Não foi apenas a questão da grana que impediu a volta de Rafinha ao Flamengo. Sem dúvida, o buraco gigantesco no orçamento, causado pela pandemia e pelo delírio dos dirigentes que acreditaram, entre outros absurdos, que ainda poderiam faturar mais de R$ 100 milhões com bilheteira em 2021, foi determinante – seria loucura fazer um investimento alto em um momento em que o futebol corre até o risco de ser paralisado novamente. A má vontade de parte da diretoria em relação à volta do lateral, entretanto, foi além disso. Bem além.
Desde que às vésperas da final do Mundial de Clubes, contra o Liverpool, Rafinha foi um dos líderes do grupo que se revoltou com a decisão da diretoria de cortar significativamente a premiação dos funcionários mais humildes do departamento de futebol, muitos dirigentes do grupo liderado por Luiz Eduardo Baptista, o Bap, passaram a olhá-lo enviesado. E a saída do jogador para o Olympiakos foi a gota d’água para que tal insatisfação se transformasse em antipatia declarada de certas pessoas do clube que são reconhecidamente vingativas.
Um detalhe importante: quando acertou sua vinda para o Flamengo, Rafinha exigiu uma bela quantia como luvas, referentes à totalidade do contrato que acabou rompendo para se transferir para o futebol grego. Quando saiu, não devolveu o que seria correspondente aos meses não cumpridos. Agora, ao discutir as bases para o seu retorno, voltou a pedir luvas, o que foi considerado pela turma do financeiro e por Bap e seus apaniguados um acinte.
Junte-se a tudo isso,o fato de que o jovem lateral-direito Matheusinho vem jogando bem no Carioquinha e mostrando evolução a cada jogo, não foi difícil para Rodrigo Tostes, vice de finanças, e Bap, de relações externas, fazerem prevalecer os seus pontos de vista (contrários à volta do lateral) sobre os de Marcos Braz e Bruno Spindel, que defendiam sua recontratação.
Não custa lembrar que, no ano passado, o goleiro Diego Alves (outro dos líderes que criticou o corte na premiação dos funcionários mais humildes) também acertou a renovação com Braz e Spindel, e a negociação emperrou por bom tempo por objeções feitas pela turma do financeiro e pelo grupo de Bap. Situação bem similar. Também vitaminada pelas boas atuações de um jogador da base, no caso, o goleiro Hugo Neneca. Mas a opinião de Rogério Ceni, que considerava o veterano arqueiro imprescindível, acabou sendo fundamental para que o acerto acontecesse.
Em relação à Rafinha, no fim das contas é compreensível que o Flamengo não queira comprometer ainda mais um orçamento já cheio de buracos. O que não entendo é como a turma do marketing, oficialmente dirigida por Gustavo Oliveira, apaniguado de Bap, é tão incompetente em gerar receitas (basta ver a camisa, praticamente sem patrocínios) e incapaz de entender que a briga com a Rede Globo por direitos de TV, neste momento, era uma roubada gigantesca. A Record nem sequer mostra todas as partidas, e a Fla-TV + é um fiasco de proporções assustadoras (o serviço é péssimo, e as vendas infinitamente inferiores ao esperado). Resultado? Apesar dos muitos títulos conquistados em campo, a arrecadação na área é pífia.
O maior problema rubro-negro, portanto, não é nem a não volta de Rafinha. Mas a incompetência generalizada da turma do marketing. Liderada não por Gustavo Oliveira, mas por Bap. Ah, se arrogância desse dinheiro… O Flamengo contrataria não somente Rafinha, mas quem saber até Lionel Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo!
Retirado de: UOL