negociados para continuar a carreira e render algum tipo de retorno ao clube. A expectativa é de que a transição ganhe mais importância à medida que mais nomes surjam.

Queremos que (o departamento) seja imprescindível para o clube, enraizado, implementado em cada passo dos planejamentos do futebol. Contamos com grande incentivo do presidente, do vice-presidente de Futebol, do diretor executivo e também do Conselho do Futebol – finalizou Noval.

Retirado de: Globo Esporte