Para os rubro-negros mais atentos, o nome de Maurício Souza não vai soar estranho aos ouvidos. Ele fez parte da comissão técnica do Flamengo no ano passado e foi auxiliar fixo do clube com Maurício Barbieri e Dorival Júnior. Inclusive comandou o time à beira de campo em dois jogos da Libertadores: vitória por 2 a 0 sobre o Emelec, no Maracanã; e empate sem gols com o River Plate na Argentina.
Experiências para lá de enriquecedoras que levou de volta para a base.
Mauricinho, como é conhecido por todos, está desde 2016 no clube, onde começou como coordenador de futsal. Passou pelo sub-16, foi vice-campeão da Taça BH Sub-17 e chegou ao time sub-20 no final de 2017.
Tirando o “intervalo” no profissional em grande parte de 2018, o técnico completou no mês passado um ano no comando da categoria. Nela, foi campeão da OPG 2018, da Taça Guanabara 2018 e 2019 e da Copinha 2018, seu título mais marcante.
E o presente de “aniversário” no sub-20 ele já escolheu: o Campeonato Brasileiro. Se no profissional o Flamengo está oito pontos atrás do líder Santos, na categoria júnior o Rubro-Negro lidera de forma isolada após oito rodadas, com um ponto à frente do Palmeiras. O time recebe a lanterna Ponte Preta nesta quarta-feira, às 15h (de Brasília), na Gávea, podendo deixar bem encaminhada sua vaga nas quartas de final e seguir vivo na briga pelo título inédito para o clube.
– O Flamengo tem uma paixão muito grande pela Copinha, mas hoje o Brasileiro é nosso foco maior. Seria um título inédito – sonhou Mauricinho.
Além do Brasileiro, o sub-20 rubro-negro está em outras duas frentes: a Taça Rio – como conquistou a Taça Guanabara, o Flamengo se ganhar o returno será campeão carioca direto – e a semifinal da OPG, que já é nesta quinta-feira. Como que faz? Em entrevista ao GloboEsporte.com, Mauricinho explicou os desafios, fez um balanço de seu ano na categoria, disse como foi treinar Reinier, projetou as próximas joias e revelou ter tomado gosto da beira de campo do profissional:
– Quero voltar um dia, se Deus quiser.
— Foi um início bem difícil. Cheguei para pegar o sub-20 na OPG, mas a gente perde um jogo que quem ganhasse ia para a final. A gente estava classificado até os 49, 50 minutos do segundo tempo, aí toma um gol e fica eliminado. Depois, na Copa RS foram quatro jogos e quatro derrotas. Ainda perdi alguns jogadores importantes, como o Klebinho e o Jean Lucas. Como o profissional foi até a final da Sul-Americana, que foi após o Brasileiro, o clube teve que dar 30 dias de férias, e no início do ano precisou requisitar muito jogador do sub-20.
— Saímos mais cedo da Copa RS, mas teve o lado positivo que tive tempo de treinar mais para a Copinha, que foi o título mais importante, sem dúvida. Acho que tivemos bons resultados depois. No Flamengo existe cobrança por resultado, mas é pautada no equilíbrio, entende o tempo todo estar requisitando jogador. Meu primeiro papel é esse.
— Destoou muito. Voltei para a base e peguei um momento de turbulência, mudança de equipe, ter que reformular o elenco, subir atletas 2001… Não foi o ideal, a gente sabia disso, mas não imaginava sair precocemente assim. No Carioca a gente encontra um time, faz bons jogos, e no Brasileiro começamos muito bem.
— Aumentou o sarrafo da equipe, sabendo que temos carências. Por uma lado é bom, mas aumenta a responsabilidade de um time que está em formação. Tenho quatro titulares de 2001, e a gente joga com jogadores mais velhos. Pegamos o Corinthians, por exemplo, com um time todo de 1999 e 2000.
