O lateral-direito Rafinha chegou nesta segunda-feira ao Rio e vai se reunir nos próximos dias com o Flamengo, clube ao qual deu prioridade após rescindir com o Olympiakos, da Grécia. Mas o jogador, multicampeão em 2019 e 2020, precisará se adequar a uma nova realidade. A ordem na Gávea e no Ninho do Urubu é vender jogadores, sobretudo diante do temor pela ausência de público no Maracanã em todo 2021. Tudo para reequilibrar os cofres do clube após anos de investimentos que resultaram nos títulos recentes, mas também em um elenco inflacionado.
A questão é que os valores investidos entre 2017 e 2020 vieram, sobretudo, das negociações de Vinicius Júnior, Lucas Paquetá e Reinier. Sem um grande jovem no momento para render uma negociação de 30 a 40 milhões de euros, há necessidade no Flamengo de um somatório de vendas. Pressionado pelo setor de finanças, o departamento de futebol tem como estratégia montar “pacotes” de atletas, e entregar uma receita de R$ 50 milhões por trimestre nos primeiros nove meses do ano, o que bateria a meta orçamentária, de R$ 142 milhões, com sobra.
Em outra frente, a previsão é investir apenas R$ 10 milhões em reforços, valor considerado pequeno, mas justificado por conta dos R$ 245 milhões que o Flamengo tem a pagar, de 2021 em diante, pelos jogadores que já contratou — R$ 96 milhões a partir de outubro, segundo os balanços financeiros. Vale lembrar que este ano o clube já investiu na compra do centroavante Pedro, cujas primeiras parcelas consumirão apenas em 2021 cerca de R$ 30 milhões. As demais, R$ 54 milhões nos próximos anos.
Por outro lado, havia R$ 125 milhões a receber este ano e nos próximos antes das negociações da janela de janeiro. Ou seja, é preciso que entre mais dinheiro. Até para a diretoria reavaliar se a meta for batida, se estica a corda por investimentos. Há, inclusive, um movimento paralelo para se enxugar despesas da Gávea e direcionar para o Ninho.
O departamento de futebol acredita que consegue alcançar o sucesso esportivo cumprindo mais uma vez o que é determinado pelo planejamento financeiro. Assim, será necessário manter-se vigilante nas oportunidades de mercado.
Até agora, houve duas vendas de atletas que não faziam parte do elenco do técnico Rogério Ceni: Lincoln, afastado desde dezembro, e Yuri César, emprestado ao Fortaleza. O valor líquido arrecadado foi de R$ 42 milhões, ou seja, faltam R$ 100 milhões. Isso sem contar o que a perda com a eventual falta de público pode acarretar na possível readequação orçamentária. A receita prevista era dos mesmos R$ 100 milhões. Fora os valores perdidos com a queda de sócios-torcedores e falta de patrocinadores. O reajuste de alguns contratos comerciais em 2021 vai ajudar na balança.
Diante de tudo isso, o foco da diretoria é manter os pés no chão e reforçar posições mais carentes, como a zaga. Bruno Viana, ex-Braga, desembarcou junto com Rafinha para assinar por empréstimo com o Flamengo. A ideia é não gastar com custos de aquisição nem inflacionar setores em que se já te tem alternativas, como a lateral direita. Apesar de ter falhado contra o Bragantino, Isla tem bons números e se adaptou rápido. Desta forma, o clube vai apresentar a Rafinha um contrato até o fim do ano com salário bem menor do que ele recebia antes de ir embora. Se não aceitar, nada feito.
A postura é semelhante à adotada com Diego Alves. Apesar de apertar o goleiro na renovação, a diretoria sabia que não tinha um reserva experiente à altura, já que Hugo ainda se firmava na equipe principal. Resolvida a equação, o Flamengo vai aproveitar e negociar o goleiro César com o Atlético-GO. Outros jogadores sem espaço têm a saída preparada: João Lucas, Michael, Vitinho e Léo Pereira. Caso haja nova oferta por Everton Ribeiro, alvo do mundo árabe, será considerada.
Hoje, apenas Gerson, Bruno Henrique, Gabigol e Arrascaeta são vistos como inegociáveis. Para tirar o quarteto do Flamengo, o clube só aceita propostas acima dos 40 milhões de euros. A janela de transferências do meio do ano promete ser animada nesse sentido. Com um Flamengo muito mais vendedor do que comprador.
Retirado de: O Globo