Insanidade da maratona do Flamengo distorce avaliação sobre Domènec

Jordi Guerrero e Domenec durante treinamento do Flamengo (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

Era volta de intervalo do Flamengo e Red Bull Bragantino quando foi noticiado que o técnico Domènec havia tirado o atacante Pedro para entrada de Vitinho. O que se seguiu foi uma série de protestos de torcedores e críticas de jornalistas pela substituição. O empate diante do time paulista ia para conta do treinador que “optou pela saída do artilheiro”.

Ignorava-se a realidade: Pedro jogara um jogo inteiro no sábado, outro na terça (com acréscimos até 51min) e voltava a campo na quinta-feira. Os testes feitos pelo Flamengo (bioquímicos e termográficos) indicavam que corria sério risco de uma contusão muscular. O mesmo valia para Gerson e Bruno Henrique que estavam desgastados e entraram no final.

Ora, em condições assim, não se pode julgar a decisão de técnicos sem levar em conta as limitações físicas atestadas pela ciência. Não estamos mais na era do futebol romântico e sem método em que se corria menos, se entendia menos sobre o físico dos atleta. Era tudo feito na base da experimentação e valiam máximas como “deixa ele lá correndo pouco”.

A atuação do Flamengo diante do Red Bull foi fraca, diga-se. Mas como cobrar um desempenho intenso, como pede o futebol moderno, de um time que ia para seu quarto jogo em oito dias? Nestas quatro partidas, o time teve três vitórias e um empate.

A maratona imposta pela CBF foi motivada pelo adiamento de um jogo por conta da Libertadores e pode se repetir com outros clubes. A pandemia piorou um cenário de calendário apertado. Pior, a Conmebol, CBF e a Fifa colocaram seus jogos de seleção no meio do Brasileiro desfalcando ainda mais os times.

Além de Pedro, Everton e Isla jogaram na terça-feira pela seleção, e na quinta pelo Flamengo. Por conta da série de jogos, o Flamengo já não tem três dos seus quatro principais jogadores de ataque, todos contundidos, com exceção de Bruno Henrique.

No Palmeiras, Weverton apareceu no gol do time brasileiro em um dia no Lima, e no dia seguinte pelo Palmeiras, em São Paulo. Fora isso, o Atlético-MG não sentiu o desgaste, mas sofreu com desfalques como Allan Franco e Junior Alonso que serviram seleções. Óbvio que a qualidade do Brasileiro foi afetada por essas ausências, o Galo perdeu cinco em nove pontos no período das datas-Fifa.

Em um cenário assim, fica meio complicado a análise fria do trabalho tático de Domènec ou de suas escolhas estratégicas. O Flamengo, na média, tem evoluído em seu jogo coletivo dentro da ideia que o treinador pretende. Mesmo com essa maratona, reduziu a diferença para a liderança e fez 10 pontos em quatro jogos. Mas cobrar futebol brilhante como o de 2019, em meio a circunstâncias atípicas, não faz o mínimo sentido lógico.

Retirado de: Rodrigo Mattos/UOL