— De momento, sem dúvida. E acho um campeonato muito bacana, é o sonho de quem trabalha na base. São 19 rodadas, um dos moldes do profissional, e acaba em uma fase mata-mata. Antes ele era disputado em fases de grupo até o mata-mata, agora é um modelo bem mais bacana. Para a formação é sensacional, é o campeonato dos sonhos. O Flamengo tem uma paixão muito grande pela Copinha, mas hoje o Brasileiro é nosso foco maior. Seria um título inédito.
— É bem viável, estamos muito fortes na competição. Claro que, depois de classificar, sai para uma outra realidade que é o mata-mata. E existem algumas diferenças do profissional como o fator torcida. Na base não tem, então fazer o segundo jogo em casa, ainda mais perdendo o primeiro, não é bom.
— Além da questão das viagens, é mais cansativo. Se você faz a primeira em casa, viaja uma vez só antes do segundo jogo. Mas se você joga a primeira fora, viaja duas vezes antes do segundo jogo, para ir e voltar. Mas é o que a gente quer, nós não vamos abrir mão disso, e se possível sermos campeões invictos. Mas falta muita coisa ainda.
— É extremamente perigoso. A Ponte Preta tem quatro pontos, com quatro empates. Fez dois gols e só tomou oito, numero de gols sofridos para quem está la em cima. Vi os jogos deles e todos foram muito duros. Não conseguiam ganhar, mas empatavam ou perdiam de 1 a 0, 2 a 1. É uma equipe muito competitiva, não faz muito gol, mas para furar é difícil.
— E a responsabilidade é toda nossa. Falei exatamente isso para os jogadores, da importância de encarar com seriedade. Se entrar achando que vai ser fácil pelo retrospecto de tabela… A posição deles não condiz, é um time que briga, que luta.
— Teoricamente é o time que fica no banco contra a Ponte Preta que joga na quinta. Isso tem sido uma constante para a gente, fizemos 14 jogos esse mês. Nós tentamos ser o mais homogêneo possível, não tem a menor dúvida que o desgaste é grande. Às vezes um atleta entra no jogo, e no dia seguinte está jogando de novo.
— O problema dessa quantidade de jogos é que perde treinos. Joga quarta, quinta, e esse grupo completo só vai se encontrar no campo domingo. Vai só jogando e recuperando, e isso para o processo é muito ruim. Mas não temos para onde correr, vamos com duas equipes distintas, às vezes três.
— Eu tenho uma ideia que o atleta não vai ser formado nunca, vai sempre estar em formação. Mas o sub-20 é o ajuste final para o atleta transitar non profissional, mas são vários detalhes que vão levá-lo a ter êxito em cima. O quão bem ele foi formado nas outras categorias, capacidade de interpretação, assumir a responsabilidade de representar o Flamengo, ter qualidade técnica, extinto de competitividade… Não adianta só ser técnico, hoje o futebol é extremamente competitivo.
— Não consigo distinguir importâncias do sub-20 para o sub-17, sub-16… O atleta vem sendo formado lá de baixo, sobe e continua o processo de formação. O sub-20 é o divisor de água, que define definitivamente quem vai transitar ou não pelo profissional. São raros os casos de quem sobe direto do sub-17. O Vinicius Junior quase não passou no sub-20, o Lincoln também. Mas são jogadores que têm aflorado essa competitividade, que pode pôr na arena que vão dar conta.
— Ele chegou para mim no sub-20, mas logo teve convocação da seleção e ficou um bom tempo fora. Jogou alguns jogos comigo na Copa do Brasil esse ano, mas se machucou, quando recuperou voltou para a seleção e retornou direto para o profissional. Mas é um jogador realmente diferente, com uma capacidade técnica muito grande, um poder de definição grande.
— Joga muito bem na parte final do campo. Ele tem 17 anos e existe isso nele, essa competitividade, querer ganhar, e uma composição corporal que parece que foi feito para jogar. Ele tem uma passada que é absurdo, com controle de bola. Jogador inteligente, acho que é muito promissor. Há de se ter paciência, como todo garoto lançado no profissional. Todos precisam de um tempo de adaptação.
