O bicampeão patina no Brasileirão. E é disso que vamos falar nesta análise. Até porque, passou a ser redundante falar que o Flamengo de Rogério Ceni começa bem os jogos, domina, cria chances, não faz os gols, cai de produção no segundo tempo, as substituições não surtem efeito e a ‘sofrência’ vai até o fim. Virou rotina. Mas é bom ter em conta que o treinador é para-raios, não o único responsável.
A derrota por 1 a 0 para o Fluminense na tarde de domingo, em São Paulo, repetiu o roteiro citado acima que serve também para o revés contra o Bragantino ou as vitórias sofridas diante de Fortaleza e Cuiabá. O Flamengo não consegue ser consistente neste início de competição. Muito fruto de uma falta de leitura de jogo cada vez mais evidente de seu treinador, mas com boas doses também de deficiência técnica dos jogadores e passividade da diretoria.
Finalizações do Flamengo no BR
- Palmeiras – 12
- América-MG – 20
- Bragantino – 19
- Fortaleza – 19
- Juventude – 11
- Cuiabá – 12
- Fluminense – 21
Vamos combinar: se o Flamengo pressionou, teve posse de bola e criou mais chances de gols do que seus adversários em todos os sete jogos até aqui na competição, não dá para dizer que trata-se de um time mal treinador por completo. Certo? Contra o Fluminense, viveu essa realidade ao extremo, com 21 finalizações, o maior número neste Brasileirão.
Está no manual do analista de futebol que o “se” não entra em campo. Só que ignorar mais uma chance clara desperdiçada por Bruno Henrique seria negligenciar a avaliação de um time que insiste em brincar com a sorte. Nomes como BH e Pedro não assumiram o protagonismo que era esperado na ausência dos convocados e têm interferência direta nos resultados.
Seja por displicência ou preciosismo, o Flamengo que chama a atenção pelas chances criadas, chama também pelo tanto que desperdiça. É um time que comete erros técnicos infantis, seja de execução ou tomadas de decisão, e é aí que entra a parcela de responsabilidade dos jogadores.
Já a diretoria abusa da passividade em momentos onde tomar as rédeas é fundamental: seja para cobrar, seja para botar ordem na casa, seja repor peças no mercado. Não é de hoje que as declarações em “on” dos dirigentes são evasivas e em nada esclarecem o que acontece nos bastidores. E a ausência de Gabigol? E a indisciplina de Pedro? Tem ou não tem dinheiro para contratar? Tem que vender mais alguém?
O Flamengo é disparado o clube que mais sofreu com convocações neste início de Brasileirão e não houve preocupação com uma reposição a altura. Convocações de Isla, Arrascaeta e ao menos um dos homens de frente já eram esperadas, e Rogério Ceni bate constantemente na tecla de um elenco desequilibrado, principalmente com os desfalques.
Por fim, o treinador tem grande responsabilidade em tudo o que está acontecendo. Na linha de frente, Rogério demonstra uma mistura de resignação e pessimismo nos bastidores, na beira do campo e nas entrevistas. Não há registros de momentos em que tenha admitido uma tomada de decisão errada no comando da equipe e as lamentações pelos desfalques se tornaram repetitivas.
O que mais chama a atenção, porém, é a capacidade de desarrumar durante os 90 minutos o que parece ser capaz de arrumar no dia a dia de treinamentos. Se o Flamengo é dominante e perde gols por dois terços da maioria dos jogos, quase sempre vive um Deus nos acuda a partir das substituições.
Na derrota para o Fluminense, o contraste ficou evidente. Roger Machado apostou na correria com Lucca, Luiz Henrique e, por último, Kayky, além de colocar Nenê para ser o organizador no meio de campo. Deu fôlego ao time para tentar atacar diante de um Flamengo desgastado, e viu Rogério Ceni facilitar a missão.
Ao tirar João Gomes e Vitinho, o treinador se preocupou com os cartões e minimizou as características. O Flamengo perdeu o combate no campo de ataque do jovem volante e a capacidade de reter a bola perto da área do camisa 11. O jogo ficou aberto, e o Fluminense castigou no fim.
As patinadas do Flamengo vão além de Ceni. Jogadores e diretoria têm suas parcelas importantes de culpa e já foram relatadas acima. Mas quem mais repete vacilos é o treinador, que cada vez mais se vê como alvo. E não só do torcedor.
Retirado de: Globo Esporte