Gabriel Barbosa, o Gabigol, colhe há dois anos os frutos de sua melhor fase dentro de campo. Artilheiro e campeão pelo Flamengo, convocado frequentemente para a seleção brasileira, o atacante é também um colosso fora de campo.
Só neste começo de mês, Gabigol já anunciou sua loja oficial em parceria com o Mercado Livre, renovou um acordo milionário com as sandálias Kenner, pediu a própria música que havia acabado de lançar no “Fantástico” após marcar três gols e, agora, prepara o lançamento de uma animação voltada para o público infantil.
Na mesma proporção em que acumula gols com a camisa do Flamengo, o atacante prolifera no ramo dos negócios. Tudo fruto de um trabalho paralelo que acompanha Gabi, como é apelidado o atacante, e envolve o staff que está junto dele desde o começo da carreira, ainda nas categorias de base do Santos.
A agência 4ComM é responsável por cuidar dos negócios de Gabi. O fundador Junior Pedroso é quem trata dos contratos com os clubes, enquanto Marina Nishitani, diretora de marketing, é responsável pelos acordos comerciais. Já Kaue Freitas, diretor de comunicação, gerencia a agenda de relações públicas.
A reportagem da Máquina do Esporte conversou na última semana com Marina e Kaue. A executiva estava iniciando um período de férias após fechar o acordo com a Kenner e lançar a loja com o Mercado Livre. Para ela, os dois negócios, junto da animação que deve sair em breve, mostram o quanto o produto “Gabigol” é bem aceito no mercado.
— Claro que a performance dentro de campo endossa o que a gente faz fora dele, mas acredito que esse poder de ativar a imagem do atleta é muito forte. Nos Estados Unidos, o pessoal faz isso de forma muito grande. Aqui ainda está começando, afirmou Marina.
A executiva é quem lidera as negociações com a marca de Gabriel, mas, segundo ela, nenhuma decisão é tomada sem a participação e o aval da família. Para exemplificar a relação, Marina contou que o lançamento dos quadros comemorativos da conquista da Libertadores de 2019 foi feito após o aval dos pais e de Gabriel, mesmo com a mãe não acreditando no projeto.
— Ela dizia que não venderia nada. Em 24h, os quadros estavam esgotados, relembrou.
O sucesso nos negócios, para ela, tem a ver também com o estilo irreverente de Gabigol.
— Tem muito o input dele no que faz e tem muita verdade no que faz. A campanha com a Kenner, por exemplo, é baseada no ‘redefina‘, ela fala dos haters. A gente sempre tenta trilhar por um caminho que faça sentido. Não posso botar o Gabriel para fazer propaganda de algodão doce, explicou.
O negócio com a Kenner é um exemplo. A linha de sandálias com a assinatura do atacante vendeu surpreendentes R$ 15 milhões no primeiro ano de parceria. Cerca de 5% a 10% do faturamento deve chegar ao atacante. Agora, o acordo foi renovado. E a expectativa é ainda maior, especialmente depois de o Mercado Livre decidir montar sua primeira loja com um atleta. O negócio, aliás, surgiu de um quase “problema” pelo uso da imagem do atacante.
Quando o acordo entre Flamengo e Mercado Livre foi anunciado, a marca de varejo usou o gesto de Gabigol para comunicar o acerto. O staff do atacante não chegou a ser consultado com antecedência para fazer a ação, como costuma ser feito. Quando Gabigol soube o que teria de gravar para o clube, ligou rapidamente para Marina e informou o que seria feito.
— A gente sempre busca ser audacioso, diferente, ousado. Tirando da personalidade dele. No caso do Mercado Livre, o Flamengo usou a imagem dele quase sem avisar antes. O Flamengo pode, mas geralmente precisa ser avisado antes. Na mesma hora em que aventamos a ideia (de criar a loja de Gabigol), o Mercado Livre veio atrás da gente, contou Marina.
A audácia era buscar um projeto inédito com a grande varejista on-line. Como havia a “dívida” criada pela ação de anúncio do patrocínio, Marina disse que era “o momento de tirar o projeto da loja do Gabi do papel”.
O próprio atacante mostra ter o faro apurado para os negócios. No dia 30 de agosto, uma segunda-feira, estava previsto o lançamento da música “Sei Lá”, que tem Gabigol como um dos cantores. No dia anterior, o atacante fez três gols contra o Santos pelo Campeonato Brasileiro. Assim, ele ganhou o “direito” de pedir uma música para ser passada durante o programa dominical “Fantástico”, da TV Globo. Na hora, o atacante autopromoveu o lançamento da música, que só iria ao ar no dia seguinte, no YouTube e no Spotify. Segundo Kaue Freitas, tudo saiu da cabeça do jogador, que não perdeu a oportunidade.
— O Gabriel é diferente, tem o jeito dele. Ele não tem meias palavras. Ele vai lá e faz, ele é antenado. Além disso, ele tem uma confiança para que tudo dê certo. Os três gols foram um exemplo. Ele não contou nada para ninguém. Aproveitou e fez, contou o executivo.
Atualmente, já são mais de 30 produtos licenciados com a marca de Gabigol. Nas próximas semanas, a Blue Man, famosa grife de roupas para natação do Rio de Janeiro, deve apresentar a linha criada em parceria com o jogador. A expectativa é de vender tão bem quanto a Kenner.
O sucesso nos negócios beneficia também o Flamengo, que por contrato fica com uma porcentagem sobre os negócios gerados pelo jogador. Mas o que vai acontecer se Gabigol voltar a tentar o sonho de se firmar na Europa?
— Não é uma decisão que a gente vá tomar, ela parte da família. Todo novo licenciado pergunta se ele vai embora. Ele já é o príncipe. Se eu fosse investir, como licenciado, eu faria o acordo. A marca dele é permanente, já está lá. Obviamente a gente adora que ele continue no Flamengo. Mas a gente não tem o poder de decidir, afirmou Marina Nishitani, para completar:
— Hoje ele tem duas propostas para ser embaixador de marcas internacionais. O que mostra que os países europeus estão olhando para uma possível transferência.
Há limite, então, para trabalhar a marca de Gabigol?
— O limite são as entregas dele. O tempo dele é limitado. Mas, para a gente, o céu é o limite, desde que não dependa da disponibilidade dele. Um exemplo é que vamos lançar ainda este ano um desenho animado do Gabigolzinho, com uma história legal, educativa, revelou Marina.
Para a executiva, o sucesso de Gabigol nos negócios mostra que o mercado de licenciamento “está acordando para o futebol”.
— O mercado aqui no Brasil não corresponde nem a 10% do que é nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. Acho que ele vai aos poucos aumentar. Tem potencial para isso. O Hulk, por exemplo, é um cara que tem ótimo potencial. É famoso no mundo todo. Mas é preciso achar o foco, o nicho e desenvolver uma imagem, um personagem, finalizou a executiva, que já começou a olhar de que forma pode ajudar outros atletas a trabalharem suas imagens para além do campo.
— Nos Estados Unidos, existe a NFLPA (National Football League Players Association). É algo que eu sou louca para fazer aqui no Brasil. É uma forma de pegar vários jogadores que têm um apelo comercial, mas que têm mais força vendendo conjuntamente a imagem, exemplificou a executiva.
Para quem conseguiu transformar um dos principais jogadores de futebol do Brasil em uma máquina de fazer negócios, esse sonho não parece ser algo muito difícil de ser realizado.
Créditos do texto: Máquina do Esporte – Erich Beting