Atualmente técnico do Flamengo, que enfrenta o Athletico-PR na decisão da Conmebol Libertadores neste sábado, às 17h (de Brasília), , Dorival Jr. encerrou a carreira de jogador, em 1999, por causa de uma fofoca.
Mesmo aos 36 anos, o experiente jogador achava que estava em plenas condições físicas para atuar ao menos por mais um Campeonato Paulista.
Sobrinho do lendário Dudu, ídolo do Palmeiras entre os anos 60 e 70 da “Academia”, Dorival tinha uma carreira com passagens pelo próprio Verdão e por clubes como Ferroviária, Grêmio, Matonense e Botafogo-SP.
Já veterano, soube que não seria aproveitado pelo técnico Lula Pereira na equipe de Ribeirão Preto e procurou treinar bem por vários meses em busca de uma nova chance.
Em janeiro de 99, foi chamado de volta pelo presidente Antônio Galli para o time de Matão, comandado à época por Luiz Carlos Ferreira, conhecido como “Rei do Acesso”.
No entanto, o retorno não foi da forma que ele esperava…
“Ah, você não veio para jogar..”, ironizou o treinador logo na chegada do meia.
“O Galli me ligou, achei que ele tinha falado com você”, respondeu Dorival.
“Ele não me falou nada. Vou te fazer uma proposta. Você vai para casa e pensa. Se você quiser continuar jogando, tudo bem. Mas se quiser, você pode virar meu auxiliar técnico”, disse Ferreira.
Dorival ficou muito surpreso, pois havia sido capitão e homem de confiança de Ferreira em 1997 durante a reta final na campanha do acesso da Matonense para a elite paulista.
Apesar da idade, Dorival ainda se sentia muito bem, mas acredita que foi atrapalhado por um comentário maldoso. Ferreira havia escutado de alguém no clube que o veterano não tinha condições de jogar porque não estava sendo aproveitado no Botafogo.
Como tinha a ideia de jogar o Paulistão e depois se aposentar, o volante pensou bem na oferta durante o final de semana e resolveu pendurar as chuteiras. No entanto, quase que a decisão foi revogada – pelo próprio Ferreira – uma semana depois.
A Matonense foi até Rio Preto fazer a pré-temporada, mas logo no primeiro coletivo faltou um jogador no time reserva e Dorival foi escalado como lateral-direito. Bem treinado, o auxiliar fez uma tabela e colocou um companheiro na cara do goleiro: 1 a 0 para os reservas. Depois, bateu com perfeição uma falta na frente da área e anotou o segundo gol.
Nisso, um surpreso Ferreira parou o treino e falou:
“Quem disse que você não pode jogar? Você vai jogar pra mim”.
“Ah, Ferreira, agora não vou mais”, respondeu o veterano.
Contrariando o desejo do arrependido Ferreira, Dorival já havia decidido que o futuro era mesmo fora da quatro linhas….
Carreira como auxiliar
Dorival trabalhou cerca de dois anos e meio com Ferreirão em clubes como Matonense, Inter de Limeira, Atlético Sorocaba, Guarani, Paulista de Jundiaí e Santo André.
Neste período, aprendeu a garimpar talentos onde menos se espera. Pelo Paulista, o comandante fez um treino com os jogadores que não foram relacionados para o jogo da Série C e completou com os reservas do time sub-20, incluindo Nenê, atualmente no Vasco, que estava para ser mandado embora do clube de Jundiaí.
O jovem pouco badalado arrebentou no treino com dois gols e foi mandado por Ferreira diretamente para a concentração do time profissional. Logo na estreia, Nenê entrou no segundo tempo da partida e balançou as redes duas vezes. Depois disso, viu a carreira decolar rapidamente.
Dorival também precisou exercitar o jogo de cintura às vésperas de um duelo decisivo do Santo André contra o Ituano, pela última rodada da Série A2 do Paulista. A equipe do ABC precisava de uma vitória para conquistar o tão sonhado acesso depois de sete anos.
O treinador queria de todas as formas tirar desta partida o atacante Sandro Gaúcho, que vinha em ótima fase e era um dos destaques do time. Dorival gastou todos os seus argumentos para convencer o chefe a mudar de opinião.
A insistência deu certo: o jogador sofreu o pênalti aos 44 minutos do segundo tempo, que depois foi convertido por Adãozinho, na vitória por 1 a 0.
Como virou treinador
Dorival deixou de ser auxiliar de Ferreira ao assumir como treinador pela primeira vez na Ferroviária, clube no qual foi revelado, durante o Paulistão de 2002. Depois, foi assistente de Muricy Ramalho no Figueirense e aceitou um convite para ser gerente de futebol da equipe de Santa Catarina.
Neste período, ainda trabalhou outra vez com Ferreira, que treinou o Figueira no Brasileirão. O último capítulo da parceria, aliás, terminou de uma forma bem curiosa.
Segundo o ex-zagueiro Cléber, Ferreirão estava bastante irritado com alguns atletas durante um treino em uma segunda-feira de manhã. Curiosamente, um dos jogadores do elenco era o jovem Filipe Luís, com 18 anos, que defende atualmente o Flamengo.
“Quer saber de uma coisa? Vocês estão numa preguiça. Isso não é time de Série A. Eu vou treinar um time de Série B, onde sou muito mais feliz. Tá louco? Vocês aqui já sabem tudo, não precisam de mim. Eu vou embora”, disse Ferreira.
O defensor, capitão do Figueira, achou que era brincadeira do treinador e até comentou com os colegas. Dias depois, foram surpreendidos com a notícia de que o técnico estava fora depois de apenas seis jogos no comando da equipe.
Nos bastidores, comentava-se que o presidente do Marília, que jogava o quadrangular de acesso na Série B, mandou até um jatinho para buscá-lo e fez uma oferta irrecusável do ponto de vista financeiro.
Dorival assumiu a vaga de forma interina e depois foi efetivado. No ano seguinte, venceu o Campeonato Catarinense e viu a nova carreira deslanchar…
Retirado de: ESPN