O projeto de compra pelo Flamengo de um clube em Portugal – o Tondela é a menina dos olhos – também prevê a criação de uma empresa para que o direito de uso da marca seja transferido aos investidores. Essa etapa, neste caso, só vai avançar quando a diretoria conseguir os apoiadores financeiros para tal plano, segundi O GLOBO apurou.
A prospecção feita no mercado dos Estados Unidos também motivou a criação de uma empresa em Nevada, mas ela se propôs a dar acesso aos números e condições para tirar o projeto do papel em Las Vegas. O Flamengo recuou e fechou a empresa dois meses depois.
O registro foi revelado pela Agência Sportlight na última semana, e nele constavam os nomes do Flamengo enquanto instituição e também dos vice-presidentes Rodrigo Tostes e Rodrigo Dunshee. A criação da empresa foi feita sem consulta a conselhos nem aprovação de emenda ao estatuto do clube. Agora, a diretoria imagina que há maior probabilidade de o projeto europeu avançar e demandar tal consulta.
Os dirigentes entendem que o estatuto não proíbe, mas seria interessante criar tal regra e normatizar esse tipo de operação, sobretudo por haver outras do gênero junto ao Maracanã e o banco público BRB.
Além dos registros públicos publicados pela reportagem da Agência Sportlight, a “Nevada Secretary of State’s Office” confirmou a constituição do “Flamengo USA”. Em nota, o clube explicou o seguinte:
“O Flamengo estava prospectando parceiros para abrir um time em Las Vegas, como é notório. Contudo, o negócio nos EUA não avançou como imaginado pelos dirigentes, já que o modelo de 2a divisão não atraiu investidores. Assim, o Flamengo providenciou o fechamento da empresa. Caso o negócio tivesse avançado, após os trâmites burocráticos internacionais e a aprovação no Conselho, as cotas seriam passadas para o Clube, que passaria a ser o único dono da Flamengo USA. A empresa era apenas uma “casca” feita para agilizar e receber o clube futuramente. No entanto, como a negociação não andou, a empresa foi fechada logo a seguir, como consta nos registros públicos de Nevada”.
Não há, segundo os envolvidos no projeto, nenhum impedimento de o clube associativo ter uma participação societária na empresa no exterior, sobretudo porque será minoritária. De acordo com membros da oposição, há riscos de o Flamengo se endividar com a compra da SAD do Tondela. Por isso, há a preocupação de que as dívidas contraídas sejam aprovadas pelos conselhos responsáveis.
O Flamengo já tem apoio de empresas de peso no mercado para tirar a ideia do papel, mas falta ainda oficializar em contrato. A auditoria Ernst & Young fará a validação do projeto.
Caberá a Win The Game ser a parceira principal para viabilizá-lo. Estruturar o projeto e fazer prospecção de mercado, inicialmente. Quando assinar o contrato com o Flamengo, a empresa vai trazer o banco BTG para validar do plano de negócios. Conferindo um selo para garantir que as previsões de investimentos estão corretas.
Em seguida, ajudará na colocação do projeto junto a investidores privados, e vai levantar quem tem interesse. Após alocar todo o capital, a função da empresa vai ser de liquidar a operação, ou seja, disponibilizar ações aos investidores. O BTG não entra com recursos.
Mas qual o objetivo de o Flamengo ter um clube em Portugal? O mesmo de equipes multinacionais pelo mundo. Ganhar dinheiro exportando atletas e conhecimento de futebol. O clube entraria com sua marca e cederia jogadores e pessoal, não recursos financeiros.
Com cada vez mais investimento, o plano é conseguir uma vaga na Liga Europa e, quem sabe, na Liga dos Campeões, aumentando a visibilidade e o lucro. Apesar das cores do Tondela serem o verde e o amarelo, o time teria um uniforme em vermelho e preto.
O time
O Tondela foi fundado em 1933, e desde 2015 está na primeira divisão de Portugal. O estádio utilizado é o João Cardoso, com capacidade para 5 mil pessoas. Segundo relatos de atletas e empresários com atuação em Portugal, o Tondela é organizado, seu estádio é muito bonito, com gramado impecável.
Comandado pelo técnico espanhol Pako Estaran, tem um elenco formado por atletas jovens, alguns deles brasileiros. Daniel dos Anjos, atacante revelado no Flamengo, por exemplo, é titular no Tondela. A possibilidade de parceria entre os clubes já virou assunto entre jogadores, pelo poder da marca Flamengo.
Mas segundo quem acompanha a equipe de perto, para jogar no Tondela não adianta o Flamengo mandar atletas de segunda linha, do sub-20 ou sem perspectiva. Pelo nível do campeonato, será necessário exportar o que o clube tem de melhor em sua base.
A cidade
Tondela é uma vila com 6 mil habitantes, perto de Viseu, a cidade grande ao lado, onde moram os jogadores do clube. O fato de ter uma torcida pequena e sem tanta pressão comparada a outras equipes portuguesas ajuda no projeto do Flamengo. Cada partida da equipe tem cerca de mil adeptos no estádio, todo reformado.
Retirado de: O Globo