Personagens importantes da decisão que apontará o campeão carioca de 2023, Pedro, Gerson e Ayrton Lucas renderam sensações diferentes aos torcedores de Flamengo e Fluminense. Criado em Xerém e nascido em 1997, o trio permitiu a entrada de quase R$ 150 milhões nos cofres tricolores, um alívio diante das dificuldades financeiras. Os rubro-negros gastaram mais do que isso para contratarem os três, mas foram recompensados com títulos importantes e protagonismo nos cenários nacional e internacional por parte desses atletas.
Gerson puxa a fila e é vendido aos 18 anos
Uma das maiores promessas de Xerém, Gerson foi promovido à categoria profissional com apenas 17 anos. O rápido destaque provocou uma saída tão precoce quanto. Cinco meses após a estreia foi negociado com a Roma por R$ 61 milhões em negócio que faz dele até hoje a maior venda da história do Fluminense.
Como foi transferido outras três vezes após deixar o Flu, o meia ainda rendeu R$ 7,5 milhões pelo mecanismo de solidariedade: R$ 1,3 milhão quando o Flamengo o comprou à Roma, R$ 4 milhões quando os rubro-negros o venderam ao Olympique e outros R$ 2,2 milhões na transação do retorno em janeiro de 2023.
Apesar de apenas um mês mais velho do que Ayrton Lucas e Pedro, Gerson pouco jogou com os dois na base tricolor. Como tinha grande destaque na geração 97, andava mais com a turma de Kenedy, ex-Flamengo e um ano mais velho.
De valores parecidos, Pedro e Ayrton saem com realidades diferentes
Protagonistas na última vitória sobre o Vasco, com parceria no primeiro e terceiro gols do Flamengo, Pedro e Ayrton Lucas jogaram por muito tempo juntos na base do rival. A proximidade se dá até nos aniversários. O lateral-esquerdo nasceu em 19 de junho de 1997, e o centroavante, no dia seguinte.
Ambos conquistaram praticamente tudo em âmbito estadual e ainda fizeram parte do elenco que conquistou o Brasileirão Sub-20 em 2015. O centroavante, aliás, marcou na final da competição, vencida por 3 a 0 em duelo com o Vitória.
O protagonismo no profissional para ambos veio em 2018. Pedro começou a aparecer em 2017, mas a explosão veio na temporada seguinte, a mesma em que Ayrton voltou de empréstimo do Londrina. O camisa 9 fez 19 gols em 40 jogos, enquanto o lateral foi titular em 50 das 51 partidas em que atuou.
O defensor foi vendido no fim do ano, por 33,5 milhões, para o Spartak Moscou, da Rússia. Quatro anos depois, ao ser comprado pelo Flamengo, rendeu ainda R$ 800 mil pelo mecanismo de solidariedade da Fifa.
Pedro também sairia em 2018, e o provável destino era o Real Madrid. O centroavante se destacava muito, tanto que acabara de ser convocado pela primeira vez para a seleção brasileira. Uma grave lesão no joelho direito, porém, o tirou dos gramados por oito meses. Voltou em 2019, ainda teve alguns problemas físicos, mas acabou negociando com a Fiorentina, rendendo R$ 36,5 milhões.
Apesar de ter sofrido com lesões, Pedro deixou o Brasil no fim de 2019 na condição de um dos principais atacantes do país, enquanto Ayrton era visto como promessa. Quando o Flamengo o comprou, em 2021, o Tricolor, entre os 20% dos direitos econômicos mantidos e mais mecanismo de solidariedade, lucrou com R$ 10 milhões.
Ou seja, entre vendas e outros gatilhos, o Fluminense levou R$ 149,3 milhões com negociações de Gerson, Ayrton Lucas e Pedro. Como profissionais, os três fizeram parte do elenco que venceu a extinta Primeira Liga.
Flamengo investe pesado, mas ganha títulos e ídolos
Se o Fluminense ganhou muito com a venda do trio, o Flamengo gastou ainda mais. Dois deles se tornaram ídolos históricos, Gerson e Pedro. E o início de Ayrton Lucas é muito animador no Ninho do Urubu.
Juntos, custaram R$ 231,2 milhões, mas têm entregado ótimos resultados, gols e, especialmente, títulos. Joias de Xerém, os três encontraram aconchego no Ninho do Urubu para crescerem e voarem no futebol nacional e internacional.
Coringa nas graças de Jorge Jesus
Pedido de Jorge Jesus e um velho desejo do Flamengo, Gerson foi anunciado em julho de 2019, o ano mágico rubro-negro no século 21. Rubro-negro desde pequeno, tornou-se ídolo pela grande qualidade técnica e também em função da capacidade de fazer diversas funções, algo que fez JJ o chamá-lo de Joker (Coringa). O apelido pegou, e o atleta, então aos 22 anos, tornou-se titular absoluto e ídolo rapidamente.
