João Guilherme é um dos maiores narradores do Brasil. Prova disso é que ele narrará neste sábado (27) nada menos do que sua sétima final de Copa Libertadores. O duelo entre Palmeiras e Flamengo é considerado por ele a maior final da competição envolvendo times brasileiros —essa é a quarta da história. Nem tudo são flores. O narrador e apresentador da ESPN e Fox Sports tem encarado uma certa resistência dos torcedores paulistas já que o profissional tem sua imagem muito ligada ao Rubro-Negro.
A forma como João Guilherme trata o assunto não poderia ser mais natural. Para o narrador, há uma explicação bem simples sobre toda essa celeuma. Nos últimos anos, ele foi bastante escalado para fazer jogos do Flamengo por ser carioca, o que criou uma identificação com os rubro-negros.
— O último jogo do Palmeiras que narrei foi em maio de 2013. Um jogo no Pacaembu contra o Tijuana pela Libertadores. De lá para cá, se vão mais de 8 anos e nunca mais narrei jogos do Palmeiras por questões de escala… No Fox Sports, onde trabalhei nesse período, pelo fato de ser carioca a direção entendia que devia narrar jogos dos cariocas. Fiz muito jogos no Rio e a maioria foi do Flamengo. Então, obviamente, tenho mais identificação com a torcida do Flamengo por isso, disse ao UOL Esporte.
— É uma responsabilidade enorme. Fui escalado pela Disney para fazer uma final de Libertadores deste porte. Então, não cabe nenhum tipo de atitude que não seja profissional. Estou ali para fazer o melhor para mim e para a empresa que eu represento, para a camisa que visto, que é a do grupo Disney. Mas é claro, o torcedor é movido pela emoção, pela paixão. E ele não tem a menor obrigação de entender isso. E eu já tenho 33 anos de carreira, comecei a narrar futebol antes das redes sociais e, agora, estou no período delas. Entendo completamente todas essas manifestações, sei que são movidas pela emoção, seja para o bem ou mal, completou.
Apesar de entender, João deixa claro que não concorda. E que o debate sobre o assunto também não é o melhor caminho. Para ele, a compreensão da situação e o respeito já são o suficiente para contornar o “problema”. O narrador reitera seu profissionalismo e diz que quem o acompanhar na ESPN não se arrependerá.
— Entendo as manifestações. Se não quiserem aceitar também, tudo bem da mesma forma. Existe a liberdade, as escolhas. Você pode escolher o caminho que quiser, que mais te agradar. Podem ficar à vontade. Agora, uma coisa você pode ter certeza: faremos uma transmissão dando o melhor de nós, será algo muito marcante. Eu, sinceramente, levo tudo isso numa boa. Muita gente fica ‘ah e tal’, mas eu entendo o torcedor. Eu entendo o torcedor, cara. Até porque ele não está na razão, mas movido pela emoção. E quando isso acontece, a razão fica de lado. Não dá para discutir, dá para entender, relevar e fazer o nosso trabalho da melhor maneira. Até porque se for pensar muito nisso acaba não trabalhando. Estamos nisso há muito tempo e conhecemos como funciona. Faz parte, concluiu.
Medo de guerra, maior final entre brasileiros e sem favoritos
Outra questão que incomoda João Guilherme é o excesso de rivalidade entre os clubes. Dentro de campo, tudo é maravilhoso e faz com que ele defina o duelo como a maior final da Libertadores entre times brasileiros. Porém, há um receio de que alguns baderneiros estejam com outras motivações que não acompanhar uma partida de futebol.
— Essa é minha grande preocupação e temo que isso, de alguma forma, possa manchar esse evento que tem tudo para ser uma grande festa de futebol. Haverá um grande jogo, com dois grandes times e um deles será campeão. Mas acho que nada justifica briga, violência… Infelizmente as informações dão conta de que tem muita gente que planeja ir lá para arranjar confusão. A polícia uruguaia já está ciente desse fato, mas essa é minha grande preocupação com o jogo. Faço até um apelo aqui. Pelo amor de Deus, gente, quem for para lá tem que aproveitar aquele momento. Estar em uma cidade muito legal que é Montevidéu, ter a chance de ir em um estádio histórico, construído para receber a primeira Copa do Mundo. Já recebeu 20 finais de Libertadores, quatro Copas Américas foram decididas lá. É um lugar maravilhoso, um jogo especial. Então para que isso de briga e violência? Não leva a nada, pediu.
Inclusive, para João Guilherme, a partida não tem favoritos:
— Desde que a final foi confirmada, há aproximadamente dois meses, as equipes alternaram. Em determinado momento, o Flamengo estava muito bem e o Palmeiras muito mal. O Palmeiras tem um conjunto muito forte comandado pelo Abel Ferreira. E o Flamengo tem uma parte individual mais forte. O Flamengo tem mais jogadores que podem desequilibrar. São times com estratégia de jogo diferente. Com peso muito grande. Flamengo chegou a duas finais de Libertadores e venceu as duas. O Palmeiras está indo para a sexta final: venceu duas e perdeu três. São camisas muito pesadas, afirmou.
— Outro ponto. É um jogo só. Se fosse ida e volta poderia mudar um pouco a análise. Mas é só uma partida e já vimos o que aconteceu nas duas finais de jogo único. Foram duas finais decididas no último momento. O Flamengo com aquela virada histórica sobre o River Plate. O Palmeiras com gol do Breno Lopes no último minuto venceu o Santos, no Maracanã. Então o fato de ser uma partida coloca ainda mais emoção e imprevisibilidade nessa decisão, completou.
Por fim, João Guilherme definiu o duelo como a maior fina da Libertadores entre clubes brasileiros. “Por ser uma final de Libertadores e por ser uma final de brasileiros muito especial, com dimensão muito grande envolvendo Flamengo e Palmeiras, que vêm disputando o topo do futebol brasileiro nos últimos anos, os clubes mais ricos, que veem ganhando título. Aquela velha rivalidade entre Rio e SP. Mexe também com as outras torcidas. Corintiano, são-paulino e santista, na sua maioria, torcerá pelo Fla. Mas vascaíno, botafoguense e tricolor vão torcer pro Palmeiras. Então é algo que mexe com todo universo do nosso futebol. Muito interessante”, finalizou.
Retirado de: UOL