As bolas na estante de casa ajudam a descrever o roteiro.
O toquinho maroto para “desarmar” o gandula peruano em meio à catarse que tomou conta do estádio Monumental de Lima no último sábado aumentou a coleção de relíquias de Marcos Braz no Flamengo. Figura central de uma temporada onde o futebol rubro-negro não só voltou a ser vencedor como fez história, o dirigente colocou a Libertadores num museu particular que já contava com estaduais, Copa do Brasil e Brasileirão.
Se os fracassos no futebol feriam um torcedor que sofreu para ver o clube se reestruturar, a volta do vice-presidente que foi campeão mesmo nas vacas magras surgia como solução dos problemas. Tiro certeiro de Rodolfo Landim.
Marcos Braz foi o responsável direto por escolhas como Gabigol e Jorge Jesus, conduziu uma jornada praticamente perfeita no mercado e ditou o rumo dos bastidores desde antes mesmo de assumir (como na pacificação da relação de Diego Alves com o clube). Não por acaso, teve o nome gritado juntamente com o presidente pelo torcedor que lotou as arquibancadas no Peru.
— Eu não sei nem se a ficha já caiu. Essa que é a verdade. Só quero que chegue logo o jogo com o Ceará para pegar mais uma taça. O que eu sei daqui para frente é que a torcida do Flamengo sabe cobrar e ano que vem vai querer mais títulos
— Não estão errados. E já começa no Estadual. Tem que ser assim mesmo. Só assim se consegue uma hegemonia. Temos que botar a coisa para andar.
Antes de buscar mais um troféu, Marcos Braz se dá o direito de desfrutar a conquista no Peru. Nesta quarta-feira, após a partida com o Ceará, erguerá, dez anos depois, o segundo Brasileirão como vice de futebol.
Cenário bem mais tranquilo do que o vivido no isolamento do vestiário do Monumental de Lima. Entre uma passada de água e outra no rosto, dois gols, muitos gritos e uma história:
— Eu nunca termino o jogo no mesmo lugar, sempre desço. Depois dos 40 minutos, já estava lá e começou a gritaria quando lavava o rosto. Era o gol de empate. Perguntei quanto tempo tinha, e já era 45. Pensei: “Beleza, na prorrogação vai dar a gente”. Sentia o Flamengo menos cansado. Voltei a lavar o rosto e voltou a gritaria. Olhei para a TV e estava passando o replay, só não sabia se era o primeiro ou o segundo, se o pessoal estava maluco. Saí e vi aquela loucura toda, o 2 a 1.
Em 45 minutos de bate-papo com o portal ‘Globo Esporte‘ entre o recebimento do troféu de campeão da América e o de campeão do Brasil, Marcos Braz falou sobre decisões importantes que levaram o Flamengo à “glória eterna”, planejou 2020, esclareceu as situações de Gabriel e Jesus.
— O meu general é o Landim. O que ele determinar, tanto na gestão quanto no processo eleitoral, será feito. Quando acontecem conquistas, sempre tem conversa fiada. E o que o Landim falar eu vou estar do lado.
Se tiver que ser, vai ser. O Flamengo tem que ir para o Mundial sabendo o que vai enfrentar. Primeiro, temos uma semifinal, e é nisso que temos que pensar. Caso aconteça o confronto com o Liverpool, acredito que qualquer relação com o passado não é correta. Cada time tem sua história, mas só um tem o Zico. Isso é bom deixar claro.
Se enfrentarmos o Liverpool, o favorito vai ser o Liverpool. E isso não é demérito algum para o Flamengo. O fato de um ou outro ser considerado favorito não diminui em nada o apetite do clube na busca por esse título.
O Flamengo tem o tamanho dele, o tamanho da torcida dele, que não é de agora. A torcida não mudou de patamar, está aí há muito tempo. No departamento de futebol do Flamengo não há soberba. Se pegarem a minha entrevista após o Estadual foi o mesmo tom que usei após a Libertadores. Nem mais alto, nem mais baixo. Temos que respeitar todo mundo. Os outros é que acham que o Flamengo tem o tamanho do time deles.
