O Flamengo viaja daqui a três semanas para a disputa da final da Libertadores, no Uruguai, contra o Palmeiras. E a pergunta se repete a cada novo tropeço: vale a pena manter o técnico Renato Gaúcho na temporada 2022? Ver o time ceder o empate ao Athletico-PR, ontem, após abrir dois gols de vantagem induz à resposta negativa, respaldada pelo momento ruim da equipe que já dura semanas. Fato é que o tema permanecerá em debate durante novembro — e mesmo que o time conquiste o tricampeonato da América em Montevidéu.
Se a vitória sobre o líder Atlético-MG deu sobrevida ao Flamengo no Brasileiro, o ponto magro conquistado em Curitiba e a postura entregue da equipe trouxeram os questionamentos à tona outra vez. É possível a diretoria fazer algo imediatamente para estancar a má fase até o dia D em Montevidéu? Renato Gaúcho, que já colocou o cargo à disposição, usou as mesmas desculpas para não dar padrão ao time: desfalques (foram sete no Sul), calendário (o rubro-negro fará jogos a cada 66 horas em novembro) e arbitragem.
Além da óbvia justificativa do erro de arbitragem, o técnico Renato Gaúcho mais uma vez atribuiu a queda de rendimento do Flamengo ao cansaço físico dos atletas. No segundo tempo, o treinador recuou a equipe com substituições, já que Andreas, Vitinho e Éverton Ribeiro pediram para sair, com dores.
— É uma coisa que acontece em qualquer equipe. Os jogadores têm jogo a cada três dias. O jogador é ser humano. Ele cansa. Eu vejo equipes disputando uma competição só e com várias lesões. O Flamengo não para.
Sem oxigênio e ideias
O VAR foi decisivo ao retirar o cartão vermelho aplicado em Renato Kayser por agressão a Léo Pereira. A esta altura, Gabigol era o herói da partida com dois gols, mesmo que o Flamengo tenha se apresentado mais uma vez com um jogo reativo, apostando em contra-ataques. Depois de perder Vitinho no segundo tempo, a equipe não conseguiu mais sair da pressão adversária e sucumbiu com erros individuais e coletivos em sequência. Kayser diminuiu e Bissol deixou tudo igual, já nos acréscimos do duelo.
Sem Bruno Henrique, Michael foi a melhor opção para os contra-ataques. Mas o Flamengo nunca teve o jogo na mão. A defesa — quase toda reserva — lutou enquanto podia. Sem ter com quem jogar até mesmo nas bolas longas, porém, era amassada. E não havia no banco de reservas um atleta com disposição e talento para tirar o Flamengo desse sufoco. Sem Arrascaeta, em recuperação de lesão, Éverton Ribeiro continuou irreconhecível, aparentemente cansado e sem inspiração. Andreas Pereira, de volta a sua posição, também errou bastante em Curitiba.
Sem jogadores capazes de segurar a bola, trocar passes e pensar a construção das jogadas ofensivas, o Flamengo tem se notabilizado por se esforçar e torcer para que o tempo passe em campo. O papel de Diego Alves tem sido preponderante para isso. O time entra nas discussões com o adversário e a arbitragem, respira o quanto pode e quando a bola não rola. E, mesmo quando tenta dar uma pressão após perder a bola, o faz sem intensidade.
Sem oxigênio nas pernas e no cérebro, não há ideias em campo. Há apenas uma tentativa de sobreviver. Como um peixe fora d’água em busca de ar. Na lateral do campo, o técnico Renato Gaúcho observa esse sofrimento sem qualquer ajuste coletivo ou peça que dê jeito na engrenagem.
No banco, o Flamengo tinha Kenedy, contratado ao Chelsea, mas que viajou e apresentou um inchaço no tornozelo por causa de uma pancada. Desde que chegou, não teve sequência. As outras alternativa eram jovens, como João Gomes e Matheuzinho, que entraram no fim e marcaram mal o lance do gol de empate, e Rodinei, lateral que tem sido usado como ponta.
Nota-se que Renato demora a adotar tais soluções, que renovam o gás da equipe na mesma proporção em que terminam de desorganizá-la. Mas o Flamengo vai jogar assim em novembro até ter seu time ideal em plena forma para a final da Libertadores — isso se conseguir derrotar as lesões.