Em maio de 1995, há 25 anos, o Flamengo acertava mais uma contratação de peso para o ano de seu centenário: Edmundo, que formaria com Romário e Sávio o “Melhor ataque do mundo”, como foi apelidado na época. Ele havia feito sucesso no Palmeiras, chegou com uma expectativa enorme, mas os resultados ruins do time na temporada e os problemas fora de campo minaram sua curta trajetória na Gávea.
— Que eu, Romário e Sávio possamos formar o melhor ataque do mundo – disse Edmundo na sua chegada ao clube.
O Flamengo comprou Edmundo por 5 milhões de dólares, divididos em três parcelas. Ao jogador, o clube pagou 750 mil dólares e assinou contrato até dezembro de 96. A recepção ao Animal no Rio foi com muita festa. O prefeito César Maia recebeu o atacante no aeroporto com a chave da cidade, e um carro dos bombeiros o levou até a Gávea.
Na sede do clube, Edmundo beijou a camisa e cantou músicas da torcida. De lá, seguiu para a Barra da Tijuca para um descontraído encontro com Romário, que se recuperava de uma cirurgia no joelho.
— Foi a maior emoção da minha vida. Tenho a obrigação de dar o sangue pelo Flamengo. É o mínimo que posso fazer por essa torcida – disse Edmundo em entrevista ao lado do Baixinho.
No encontro, os dois atacantes protagonizaram uma cena que ficou marcada. Lado a lado, cantaram o “Rap dos Bad Boys”
— Edmundo sem confusão não é Edmundo. As confusões vão continuar, só que em menor intensidade – disse o Baixinho.
O Animal só estreou com a camisa rubro-negra em julho, em um amistoso contra o Guarani, em Cuiabá, que terminou empatado por 1 a 1. Foi dele o gol, após tabela com Romário. Um bom cartão de visitas, mas o sucesso imaginado pela torcida do Flamengo não aconteceu.
Estreia oficial é em São Januário, com gol
Na estreia oficial, contra o Bragantino, pelo Brasileiro de 95, Edmundo também deixou sua marca, novamente com assistência de Romário, e o Flamengo venceu por 2 a 1. O curioso é que o jogo foi disputado em São Januário, casa do Vasco, clube que o revelou e do qual ele se tornaria ídolo posteriormente.
Com um elenco desequilibrado, falta de sintonia dentro e fora de campo, excesso de vaidades, estrutura deficiente e a passagem de três treinadores no ano – Luxemburgo, Edinho e o radialista Washington Rodrigues -, o Flamengo não decolou no Brasileiro. Acumulou resultados ruins e só se salvou do rebaixamento na reta final da competição – 21º lugar, com 24 clubes participantes.
Edmundo participou de 14 partidas no Brasileiro. Sua despedida foi no empate por 0 a 0 com o Internacional, em Porto Alegre. Em uma disputa com o zagueiro Gamarra, o atacante fraturou um osso do pé esquerdo e ficou fora do restante da temporada.
As polêmicas de Edmundo no Flamengo
Quem não se lembra da briga entre Edmundo e Zandoná? Na Supercopa dos Campeões de 95, o Flamengo eliminou o Vélez Sarsfield na primeira fase com duas vitórias. Nos minutos finais do 3 a 0 no Parque do Sabiá, em Uberlândia, o jogador argentino deixou o braço no rosto de Edmundo após uma tentativa de drible, e na sequência do lance o atacante lhe deu um tapa no rosto. Zandoná, então, deu um soco que derrubou o Animal.
Virou uma briga generalizada. Romário foi o primeiro a chegar e deu uma voadora em Zandoná. O Flamengo avançou na competição, mas a participação de Edmundo terminava ali. O atacante levou dois jogos de suspensão, assim como Romário, mas não conseguiu participar da semifinal, contra o Cruzeiro, e da final, contra o Independiente-ARG, por causa da fratura no pé esquerdo.
Em sua maior chance de conquistar um título expressivo no ano do centenário, o Flamengo acabou perdendo a decisão para os argentinos. Derrota por 2 a 0 em Buenos Aires e vitória por 1 a 0 no Maracanã.
Outro capítulo polêmico da passagem de Edmundo pelo Flamengo foi o clássico com o Vasco, seu penúltimo jogo com a camisa rubro-negra. Muito vaiado pela torcida adversária, o atacante devolveu com gestos obscenos. O placar terminou 1 a 1. Djair fez, de falta, o gol do Flamengo.
Envolvimento em acidente
Na madrugada do dia 2 de dezembro de 1995, Edmundo se envolveu em um acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas, depois de sair de uma festa. O atacante, três anos depois, foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão, em regime semiaberto, pelo homicídio culposo de três pessoas e lesões corporais, também culposas, em outras três vítimas do acidente.
O jogador chegou a ser preso duas vezes, mas conseguiu habeas corpus. Em setembro de 2011, o Supremo Tribunal Federal declarou ‘extinta a punibilidade’ de Edmundo porque o crime havia prescrito.
Em 1995, além dos resultados ruins do time e do alto salário, o acidente contribuiu para encerrar a passagem de Edmundo pelo Flamengo. O Corinthians, que disputaria a Libertadores de 96, surgiu como boa opção, e pagou 1 milhão de dólares pelo empréstimo de um ano, além de ceder o atacante Marques ao Fla.
Era o fim da curta passagem de Edmundo pela Gávea. Ao todo, foram 23 jogos e nove gols (incluindo amistosos). Depois do Corinthians, o atacante foi viver o auge de sua carreira no Vasco e ficou conhecido por ser um carrasco do Flamengo.
Retirado de: Globo Esporte