A CBF vai colocar em votação para os clubes no fim deste mês o pacote de mudanças que pretende implementar no futebol nacional para aplicar as regras do fair-play financeiro. O texto final ainda em fase de redação e análise, mas o Estado apurou que a entidade quer sugerir regras duras para os casos de irresponsabilidade administrativa. Quem descumprir as determinações poderá ser rebaixado de divisão, proibido de registrar novos jogadores e desclassificado de competições.
Procurada, a CBF informou que não comentaria o assunto antes da discussão final. A entidade mantém o tema em sigilo e colocou o fair-play na pauta da reunião dos clubes no próximo dia 28, quando se discutirá possíveis mudanças no regulamento do próximo Campeonato Brasileiro, a ser iniciado em maio.
Porém, algumas bases da proposta já estão definidas. A CBF pretende receber a cada três meses a prestação de contas do clubes para apurar se algum deles está gastando mais do que arrecada, atrasa salários, aumenta despesas e outros problemas. A partir disso, cada diretoria receberá um retorno sobre a situação financeira.
A CBF vai fazer uma aplicação gradual das regras de fair-play pelos próximos quatro anos. Em 2020, os times da Série A do Campeonato Brasileiro serão submetidos somente a um acompanhamento inicial. Já os participantes da Série B receberão apenas orientações.
A discussão sobre o formato do inédito fair-play brasileiro levou em conta os modelos já existentes na Uefa, nos Estados Unidos e no Chile, com algumas adaptações à realidade brasileira. A proposta foi amadurecida nos últimos anos em reuniões com a presença de dirigentes financeiros de equipes, executivos de mercado, membros da CBF e representantes do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), órgão técnico acionado para ajudar na proposta final.
“Os times terão a oportunidade de, ao longo deste ano, se ajustar ao modelo do fair-play. É um projeto que vai causar mudanças profundas no futebol e complementar a aplicação do clube-empresa”, disse ao Estado o coordenador do Grupo das Normas Contábeis do CFC, Roberto Merlo, um dos responsáveis pela organização da proposta.
O plano da CBF é montar uma espécie de ranking das equipes, com as notas atribuídas de acordo com critérios como endividamento, receita e previsão orçamentária. Times reincidentes nas notas mais baixas e com menos condições de conseguir honrar compromissos administrativos serão os mais sujeitos às punições previstas pela nova regra. As sanções mais pesadas serão justamente a desclassificação de campeonatos, rebaixamento de divisão e a proibição de contratar. Todas só devem ser aplicadas nos casos mais graves. Também haverá punições brandas, como advertência.
Parâmetros:
Somente no dia 28 serão divulgados quais parâmetros vão determinar se um clube merece punição e quais os critérios de avaliação. Segundo Merlo, mesmo que um time não seja proibido de contratar, as novas regras vão afetar bastante a busca por reforços. “Ao se falar de fair-play, você inevitavelmente fala de teto de gastos. Se não fizer isso, o clube não é sustentável a longo prazo e vai precisar da receita para pagar dívidas, e não para contratar jogadores.”
A prévia do texto final foi apresentada aos departamentos financeiros de todos os clubes por intermédio da Associação Brasileira de Executivos de Finanças do Futebol (ABEFF). A entidade criada em 2018 tem como representantes dirigentes de alguns clubes e realizou um ciclo de reuniões pelo Brasil para aprofundar as discussões.
O último encontro foi em Goiânia, na segunda-feira, na sede administrativa do Goiás. Os 20 times da Série A enviaram representantes. A próxima reunião da associação está marcada para o mês de maio, em Salvador. O Bahia é quem vai recepcionar o grupo de dirigentes.
O primeiro rascunho do modelo de fair-play financeiro foi feito em agosto do ano passado. Na ocasião a CBF divulgou no site oficial que a reunião na sede da entidade contou com a presença de diretores financeiros de Inter, Flamengo, Palmeiras e São Paulo e de economistas de consultorias com atuação no mercado. Por parte da CBF participaram o Diretor de Registro, Transferência e Licenciamento, Reynaldo Buzzoni, e o Gerente de Licenciamento da CBF, Ênio Gualberto.
Retirado de: Estadão