O primeiro gol como rubro-negro, em clássico contra o Botafogo, fez nascer a comemoração do “Vapo”, que também virou uma espécie de sobrenome. Deixou o Flamengo dois anos depois em negociação com o Olympique de Marselha que poderia render 25 milhões de euros no total.
Conquistou praticamente tudo que disputou com o Flamengo. Libertadores, dois Brasileiros, três estaduais, duas Supercopas do Brasil e uma Recopa Sul-Americana. Na última, aliás, marcou dois gols na vitória por 3 a 0 sobre o Independiente del Valle.
Voltou em janeiro de 2023 como unanimidade. No retorno, porém, ainda não deu o retorno técnico que dele se espera. Até o momento, soma 120 jogos e sete gols.
O termo “poderia” usado no parágrafo que se refere à venda para o Olympique porque o Flamengo descontou 6,5 milhões de euros dos 16 milhões na mesma moeda que está investindo para tirá-lo do futebol francês, onde vinha tendo problemas com o técnico croata Igor Tudor.
No total, foram R$ 49,7 milhões gastos em 2019 e serão outros R$ 53,7 milhões com a segunda compra do Coringa.
Resiliência faz de Pedro o Rei da América
Flamengo de coração como Gerson, Pedro realizou o sonho de infância em 2020, após concluir passagem efêmera pelo futebol italiano. Mesmo tendo sido reserva em 23 jogos na primeira temporada de Ninho, fez 23 gols e teve participação fundamental na conquista do octacampeonato brasileiro. O rápido retorno esportivo fez o clube gastar R$ 88,2 milhões para tê-lo de forma definitiva.
No ano seguinte, as oportunidades se escassearam com a troca de Rogério Ceni por Renato Gaúcho, mas ainda assim Pedro fez 18 gols.
A temporada de 2022 foi a da reviravolta, do início ao fim. O Flamengo apostou no português Paulo Sousa e, ainda de Lisboa, o treinador prometeu que daria um jeito de colocar Gabigol e Pedro para jogarem juntos. Não cumpriu, e o centroavante começou a ficar bastante desanimado. Em meio a isso, mesmo citado frequentemente por Tite como atacante de características únicas, a Copa do Mundo se tornava sonho bastante.
Tudo mudou em junho. Paulo Sousa caiu, e Dorival Júnior chegou. Com uma grave lesão de Bruno Henrique, o treinador apostou na dupla com Pedro e Gabigol e deu-se muito bem. Gabi passou a executar nova função, e o ex-tricolor enfim teve sequência no comando do ataque.
O marco na recuperação de Pedro foi a goleada por 7 a 1 sobre o Tolima, com quatro gols marcados, uma assistência e um lindo toque de calcanhar para Gabigol em lance no qual terminou em gol contra dos colombianos. Diante do Atlético-MG, em grande virada na Copa do Brasil, não balançou a rede, mas deu os passes para Arrascaeta definir o jogo.
Terminou o ano como artilheiro da Libertadores, com 12 gols em 13 jogos (sete como titular), marcou na final da Copa do Brasil e dividiu o posto de goleador do time com Gabigol, com 29 gols anotados.
Em 2023, já lidera isoladamente a artilharia do Flamengo, com 13 gols em 12 jogos. É também o segundo maior goleador do clube no século, sendo superado apenas por Gabigol. Ídolo consolidado e titular absoluto, foi eleito o Rei da América em votação promovida pelo jornal uruguaio El País.
Pedro, de 25 anos, tem 83 gols pelo Flamengo e 171 partidas. Conquistou Libertadores, Brasileiro, Copa do Brasil, dois estaduais, duas Supercopas do Brasil e uma Recopa Sul-Americana.
Ayrton Lucas: de reserva a titular absoluto
Curiosamente outro dos crias tricolores que trocou de lado também torce pelo Flamengo desde pequeno. O potiguar Ayrton Lucas chegou ao Ninho em 2022 para ser o reserva imediato de Filipe Luís. Chegou a tornar-se titular com Paulo Sousa, mas voltou ao banco com Dorival Júnior. Como o último fazia rodízio de times, o atleta, à época ainda na condição de emprestado pelo Spartak Moscou, jogou com bastante frequência. Foram 41 jogos, dois gols, seis assistências e uma surpreendente ótima participação defensiva, característica que não exibia nos tempos de Flu.
A resposta rápida não trouxe dúvidas, e o Flamengo acertou em janeiro a compra no valor de R$ 39,7 milhões junto ao Spartak Moscou. Se ainda está longe de ser ídolo, a posição de destaque já é uma realidade. Em 2023, é o jogador mais regular do elenco e foi figura importantíssima no jogo que classificou o Rubro-Negro à final do Carioca, com um gol e participação direta no primeiro, feito por Pedro. Até o momento são 54 partidas de vermelho e preto, com três gols e oito assistências.
Retirado de: Globo Esporte