Atlético-MG e Flamengo enfrentavam-se no Mineirão igualmente em crise técnica e tática. Donos de dois dos três principais elencos nacionais, os times tinham exibido problemas de organização e seus principais jogadores já não rendiam como antes. Houve uma diferença na partida: engajamento, disposição, intensidade.
É fácil e até meio clichê atribuir atuações ruins à falta de vontade de uma equipe. Em geral, esse tipo de análise está equivocado. Não é o caso do desempenho rubro-negro em Minas.
Desde o início, o time do Galo era o que mais brigava, competia pela bola palmo a palmo, competia. Por isso, levava vantagem com mais posse e presença no campo ofensiva. Era longe de ser brilhante: penava para criar situações de gol diante de um Flamengo mais recuado no primeiro tempo.
Do outro lado, o time rubro-negro avançava a marcação em certos momentos, mas não pressionava de fato. Recuava em boa parte do tempo, mas sem encurtar os espaços. Atacava só quando sobrava uma bola aqui e outra ali.
Da insistência, o Galo conseguiu uma longa troca de bolas até a bola parar em um Arana livre para fazer o cruzamento que parou na conclusão de Nacho do outro lado. Havia latifúndios maiores na defesa rubro-negra do que nos pastos do centro-oeste brasileiro.
A torcida atleticana fazia uma festa bonita e se reconciliava com o técnico Turco Mohamed, pelo menos temporariamente. Já Dorival tirou Andreas e Vitinho no intervalo por Arão e Marinho. Assim como em seu início de trabalho, sua aposta era no centrão rubro-negro, nos medalhões. Não por acaso estava lá Diego Alves no gol, Diego teve seus minutos.
Se o objetivo era ganhar o grupo, resta saber o que se o grupo quer dar algo em troca. Não foi o que se viu no segundo tempo. O Atlético-MG recuou, o Turco procurava o resultado que o aliviava e o Flamengo não tinha a menor ideia de como furar a defesa rival.
A bola girava de um lado para o outro lado, desleixada, indolente. A verdade é que o Flamengo não criou nenhuma chance real de gol, daquelas na área, perdida de fato. Zero, uma nulidade.
Enquanto isso, o Atlético-MG teve seguidos contra-ataques, com espaço. Falhou nos lances finais. Até que o cruzamento parou na cabeça de Hulk que encostou para Ademir livre como um passarinho, sem Rodrigo Caio, sem Arão (trotando no meio). E matou o jogo.
Ao final, Arão justificou que é “início de trabalho” e encaixou a lembrança da campanha de 2019 em sua análise. Há dez dias era final de trabalho de Paulo Sousa. A atitude do elenco não foi muito diferente.
A impressão é que, com algumas exceções, o elenco do Flamengo acumula gatos gordos ronronando em suas caminhas esperando comida. Sem fome suficiente para se levantarem para busca-la. Jogam como se o passado lhes desse salvo-conduto e não há ninguém na cadeia de comando do clube – presidente, diretor ou vice de futebol, técnico, pai de santo – para alerta-los para a realidade diferente que todo mundo vê nas transmissões de quartas e domingo.
Retirado de: UOL