A Premier League e a La Liga anunciaram que seus clubes não vão liberar os jogadores para as data-Fifa das eliminatórias sul-americanas da Copa. Trata-se de um desrespeito à norma da Fifa. Os times decidiram confronta-la alegando que, em meio à pandemia de Covid, foram impostas decisões que os prejudicam sem sua anuência. Os movimentos dos clubes europeus são uma lição para as agremiações nacionais.
Contemos a história desde o início. Em meio à pandemia de Covid, a Fifa e a Conmebol adiaram jogos das eliminatórias do início do ano. Naquela ocasião, havia uma regra de que clubes não precisavam ceder jogadores para países onde fossem imposta restrição de quarentena na volta.
Para remarcar as datas, a Fifa criou grupos de discussão com clubes e associações nacionais. Ao final, ignorou as sugestões dos times europeus e impôs rodadas triplas na América do Sul. Derrubou a regra que permitia aos times não liberar jogadores por obrigação de quarentena.
A partir daí, clubes como Liverpool e City informaram que não iriam ceder os atletas, mesmo sendo obrigados. Com o apoio da Premier League, todos adotaram a mesma posição, vetando 60 atletas para jogar por seleções sul-americanas, como divulgado. Há uma contradição do governo inglês que impõe quarentena a viajantes do Brasil, mas permite públicos de 60 mil em estádios.
A La Liga fez o mesmo com outros 25 atletas. E disse que apoiaria demandas judiciais em favor dos clubes. No seu texto, a La Liga afirmou que a ausência dos jogadores “afeta a integridade da competição ao não permitir a a disponibilidade dos jogadores”. Ou seja, afeta o equilíbrio do campeonato desfalcar times por conta de seleções.
Há uma discussão aí sobre quem tem razão em relação a liberações, e sobre a importância do futebol de clubes e seleções. Mas é certo que a CBF solenemente ignora o impacto sobre o Brasileiro ao marcar jogos do durante a Copa América e eliminatórias. Só agora, no afogadilho, houve adiamentos.
E é aí que está a diferença entre a Europa e o Brasil: os campeonatos de lá são controlados por ligas que têm interesse em preservar sua competição e os interesses dos clubes. Aqui, o Brasileiro é organizado pela CBF que prioriza as suas seleções sobre os campeonatos. Há um óbvio conflito de interesse em a confederação cuidar das competições e dos times nacionais ao mesmo tempos.
Outra questão é que, quando há uma liga, a posição é de defender coletivamente todos os clubes e o campeonato, não atender interesses individuais. No Brasil, durante a Copa América, só Flamengo e Palmeiras pediram pela paralisação do campeonato porque eram os únicos que perdiam atletas para a seleção brasileira. Outros tinham desfalques menos relevantes para outras seleções.
Quem não era prejudicado, na realidade, acabou favorecido. Afinal, Flamengo, Palmeiras e, em menor medida, o Atlético-MG jogariam mais enfraquecidos durante várias rodadas. Mas o interesse coletivo do campeonato deveria ser parar a competição.
A Liga no Brasil está emperrada por uma briga na última reunião. Foi anunciada e comunicada à CBF em um encontro dos clubes na entidade. Das Séries A e B, 40 times assinaram. Foi feito um estatuto. E aí uma briga parou tudo.
Sua importância para o país não é apenas a organização do Brasileiro, mas a capacidade de aglutinar clubes para brigar por seus interesses coletivos e do campeonato. Exatamente como fizeram os europeus.
Retirado de: UOL/Blog do Rodrigo Mattos