“Vamos respeitar muito o trabalho feito pelos jogadores e mudar pouco a pouco. Não vamos ser como um elefante entrando em um quarto pequeno”. O discurso da primeira entrevista coletiva não foi colocado em prática, e Domènec Torrent viu o elefante implodir na derrota por 3 a 0 para o Atlético-GO o futebol que o torcedor se acostumou a ver no Flamengo.
A vitória do time recém-promovido à Série A sobre o melhor campeão da história dos pontos corridos não foi obra do acaso. O Atlético-GO atropelou o Flamengo desde o primeiro minuto e não é exagero dizer que o placar ficou barato. Para justificar a escolha por Gustavo Henrique e Vitinho nos lugares de Rafinha e Arrascaeta, Dome disse que não mudou tanto no esquema tático de Jorge Jesus. Falou em 4-3-3, 4-2-3-1 e outros números, mas esqueceu de contar a quantidade de jogadores que mudou de posição.
Rodrigo Caio na lateral direita, Vitinho e Bruno Henrique abertos nas pontas com um Gabigol isolado no meio, Everton Ribeiro centralizado e a dupla Arão e Gerson sem a sincronia habitual. Os primeiros 45 minutos da noite de quarta-feira no estádio Olímpico de Goiânia foram um desastre total. O Atlético-GO sequer fez muita força para finalizar oito vezes, marcar três gols (um anulado pelo VAR) e praticamente sequer sofrer sustos contra um Flamengo que corria e marcava errado.
Não demorou muito para Vagner Mancini perceber o latifúndio no lado direito da defesa carioca e forçar o jogo por ali. Aos 30 minutos, o 2 a 0 no placar representavam menos de 50% de eficiência nas oportunidades criadas pelo Dragão diante de um Rodrigo Caio exposto e extenuado na tentativa de resolver os problemas defensivos. Por mais que seja quem mais apareça nos lance mais perigosos, ele esteve longe de ser o zagueiro a ter a pior atuação.
Fora de posição, Rodrigo corria de um lado para o outro não somente para defender como lateral, mas também para fechar buracos de Gustavo Henrique e Léo Pereira, que se aproximam de setembro longe de curar a saudade do torcedor por Pablo Marí.
Ofensivamente, o Flamengo envolvente e móvel não existiu. Ribeiro, Vitinho, Bruno Henrique e Gabriel lotearam pedaços de campo e pareciam precisar de um telefone celular para se comunicar tamanho distanciamento. Enfim, 45 minutos desastrosos do Flamengo.
A troca de posicionamento da reta final do primeiro tempo surtiu efeito com a mudança de peças na volta do intervalo. Rafinha e Pedro substituíram Gustavo Henrique e Vitinho, e o Flamengo se aproximou de sua “realidade” recente. Com posse de bola e presença no campo ofensivo, criou oportunidades, mas Gabigol não vivia boa noite e acumulou pela primeira vez no clube o sexto jogo sem ir às redes.
A melhora significava também uma maior exposição defensiva (se é que era possível após o péssimo primeiro tempo). E o Atlético-GO passou a jogar com inteligência. Até que Gustavo Ferrareis gingou na frente de Rodrigo Caio e acertou o ângulo de Diego Alves para sepultar qualquer chance de reação.
Do “pouco a pouco” até as muitas mudanças de peças e, principalmente, de posicionamento, o Flamengo precisou de apenas duas partidas para viver com Domènec uma realidade que não estava acostumado. A última vez que o time perdeu duas partidas consecutivas foi em setembro de 2018, para Ceará, no Maracanã, e Inter, no Beira-Rio.
Retirado de: Globo Esporte