Bizarrice de Renato e Cuca já foi usada por Guardiola em final de Champions

Renato Gaúcho durante o jogo entre Flamengo e Cuiabá pelo Campeonato Brasileiro de 2021 (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Faltou futebol aos dois principais candidatos ao título brasileiro nos jogos do fim de semana.

Atlético Mineiro e Flamengo protestaram, com mais ou menos razão, contra erros de arbitragem. São as “muletas” de sempre, com dois objetivos básicos: pressionar exigindo “isonomia”, mas querendo mesmo é ser beneficiado no próximo jogo. E, claro, desviar o foco do desempenho ruim e justificar um eventual fracasso no final da temporada. A arbitragem, VAR incluso, é ruim no Brasil e erra para tudo que é lado. Desde sempre.

Não adianta reclamar de adversários fechados. Ambos estão no olho do furacão, são os times mais visados. Todos querem visibilidade criando problemas para os favoritos. O Atlético-GO foi organizado e corajoso para buscar a virada em casa sobre o Galo; o Cuiabá de Jorginho negou espaços com muita concentração defensiva no Maracanã.

Mas era possível vencer, se as equipes de Cuca e Renato Gaúcho tivessem movimentos mais sincronizados e menos dependentes de ações individuais. Seja aproximando Arana, Nacho e Hulk, os mais talentosos no Atlético, seja aproveitando o entrosamento de uma base titular que vem jogando junta desde 2019 no Fla.

Desta vez os desfalques rubro-negros pesaram mais. Por falta de inspiração, mas também porque a volta de Gabigol e a consequente saída de Pedro, que nem no banco ficou por dores no joelho direito, mexeu nas características do ataque, que ficou um tanto incompatível. Porque quando o camisa nove circula pelo setor direito, a área adversária é preenchida por De Arrascaeta e Bruno Henrique. Andreas e Michael têm estilos e tipos físicos bem diferentes dos titulares.

Sem ideias, o Atlético apelou para 17 cruzamentos no segundo tempo, de um total de 26. O Flamengo levantou 46 bolas na área, 27 na segunda etapa. Com o jovem Vitor Gabriel na vaga de Gabigol, que teve dores estomacais, e, no final, Gustavo Henrique na vaga de Michael.

Substituição defensiva precisando vencer? Não exatamente. O zagueiro de 1,96 m se enfiou na área adversária para tentar aproveitar algum “chuveirinho” aleatório. Desespero mesmo. Uma bizarrice que Cuca não tentou em Goiânia, mas havia arriscado no final do empate por 1 a 1 com o Palmeiras no Mineirão que decretou, pelo gol “qualificado”, a eliminação do time de melhor campanha na Libertadores.

Cuca foi muito criticado, inclusive nesta coluna. Assim como Renato escancarou a falta de ideias para buscar o gol que garantiria os três pontos. Muitos dirão que os dois principais treinadores do país no universo dos clubes nos últimos anos mostraram que são fracos, se pensarmos nos principais centros do planeta. E terão muita razão.

Só que, particularmente, esse “recurso” um tanto grotesco foi utilizado por ninguém menos que Pep Guardiola, considerado por tantos, inclusive este que escreve, o melhor técnico do mundo. O maior deste século, talvez.

E não foi em uma partida aleatória, sem maior relevância. Usou no grande Barcelona, maior time que este colunista viu jogar. Semifinal da Liga dos Campeões 2009/10. Diante do “ferrolho” da Internazionale montado por José Mourinho e precisando tirar uma desvantagem de dois gols no Camp Nou, o treinador catalão mandou Gerard Piqué se enfiar como centroavante para receber bolas alçadas.

Conseguiu ir às redes apenas uma vez, com o próprio Piqué. Não foi suficiente e a eliminação foi o primeiro grande revés da carreira de Guardiola no mais alto nível.

Um fã mais ardoroso e com memória muito ruim dirá que foi fato isolado, um equívoco de um profissional no início da nova carreira. Mas Guardiola apelou também para um “zagueiro-centroavante” na última final da Champions. Diante do Chelsea bem fechado, o português Rúben Días foi para o ataque do Manchester City nos minutos derradeiros da decisão. E ainda com o time que preza a posse de bola cobrando laterais diretamente na área adversária. Não podia dar certo.

Guardiola, Cuca e Renato não atingiram seus objetivos com essa bizarrice. Pobre na estética, não aproveita a qualidade de seus elencos e ainda é contraproducente. Bons motivos para nunca mais repetirem este ato tresloucado.

Retirado de: UOL