É difícil responder essa pergunta. Não penso muito nisso, não. Quando o campeonato passa, não ligo muito para o passado, quero ganhar o próximo. Minha preocupação agora é a semifinal, não é nem o Liverpool. Lógico que participei de dois Brasileiros, uma Libertadores, fui diretor na Copa do Brasil, mas o Flamengo tem 124 anos e não depende de dirigente. Quando eu não estiver aqui, vai ter outro fazendo o trabalho bem feito. Fico feliz por vencer com uma pessoa como o Landim. O maior mérito é dele.
O que muda é que naquela vez perdemos a eleição (logo depois do título). Agora, temos mais dois anos com o Landim. Teoricamente, temos uma situação mais confortável, não tem um processo eleitoral perto.
Com certeza, isso (estrutura) é muito importante, mas quando fomos campeões em 2009 não tínhamos os números de hoje, a estrutura de hoje, na Copa do Brasil em 2006 também não se tinha dinheiro. Evidente que trabalhar com dinheiro e estrutura é muito melhor, mas não é tudo. Tanto que o Manchester United tem tudo, tem mais dinheiro, e há algum tempo não ganha, enfrenta dificuldades. Não vou entrar no debate sobre quem fez ou deixou de fazer. Só não pode ter o discurso de que se ganhou por causa da estrutura, porque já ganhei sem estrutura.
Para contratar Rafinha, Filipe Luís, Arrascaeta e tantos outros, não precisa ser nenhum midas. São jogadores com espírito vencedor. É preciso conhecer um pouco de futebol e entender se isso vai complementar ao elenco que você tem. Ninguém chega para resolver nada sozinho. São jogadores que foram encaixando nas peças que temos. Temos um departamento que nos fornece informações importantes, mas quem toma decisões é o futebol. E temos que dar o mérito ao vice-presidente, ao conselho do futebol e, principalmente, ao Rodolfo Landim, que é quem assina o cheque.
Mas é preciso conhecer um pouquinho. Se você faz um exame do coração, vai sair da máquina com aquele monte de papel. Se der para eu ler, para você ler, não sai nada. Se der para um bom médico, ele vai detectar o que tem. É por aí, lidar com naturalidade.
Não sei nem de onde tirei isso. Eu brinquei. Os caras estavam me aporrinhando, me agulhando sobre uma contratação achando que íamos perder. Acho que era o Arrascaeta. Aí, eu falei: “Calma que tem que ter gelo no sangue”. Cara, teve maluco que até tatuou isso (risos), os jogadores já postaram a frase.
Eu tenho a pressão do cargo e a exposição do cargo. A pressão é a mesma de 2009, do Paulo Dantas em 81, e de qualquer outro. Só que é assustador o mundo do futebol hoje. Assustador. A palavra é essa. Sistematicamente você é filmado, fotografado em situações que nada têm a ver com o cargo. E a covardia está aí.
A utilização das redes sociais não são para me expor, mas para me defender. Eu não vou vender like, ganhar dinheiro com isso, mas preciso de um mecanismo moderno para chegar às pessoas e me defender.
O Flamengo não faz reserva de mercado, não tem essa característica. O Flamengo faz mais análises para dentro do que de pensar em enfraquecer o adversário. Com certeza, faremos contratações, fortaleceremos o elenco. Temos uma situação super desconfortável no ano que vem que é a Copa América. Um terço do Brasileirão será sem os jogadores convocados. E a cada ano isso será mais intenso no Flamengo, seremos o time que mais vai sofrer. Temos quatro ou cinco jogadores de seleção. Até por isso, temos que nos reforçar.
Tenho nacionalidade portuguesa e já conhecia o trabalho dele. Ainda durante o Carioca, um ex-jogador me falou dele e cortamos na mesma hora. Estava com o Pelaipe (gerente de futebol) no carro e na mesma hora descartamos. Falamos que teríamos o Estadual para decidir, que não íamos trocar o Abel. Mas conversei com o Pelaipe sobre o Jorge Jesus, do que ele fez no Benfica. Nada além.
