A reunião entre dirigentes da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e da Uefa (União Europeia de Futebol) realizada nesta quarta (12), na Suíça, discutiu não só o retorno da Copa Intercontinental, o confronto entre os campeões da Libertadores e da Liga dos Campeões, mas também a inclusão dos vencedores da Copa Sul-Americana e da Liga Europa, os torneios de segunda importância nesses continentes, na rota de jogos e competições a serem criadas pelas duas confederações.
Um comitê vai ser montado para analisar fórmulas e, principalmente, viabilidade financeira para que qualquer projeto organizado pelas confederações saia do papel. Inicialmente se vê como mais fácil uma integração de torneios entre clubes de base e feminino, mas a depender de patrocinadores algumas opções que reúnam os maiores clubes do mundo já foram esboçadas nesta quarta-feira — as conversas, a princípio, envolvem apenas competições de clubes, não de seleções.
A Copa Intercontinental entre os campeões da América do Sul e da Europa foi disputada de 1960 a 2004. Até o fim dos anos 1970 em confrontos de dois jogos (um em cada continente), mas a partir dos anos 1980, com patrocínio da montadora japonesa Toyota, a copa passou a ser em partida única realizada em dezembro no Japão. Há alguns anos a Conmebol tenta ressuscitar o confronto, mas os europeus sempre torceram o nariz.
Isso agora mudou. O plano é mais ambicioso ao colocar a possibilidade de mais times e jogos ocorrerem com a inclusão de clubes da Copa Sul-Americana e da Liga Europa na pauta. Em uma das ideias, mais ousada, a Copa Intercontinental poderia ser um quadrangular entre os vencedores das quatro competições de cada continente. Outra simplesmente cria um jogo único entre os ganhadores da Sul-Americana e da Liga Europa, nos mesmo moldes do Intercontinental.
Nesse último exemplo a sede poderia ser a mesma. Aliás, torneios em sedes fixas e que não sejam necessariamente na Europa e na América do Sul foi um tema de consenso nas conversas. Os cartolas valiam que haverá mais chance de arrumar bons patrocinadores se levarem seus times para jogar na Ásia e nos EUA, por isso o calendário é algo que o comitê que será criado terá como um dos principais pontos a discutir. Jogar no meio do ano, durante a pré-temporada europeia, ou em dezembro, como era feito antigamente?
A aproximação entre dirigentes dos dois continentes ocorre como uma reação à articulação da Fifa com clubes, principalmente os da Europa, para a criação de torneios globais entre times. Internamente, a federação internacional vê nesses campeonatos chances maiores de aumento de lucro nos próximos anos e a entidade entrou na discussão da criação de uma associação de clubes, encabeçada pelo Real Madrid e que pode ter o Flamengo como primeiro representante brasileiro.
Europeus e sul-americanos não gostaram por razão óbvia: o provável enfraquecimento de seus torneios de clubes, a Libertadores e a Liga dos Campeões. Também por isso a Conmebol decidiu fazer a reunião de seu Conselho na Suíça, onde houve o encontro com cartolas da Uefa.
A Copa Intercontinental
A Conmebol vê a brecha ideal para torneios entre os continentes depois da confirmação do novo Mundial de Clubes, reformulado com 24 equipes e quadrienal. Isso abriu datas no calendário em dezembro com o fim do torneio da Fifa no formato atual para que europeus e sul-americanos façam o seu confronto — a ideia seria a partir de 2023, já que em 2020 e 2021 tem o Mundial de Clubes organizado pela Fifa e 2022 a Copa do Mundo do Qatar entre novembro e dezembro.
Avalia-se que a Copa Intercontinental possa render cerca de US$ 10 milhões a cada time participante, o que pode ser um valor interessante para convencer os clubes europeus a jogarem — o Mundial da Fifa no modelo atual paga apenas US$ 5 milhões ao campeão.
Em 2004 ocorreu a última edição da Copa Intercontinental porque no ano seguinte a Fifa passou a organizar o seu Mundial como é conhecido hoje, nas mesmas datas em que ocorria o jogo único no Japão. Santos duas vezes (1962 e 1963), o Flamengo (1981), o Grêmio (1983) e o São Paulo duas vezes (1992 e 1993) foram os brasileiros que venceram a Copa Intercontinental.
Retirado de: UOL — Marcel Rizzo