O sucesso esportivo do Flamengo desde 2019 até agora se deu com trabalhos iniciados no meio da temporada. Todos os treinadores contratados para um planejamento do zero no início do ano perderam o emprego antes do fim. Vítor Pereira vive até aqui a mesma sina de Paulo Sousa, ao se deparar com um elenco montado que precisa se ajustar para implementar suas ideias. O português atual não tem conseguido traduzir a teoria na prática e cultiva pior aproveitamento que o compatriota anterior nos primeiros dez jogos.
Com o ‘doping’ do Estadual, onde o Flamengo obteve cinco vitórias e um empate, Vítor Pereira soma um total de seis vitórias, um empate e três derrotas, com um aproveitamento de 63,3%. Sob o mesmo recorte, Paulo Sousa teve sete vitórias, dois empates e uma derrota, com 76,6% de aproveitamento. O mesmo de Abel Braga, o outro profissional a comandar a equipe em um começo de temporada, a primeira da gestão Rodolfo Landim. Turbinado pela campanha no torneio regional, o aproveitamento engana, e faz os três superarem até Jorge Jesus em seus primeiros dez jogos. Jesus obteve 60% dos pontos em seu início.
A paciência com Jesus e outros treinadores que chegaram no meio do ano foi maior mesmo com aproveitamento pior. O momento pós-Estadual era de disputas mais complicadas, como Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil. Dorival Júnior teve 60% dos pontos (6 vitórias e 4 derrotas) antes de rumar para os títulos das duas últimas competições. Após a saída de Jesus, Domènec Torrent teve 56,6% de aproveitamento (cinco vitórias, dois empates e três derrotas), que culminaram com demissão após as oitavas de final da Libertadores.
Mudanças de métodos
Veio Rogério Ceni, que começou com quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas (53,3%), ficou até o fim da temporada 2020, e levou o Brasileiro em meio à pandemia. Mesmo assim, não emplacou a temporada 2021. Foi substituído por Renato Gaúcho, que começou avassalador. No meio do ano, teve impressionantes nove vitórias e apenas uma derrota, com 90% de aproveitamento. Assim como Dorival, terminou a temporada com queda de desempenho, e sem nenhum título, o que o fez chegar a um acordo com a diretoria para não seguir.
No eterno ciclo vicioso do Flamengo, veio Paulo Sousa, com métodos diferentes ao dos técnicos brasileiros, e dificuldade de implementar ideias junto ao elenco. E a cena se repete agora com Vítor Pereira. Quatro jogos, três derrotas e uma vitória, com aproveitamento de 25%. Esse é o desempenho do Flamengo fora das fronteiras do Estadual em 2023. Na hora que o rubro-negro tem sido mais exigido no começo de temporada, deixa claro que o trabalho no começo do ano paga um preço. Que começa pela falta de convicção da diretoria — por enquanto, sem sinais de abalo.
Retirado de: O Globo