Saída de Messi do Barcelona dá exemplo para futura Liga do Brasil

Lionel Messi em ação pelo Barcelona (Foto: Divulgação/FC Barcelona)

O Barcelona anunciou a saída de Messi durante a semana passada após uma longa negociação. Clube e jogador tinham acertado até salários com uma redução significativa de seus ganhos. Mas regras financeiras da La Liga impediram a permanência do jogador.

Haverá quem pense: faz sentido uma regra de restrição financeira de uma liga que a leve a perder seu principal jogador? Isso não prejudica a própria La Liga?

A resposta simples é: a La Liga só tem Messi por esses anos todos porque é uma liga que leve minimamente a sério a saúde financeira de seus clubes. Não que seja um organismo desprovido de defeitos. Seu principal executivo, Javier Tebas, usou Messi para tentar forçar o Barcelona a assinar um contrato (explico mais adiante)

A gestão anterior do Barcelona – aquela que fez um negócio nebuloso para comprar Neymar ao Santos – endividou o clube com contratações milionárias. A dívida supera 1 bilhão de euros, segundo veículos europeus. A informação do novo presidente do clube, Joan Laporta, é de que a folha salarial representa 110% da receita do clube. Ou seja, gasta bem mais do que pode.

Neste cenário, o clube espanhol teria de cortar substancialmente sua folha salarial e obter novas receitas para bancar o salário de Messi. Com um mercado de transferência fraco, em meio à pandemia, não conseguiu se livrar de jogadores caros.

A equação não fechava pelas regras de fair play financeiro da Espanha. O regulamento de fair play – usado em países europeus – estabelece que os clubes têm que manter índices financeiros como déficit, gastos e dívida dentro de determinados limites. Ressalte-se que essas regras foram desmoralizadas no âmbito da UEFA pela falta de punição efetiva ao PSG que tem dinheiro de fora do futebol.

Na Espanha, a La Liga acenou com um contrato de venda de 10% das suas ações para o fundo de investimento CVC por 50 anos. Isso permitiria ao Barcelona receber dinheiro suficiente para bancar Messi. Era a manobra de Tebas para tentar forçar a assinatura. O time catalão não topou:

“Não tomar uma decisão que vai afetar o clube por 50 anos”, afirmou Laporta. “O clube tem 100 anos de cidade e está acima de todos e tudo, até maior jogador do mundo.”

Quantos clubes brasileiros teriam dirigentes que dariam declarações iguais? Quantos pensariam no longo prazo? Qual liga no Brasil imporia a perda de um craque como Messi por austeridade?

Há, no Brasil, o compromisso atual dos 40 clubes de formar uma Liga para organizador o Brasileiro. Há, na CBF, movimentos constates para protelar a implantação do Fair Play financeiro no país. O texto já está feito, o sistema desenhado, e a entidade vai jogando para o próximo ano, depois para outro, em seguida, estica mais um pouco.

Não se sabe se os clubes vão superar pedras no caminho para botar de fato na rua a Liga – inclusive divergências como essa disputa relacionado ao público. Mas é certo que, se querem construir um ambiente, um campeonato, um produto saudável, o caminho viável é o de modelos como o da La Liga ou da Bundesliga em que o futuro de um clube é mais importante do que um craque, a construção de uma história é maior do que sheiks.

Retirado de: Blog do Rodrigo Mattos