— O Yuri é muito bom jogador. Dribla, finta, tem o improviso, é muito rápido, bate muito bem na bola… Outro jogador que gosto muito é o Vinição, que tem jogado muito, está maduro, controla demais o setor de meio campo. Temos bons valores, o Vitor Gabriel que estava no profissional, o Rodrigo Muniz, que foi convocado agora e é reserva do Vitor, mas é um baita jogador. O Ramon, que acabou de ser convocado também, um lateral mais forte.
— Temos bons valores, mas está tudo dentro do tempo. Ainda não é o momento, mas pode vir a dar bons frutos ao profissional. De imediato diria Yuri e Vinicius, mas não vejo carências para que isso aconteça.
— Sem dúvida. São garotos, têm que ter sonhos, mas me traz uma bagagem, um entendimento maior do que realmente representa o futebol na vida deles. Tenho uma relação muito boa com eles, de respeito, mas liberdade para se falar o que pensa, o que chateia… Me coloco como treinador, mas também como amigo. Claro que existe respeito, entendimento que a palavra final é minha. Determino junto com a comissão técnica a forma que eles vão atuar, peço que entendam, sempre tentando dar a eles um jogo coletivo para potencializar o individual.
— Fiz duas Libertadores. Não tem nenhum curso, nada que pague isso, as experiências que vivi. No Botafogo dobrava, treinava o 20, fomos até campeões cariocas naquele ano, mas ficava mais focado no profissional. O Duda (Eduardo Hungaro) me ensinou muita coisa. Estava no mirim, ele no sub-20, e quando tinha que viajar ele me recrutava para treinar em seu lugar. Sempre me dando moral, passando conhecimento. É um amigo e um cara que tenho como referência. Infelizmente naquela momento não teve êxito.
— Depois, com o Maurício (Barbieri), outro aprendizado muito grande, me senti mais pronto do que na época do Botafogo. O que mais facilitou é que ele me deixava totalmente à vontade. Um cara extremamente capaz, treinador com visão para frente, que conseguia administrar elenco de forma sadia. O que gratifica não é só estar lá, mas como você é usado. E me senti importante nesse período com ele.
— E o Dorival eu não o conhecia pessoalmente e me surpreendi. Um treinador com o nome dele, com a capacidade que tinha, poderia ter me deixado de lado, mas me abraçou de uma forma, deu liberdade de participar de tudo que fazia: vídeo, preleções, vi grandes treinos com ele… Me deixou dentro do projeto. Mais uma forma de engrandecer minha passagem lá com ele. Vivenciando esses momentos se aprende com tudo, vitórias, derrotas… Quero voltar um dia, se Deus quiser.
— Foi bem bacana. Gostei pela forma que me comportei, não fiquei nervoso. Claro que bate uma ansiedade, mas fazia a leitura do que estava acontecendo. O Maurício (Barbieri) já tinha me passado o que poderia ser feito, me deixou à vontade para tomar decisões. Contra o Emelec foi mais um choque, por ele ter sido expulso. Um jogo que definia a classificação, e quando vou para beira do campo está um jogo completamente aberto.
— A gente se fecha um pouquinho para organizar, e no fim sai o gol. Com 60 mil torcedores atrás de você, tinha que estar preparado, ver o jogo sem me preocupar com o que vem de fora. A experiência não tem nada igual. Se eu consegui me controlar daquela forma naquele jogo, hoje para mim é mais tranquilo. Tem que estar com cabeça boa, não pode virar torcedor. Saí feliz por me ver, mas o trabalho era do Maurício.
— Tenho. Estou muito feliz no sub-20 do Flamengo e não tenho pressa nenhuma nisso. A cada ano que passa me preparo mais, quero um dia, sim, assumir uma equipe profissional, poder alavancar a carreira nesse sentido. Minha meta é trabalhar com equipes profissionais, acho que tenho qualidade para isso. Apesar de 45 anos, não tenho tempo de treinador. Virei em 2011, sou meio precoce nesse sentido. Quero me preparar o máximo possível. Não tenho pressa, mas tenho sonhos.
Retirado de: Globo Esporte
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