Pedido de demissão expõe defasagem remuneratória no Flamengo

Muitos torcedores do Flamengo tem depositado toda a culpa pelo mal rendimento e resultados abaixo do esperado do clube na conta de Renato Gaúcho, que é o rosto que representa o grupo. Contudo, os problemas pelos quais o Mais Querido passa mostram que há muito mais do que as questões com o técnico para seres resolvidas.

O pedido de demissão feito na quarta-feira (03) é um bom exemplo. Se sentindo desvalorizado dentro do clube, o nutricionista Douglas Oliveira abandonou o barco para trabalhar em um clube português de segunda divisão. A saída de uma equipe muito visada internacionalmente para outra que não recebe tanta atenção é o retrato da insatisfação do quadro de funcionários do Flamengo.

A principal reclamação se deve à defasagem salarial, que não passa por reajuste já há algum tempo. O Rubro-Negro, de orçamento bilionário, paga a seus profissionais salários que raramente chegam à casa dos dez mil reais, valor muito abaixo se comparado ao que é pago por clubes com menores receitas, como Botafogo e Ceará, por exemplo.

O questionamento sobre os salários, comparados com o que é pago por outros clubes das Séries A e B do Brasileirão, também esbarra em questões trabalhistas, como o pagamento de horas-extras, diárias e folgas compensatórias em viagens. O expediente passou se tornar padrão para boa parte dos clubes da elite do futebol brasileiro nos últimos anos, mas não houve qualquer alteração para os funcionários do Flamengo.

Outro ponto discutido internamente se deve às bonificações por premiações nas competições disputadas pelo clube. Inicialmente, a recompensa através de bichos na temporada 2019 amenizava o desconforto. Naquele ano, durante todo o Campeonato Brasileiro o prêmio era de cerca de R$ 1.000 a R$ 1.200 por cada rodada no G-4, o que muitas vezes chegava a até triplicar o valor a ser recebido mensalmente.

No entanto, a partir de 2020 o negócio mudou e o clube começou a pagar valores proporcionais ao salário dos funcionários. A situação gerou um desconforto internamente, com bichos que chagam a ser de R$ 9 por vitória para os trabalhadores do escalão mais baixo.

De lá pra cá a situação piorou ainda mais. Nesta temporada, o Flamengo não paga mais as bonificações que costumava. Ao invés disso, há um valor pré-estabelecido a ser repassado apenas em caso de título ou vice-campeonato, que contemplará apenas quem está lotado no departamento de futebol.

Neste cenário, um simples pedido de demissão do nutricionista do time foi o suficiente para que pesasse o clima internamente. Faltando apenas três semanas para a final da Libertadores, o Mais Querido, além de precisar sanar as deficiências do atual elenco, tenta amenizar os crescentes conflitos no extra-campo, que está a ponto de ebulição.