A saída de Domènec Torrent do Flamengo escancara o clima quente entre dirigentes do clube carioca. Os principais nomes não falam a mesma língua há tempos e travam uma guerra que não é mais velada. Tal racha atrapalhou até mesmo a renovação do goleiro Diego Alves recentemente.
Responsável pelo futebol desde o ano passado, o vice-presidente Marcos Braz é quem comanda a pasta dentro do clube. Fortalecido com os títulos de 2019, o cartola ganhou a queda de braço interna ao escolher o catalão como substituto de Jorge Jesus. Vice de relações externas e peça-chave na chapa que elegeu Rodolfo Landim presidente, Luiz Eduardo Baptista, o BAP, queria Miguel Ángel Ramírez, do Independiente Del Valle-EQU. E nas últimas semanas, o processo de fritura do vice de futebol foi potencializado.
Na demissão do próprio treinador, Braz, mesmo com a pressão da torcida, queria a manutenção do comandante, mas acabou convencido pelo mandatário rubro-negro de que a troca seria o melhor no atual cenário. Na última semana, viu outra escolha pessoal, até o momento, não ser atendida: a renovação de Diego Alves.
Muito próximo ao goleiro, o cartola queria a permanência do camisa 1. Líder da equipe, Diego Alves, na visão de Braz, não ajudaria somente na questão técnica, mas na gestão do grupo, carente com as saídas de Jorge Jesus e Rafinha. Só que BAP fez a renovação subir no telhado.
Nas conversas do conselho gestor do Flamengo, o impedimento maior era a questão financeira. Diego Alves quer um contrato de dois anos e um aumento salarial. Braz e Bruno Spindel – este último diretor-executivo de futebol -, que caminham juntos nas contratações, aceitaram a contraproposta do arqueiro e levaram para o órgão do clube o acordo fechado. No entanto, BAP, que tem força nas discussões, vetou. O gasto acima do necessário para um goleiro de 35 anos e o surgimento promissor de Hugo Souza deram respaldo nas conversas para a negativa. A novela ainda não se encerrou.
Nos corredores, Braz sabe que a negativa para o novo contrato de Diego Alves faz parte do processo de fritura que sofre. Além de Braz, BAP tenta atacar o goleiro ainda por conta da polêmica com Lincoln. Neste ano, BAP disparou críticas ao jovem atacante quando disse que “Reinier ou Pedro não perderiam o gol que Lincoln perdeu contra o Liverpool”. Internamente, Diego Alves foi um dos mais furiosos com o cartola após a declaração e, como líder do grupo, defendeu o atacante.
Braz também sofre por conta da candidatura para o cargo de vereador no Rio de Janeiro. Ela não agrada a BAP e outros dirigentes. Mesmo assim, o vice de futebol, antecipando um atrito, já garantiu nas redes sociais que, mesmo se for eleito, continuará no Flamengo, tirando de si qualquer chance de desligamento.
As várias disputas Braz x BAP
Braz e BAP já acumularam alguns atritos desde o início da gestão Landim. Os dois primeiros foram juntos: a permanência de Diego Alves e a chegada de Abel. Com o goleiro, brigado com a antiga gestão, a necessidade era aparar as arestas. Enquanto uma ala da direção gostaria de investir em Tiago Volpi, Braz viu que o clube tinha um goleiro em casa. E ganhou a queda de braço. No entanto, paralelamente, Braz não teve força e viu a contratação de Abel Braga acontecer sem o seu agrado.
O terceiro round foi marcado pela contratação de Filipe Luís. BAP e outros cartolas preferiam a contratação de Guilherme Arana, atualmente no Atlético-MG, por conta da idade avançada do atual lateral-esquerdo rubro-negro. No entanto, o vice de futebol deixou claro nos corredores que não perderia essa disputa. E chegou a dizer aos mais próximos: “Se ele (BAP) não quer o Filipe Luís, o lateral será o Filipe Luís.” Depois de uma longa negociação, convenceu Filipe a trocar os anos vividos na Europa para vestir a camisa do clube do coração.
Com a chegada de Jorge Jesus e dos reforços vindos da Europa, o Flamengo emplacou. Mesmo com os títulos, Braz perdeu uma queda de braço que lamenta desde então: a saída do antigo gerente de futebol Paulo Pelaipe. O experiente cartola era um dos principais amigos de Jorge Jesus e controlava muito bem o grupo com Braz. O cargo segue vago desde a saída do dirigente no fim do ano passado.
A escolha do novo treinador não deve render outro round de Braz com BAP. Dentro do clube, o nome de Rogério Ceni cai bem com todas as alas. O trabalho do treinador do Fortaleza, dono da melhor defesa do Brasileirão até aqui, faz o conselho gestor dentro acreditar que o ex-goleiro do São Paulo seja a solução para os problemas defensivos do time carioca.
Retirado de: ESPN