O debate sobre a Liga para organizar o Brasileiro envolve também o calendário do futebol nacional: uma competição por mais meses teria um valor maior. O obstáculo é a necessidade de reduzir os Estaduais, principalmente o Paulista que tem contratos de TV até 2025, para dar espaço à principal competição. E os acordos do Estadual de São Paulo impedem alteração no período do campeonato, embora clubes vejam chance de flexibilidade para mudanças. Detalhe: a CBF continua com o poder absoluto sobre o calendário.
Atualmente, o Brasileiro é realizado por sete meses da temporada, enquanto os Estaduais são jogador por três meses. Na Europa, as Ligas costumam ter nove ou dez meses, ocupando praticamente a temporada inteira. São jogadas no final de semana e proporcionam mais tempo de exposição a TVs e patrocinadores parceiros.
Para mudar a realidade atual, é preciso alterar o calendário e reduzir ou modificar o período dos Estaduais. Ao fazer um acordo para apoiar a Liga, na segunda-feira, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, deixou claro que a CBF continuará a ter a prerrogativa de fazer o calendário e ele tem sido bem solícito com reivindicações de federações.
Principal campeonato do país, o Paulista tem contrato de direitos de televisão até 2025. O período vai além dos atuais acordos dos clubes do Brasileiro, que acabam em 2024. Ou seja, a venda de direitos de uma futura Liga para 2025 pode ficar limitada com a competição com sete meses. Isso reduz seu valor.
Quem teve acesso ao acordo do Paulista diz que há uma previsão de um período exclusivo para realizar do Paulista dentro dos contratos com parceiros de direitos, YouTube, Record, Globo e HBO Max. Assim, nos moldes acertados, não é possível estender a Série A além dos sete meses atuais. Uma eventual mudança poderia levar a uma rescisão dos acordos. Esses acordos foram firmados pela Federação Paulista de Futebol (FPF).
Dirigentes de dois clubes entendem que haveria a possibilidade de uma flexibilidade para alterar o período do campeonato. Ou seja, as 16 datas atuais seriam mantidas, mas o Estadual se estenderia de forma simultânea ao Brasileiro. Mas isso só seria possível com conversa com a FPF sobre uma renegociação.
Mas, para isso, os clubes de São Paulo teriam de estar convencidos de que essa é a melhor solução para eles. Dos dois dirigentes de clubes ouvidos, um deles entende que é importante preservar o ambiente do futebol paulista, que fomenta outros clubes além dos cinco da Série A. E lembra como o Paulista tem bom contrato. Ao mesmo tempo, executivo de outro time ressalta que a maioria dos times do Estado já têm outros calendários, com campeonatos da Série A, B, C e D. Portanto, uma redução do Estadual não seria tão nociva.
Questionado sobre a possibilidade de abrir mão de datas, o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, deixou claro que não quer mudança no Paulista no momento, embora seja favorável à realização da Liga.
“Hoje, essa possibilidade não tem. O futebol de SP tem um campeonato muito rentável, que gera uma grande receita para os clubes. Mas sempre estamos dispostos ao diálogo. Novos tempos. Futebol não se faz sozinho. Futebol só muda se clube quiser”, disse ele, após a assembleia da CBF, na segunda-feira.
Retirado de: UOL