O Flamengo conta com dois pareceres jurídicos que indicam que as atividades profissionais no Ninho do Urubu poderiam ser retomadas, ainda que com as devidas restrições em meio à pandemia do novo coronavírus.
De acordo com as análises obtidas pelo clube o decreto do governador Wilson Witzel que proíbe, entre outros, o funcionamento de academias, centros de ginástica e estabelecimentos similares não impediria a utilização do CT.
Isto porque não consta no decreto de Witzel, estendido até 31 de maio após publicação no Diário Oficial nesta segunda-feira, ou em outra determinação a vedação legal a treinos que mantenham a distância de 1,5 metro entre os participantes.
O entendimento da cúpula é de que há possibilidade de retomar as atividades no CT com os protocolos de segurança. A questão é debatida há dias dentro do clube.
Na visão rubro-negra, amparada pelos pareceres, o Ninho do Urubu não pode ser classificado como academia ou centro de ginástica, tal qual explicitamente citados no decreto, por não ser um estabelecimento aberto ao público mediante o pagamento de uma mensalidade.
O Governo do estado entende que o termo “estabelecimentos similares” do decreto engloba os centros de treinamentos de clubes de futebol e, portanto, justifica o veto.
A interpretação dúbia é um dos pontos que mais levanta discussão na diretoria rubro-negra. Há quem acredite haver brecha legal, principalmente depois das consultas e dos pareceres jurídicos, para voltar às atividades.
No departamento de futebol, entre funcionários e atletas, há maior receio quanto a um retorno no meio de panorama crescente da doença no Rio de Janeiro, principalmente depois dos 38 casos de positivo de covid-19 entre 293 testes divulgados na última semana.
Um possível desgaste da imagem do clube, com o retorno em meio à pandemia em franca explosão, também é calculado com devido cuidado na decisão. Não só perante a opinião pública, mas pela possibilidade de a discussão parar no campo jurídico, ainda que existam pareceres favoráveis. Por outro lado, há quem defenda o regresso para tornar o Flamengo um modelo para a retomada do futebol no país.
O debate é intenso e conta com a participação de vários setores e também do técnico Jorge Jesus, grande interessado em saber das possibilidades de retorno com segurança. Nesta segunda-feira, o decreto 10.344 do presidente Jair Bolsonaro classificou como atividades essenciais, entre outros, “academias de esporte de todas as modalidades, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde”.
O porém é que em abril o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou que governos estaduais e municipais têm autonomia nas decisões sobre isolamento social mesmo com determinações divergentes na esfera federal. Há, portanto, jurisprudência no assunto.
O Flamengo segue a semana como a iniciou, ainda sem definição após reunião na segunda-feira sobre datas, nunca estipuladas, de novos exames que serão feitos pouco antes da retomada nos treinamentos.
A certeza é de que o protocolo de segurança está pronto, com medidas de restrição como academia e restaurante fechados e treinamentos realizados em quatro dos cinco campos do CT. Serão duas academias ao ar livre. Uma no campo 1, que atenderá os atletas dos campos 1 e 2, e outra no campo 5, destinada aos atletas dos campos 4 e 5. O campo 3 ainda não passou por reforma e, por isso, não será utilizado em um primeiro momento. Os atletas da base não estarão no Ninho.
A ideia é voltar aos treinos no Ninho do Urubu com 80% da frequência diária reduzida, de cerca de 600 pessoas para aproximadamente cem. Quando essa realidade irá acontecer é a questão de um Flamengo com a cabeça no retorno, amparado por pareceres, mas cuidadoso ao caminhar sobre uma fina camada de gelo durante a pandemia.
Retirado de: ESPN