A ida ao Qatar para o Mundial rendeu ao Flamengo contatos e informações sobre a associação mundial de clubes, criada em novembro para discutir com a Fifa o novo Mundial de 24 times, que será disputado a partir de 2021, mas também uma liga anual que englobaria todos os continentes — o time brasileiro ficou com o vice-campeonato em Doha ao perder no sábado (21) para o inglês Liverpool por 1 a 0. O presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, idealizador e líder da associação quer um ou dois times brasileiros no grupo em um curto prazo e o Flamengo aparece com forte candidato.
Um xadrez político se desenha para os próximos anos para a montagem de um calendário de competições de clubes que ultrapassem as fronteiras nacionais. O Real Madrid, por exemplo, vê hoje mais interessante financeiramente uma liga mundial frequente do que a Liga Espanhola.
A associação de clubes foi o pontapé inicial e conta com oito membros, das seis confederações filiadas à Fifa: o espanhol Real Madrid e o italiano Milan (Europa), os argentinos River Plate e Boca Juniors (América do Sul), América do México (Américas do Norte e Central), Mazembe da República Democrática do Congo (África), o chinês Guangzhou Evergrande (Ásia) e o Auckland City da Nova Zelândia (Oceania).
Mas por que há dois clubes argentinos e nenhum brasileiro?
Hoje os clubes argentinos têm mais influência na Fifa do que os brasileiros e tudo passa por Rodolfo D’Onofrio, o presidente do River Plate. Ele é um dos raros presidentes de clube em exercício com cargo em comitê da Fifa, justamente o que discute questões técnicas sobre campeonatos de futebol. A indicação feita pelo presidente da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), Alejandro Dominguez, foi uma espécie de agradecimento por D’Onofrio, em 2016, ter ajudado a desarticular a criação de uma liga independente de clubes na América do Sul.
No comitê da Fifa, que se reúne ao menos quatro vezes por ano, D’Onofrio se aproximou de Pedro Lopez Jimenez, vice-presidente do Real Madrid. Não foi à toa, portanto, que Jimenez procurou D’Onofrio quando o Real Madrid decidiu que em vez de brigar por uma liga europeia de clubes poderia ser mais interessante comercialmente uma liga mundial.
O Boca Juniors entrou nesse grupo após manter contato com cartolas do Real Madrid em dezembro de 2018, quando a final da Libertadores entre Boca e River, por questões de segurança, foi realizada no estádio Santiago Bernabeu, casa do Real em Madri. Para o clube espanhol ter duas forças da América do Sul na fundação da associação era interessante.
A ideia é aumentar esse grupo para 20 clubes em 2020. Como revelou o jornal “Financial Times”, o fundo CVC Capital Partners, que tem como especialidade aquisição de marcas e empresas, conversou com Florentino Pérez sobre investir em um torneio de clubes global. Foi aí que a Fifa entrou nas conversas porque também conversa com o CVC para conseguir dinheiro para o seu Mundial de Clubes turbinado com 24 equipes, com oito europeus e seis sul-americanos, a partir de 2021 — a primeira edição será na China.
Para o presidente da Fifa, Gianni Infantino, a criação da associação mundial de clubes veio a calhar porque pode neutralizar em parte ações da Uefa (União Europeia de Futebol), que se movimenta há alguns anos para a criação da sua liga de clubes do continente que disputaria parceiros comerciais com qualquer iniciativa semelhante da Fifa.
É natural que clubes brasileiros apareçam em breve na associação e a presença do Flamengo em Doha fortaleceu isso. Houve também contato entre cartolas do clube do Rio e Rodolfo D’Onofrio durante a final única da Libertadores, em Lima.
A Conmebol, diferente da Fifa, vê um pouco distante essa movimentação no momento porque tem boa relação com a Uefa e tenta ressuscitar a Copa Intercontinental, o confronto entre os campeões da Europa e da América do Sul que foi realizado até 2004, antes da criação do Mundial no formato atual com sete participantes. Hoje, porém, a volta do Intercontinental é vista com desconfiança pelos europeus.
Retirado de: Marcel Rizzo – Blogosfera