Uma nova recomendação para o uso do VAR passou a valer em 1º de junho no livro de regras do futebol 2020/2021 com a intenção de clarear que é o árbitro de campo quem decide se um lance terá ou não marcação alterada.
Levantamento de consultoria que auxilia a Fifa com jogadores e fãs de alguns países mostrou que muitos entendiam que era o árbitro de vídeo quem dava a palavra final para jogadas revisadas, o que de fato não deve acontecer.
A orientação, agora, é que o árbitro use com mais frequência a ARA, a área de revisão onde fica o monitor dentro de campo. Desde a implementação do árbitro de vídeo, em 2016, se recomendava que o juiz principal só fosse ao monitor em casos subjetivos, como se houve ou não toque de mão, faltas que originam pênaltis e participação ativa de um atleta em lances de impedimento.
Isso ainda vale, mas agora o texto mudou e incentiva o árbitro a ir ver o lance mesmo em casos factuais, como impedimentos e se a bola entrou ou não no gol. Diz o parágrafo revisado: “pode-se fazer uma revisão no campo de jogo para uma decisão factual, caso isso ajude o árbitro a gerenciar os jogadores/a partida ou para ‘vender’ a decisão (ex: uma decisão vital capaz de decidir o rumo do jogo perto do final da partida)”.
O texto da regra que define o VAR, inclusive, teve sua ordem alterada: primeiro agora aparece que o árbitro, após fazer o gesto de TV que indica o uso da tecnologia, pode realizar a revisão na ARA antes de tomar uma decisão final. Só na sequência vem que o árbitro pode tomar uma decisão baseado apenas na percepção e informação dos profissionais que estão na sala do VAR.
O final de semana que passou foi mais um cheio de polêmicas no uso do árbitro de vídeo no Brasileirão. No sábado (29), o Botafogo teve dois gols anulados na derrota de 2 a 0 para o Inter: um por impedimento, em lance objetivo que não teve a presença do árbitro Thiago Duarte na beira do gramado e outro subjetivo, em que o juiz foi ao monitor e notou falta no meio do campo antes de o gol ocorrer. Ao fim do jogo o goleiro botafoguense Gatito chutou o monitor da beira do gramado e deve receber punição do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) por isso.
Foi parecido com o que aconteceu no domingo (30), na Vila Belmiro. Em poucos minutos, o Santos teve dois gols anulados na derrota de 1 a 0 para o Flamengo que levaram mais de dez minutos para serem revisados, tempo considerado excessivo pela Fifa. No primeiro, um impedimento objetivo, o árbitro de campo Wilton Pereira Sampaio, considerado por CBF e Fifa um dos especialistas da tecnologia no Brasil (esteve na função na Copa-2018, na Rússia) optou por esperar a percepção dos profissionais do VAR, que viram Raniel adiantado ao marcar.
No segundo, Sampaio foi até o monitor observar se houve interferência de Jobson, impedido, que não tocou na bola que entrou direto em falta cobrada por Marinho. Ele entendeu que sim, mas demorou seis minutos para decidir.
Sampaio seguiu a regra, mas se quisesse, por exemplo, poderia ter ido também no primeiro lance ao monitor. A Fifa e a International Board, o órgão que faz as regras do futebol, entendem que tem que ficar claro ao público que é o árbitro de campo quem toma a decisão final, e não o de vídeo.
A alteração que tenta clarear que é no campo, e não na sala de vídeo, que se decide um lance também tenta agilizar as revisões fazendo o árbitro ir mais rapidamente à beira de campo assistir ao lance. Foi o que não aconteceu no Santos x Flamengo, já que Sampaio optou, no primeiro lance, a esperar a percepção do VAR, que demorou para posicionar as linhas horizontais e verticais que tentam identificar o impedimento.
Retirado de: Marcel Rizzo/UOL