Quando soubemos que ele ia ver o jogo contra o Atlético-MG, pensei: “Poxa, será que ele quer mesmo ir para o Brasil?”. Fiz contato com uma pessoa e pedi uma reunião para conhecê-lo, avisei ao Bruno (Spindel) e conversamos. Dois dias depois, tivemos a surpresa do pedido de demissão do Abel. Como estávamos na Europa, intensificamos as coisas. O Landim viajou para a final da Champions e a coisa aconteceu.
A diretoria teve méritos. Logo que ele chegou, fomos muito questionados pela maneira intensa dos treinamentos, pela eliminação na Copa do Brasil, pela derrota para o Emelec, mas a coisa foi acontecendo. E o resultado todos estão vendo aí.
Escolhas bem particulares minhas, mas sempre referendado pelo presidente Landim. Ele é quem dá a tranquilidade para que possamos chegar e fazer tudo que foi feito no Flamengo. Tem também o conselho do futebol, que são pessoas que analisam e dão opinião. O acerto é de todo mundo. Quem pôs o nome do Jorge fui eu, mas todos têm crédito, principalmente o Landim.
Não penso em hegemonia. Penso sempre em ganhar o próximo. O próximo é o Mundial, depois temos a nova Supercopa do Brasil em janeiro. Hegemonia se cria no dia a dia, não só com projeto e pensando para frente. Temos que botar as coisas para andar de uma maneira correta e sem achar que está tudo certo porque ganhou três títulos. Temos que fazer ajustes e construir. Temos três anos de mandato, passou o primeiro. O Landim quer ganhar e cobra muito por isso. Está sempre atento ao futebol e é participativo. Vamos tentar ganhar o máximo possível.
O ano ainda não acabou. Temos um campeonato importantíssimo para disputar. É evidente que temos que começar a pensar em 2020. Já falei com o presidente sobre a disputa da Supercopa do Brasil (marcada inicialmente para o dia 19 de janeiro) e teremos que dar os 30 dias de férias aos atletas a partir de quando voltarmos do Mundial (dia 23 de dezembro). Vamos ver 2020, mas não acabou 2019. Temos que ter paciência e também aproveitar as comemorações. Ganhar é difícil.
São situações totalmente diferentes. Um tem contrato até o final de maio (Jesus). Temos uma janela onde podemos mandá-lo embora ou ele pedir para ir embora. Com certeza, o Flamengo não fará isso. O Gabriel é diferente porque se encerra dia 31 de dezembro. É diferente. Até pela relação que temos com o Jesus, tudo será conduzido de uma maneira tranquila e saudável. Ele vai fazer da maneira que achar que deve.
“Já andou um pouquinho. Não muda nada (o resultado da final). As pessoas que tomam conta da carreira dele são sérias, o Flamengo também. O Gabriel é campeão, o Flamengo também”
Lógico que os dois gols foram importantíssimos, mas não tem muito o que falar em relação a isso. Naquela minha entrevista tempos atrás, parecia que tinha algum problema, mas não tem problema nenhum.
Se tem uma pessoa que brigou para ele estar aqui, fui eu. Claro que tive todo apoio do presidente, de outras pessoas, mas sempre acreditei no futebol e nas características dele. Acho que era o que o Flamengo precisava. Estou muito tranquilo e feliz com o Gabriel e os gols dele. Tudo será resolvido na hora certa.
Retirado de: Globo Esporte
Confira os alvos da diretoria O Flamengo optou por não renovar o contrato do ídolo…
Técnico liga pra Fabrício Bruno O Stade Rennais, da França, retomou o interesse em Fabrício…
Multicampeão pelo Flamengo antes da fase de ouro de Jorge Jesus e companhia, Léo Moura…
"Temos que trabalhar para depois colher", disse André Silva A história de André Silva no…
A Rede Globo de Televisão acabou fechando um acordo com a Federação de Futebol do…
O Corinthians emitiu um comunicado nesta sexta-feira (22/11) que será uma dor de cabeça para…